No Espiritismo, a emancipação da alma refere-se a um estado particular em que o Espírito, mesmo estando encarnado, se desprende parcialmente dos seus laços materiais, recuperando algumas de suas faculdades e entrando mais facilmente em comunicação com o mundo espiritual. Não se trata de uma separação definitiva do corpo, mas de um afrouxamento temporário dos elos que prendem o Espírito à matéria.
Essa emancipação permite que o Espírito perceba o mundo de uma forma mais ampla, sem as limitações dos sentidos físicos. É um vislumbre da vida espiritual que nos aguarda após a morte do corpo. Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, explora esses fenômenos em detalhes.
Vamos entender os diferentes estados de emancipação da alma, destacando o êxtase:
1. Sono e Sonhos
Durante o sono, o Espírito jamais está inativo. Os laços que o unem ao corpo se afrouxam, e ele se lança no espaço, entrando em relação mais direta com outros Espíritos. Os sonhos são, em grande parte, a lembrança do que o Espírito viu e vivenciou nesse estado de semi-liberdade.
A qualidade dos sonhos reflete o grau de adiantamento do Espírito:
- Espíritos mais adiantados: Durante o sono, podem se encontrar com Espíritos superiores, conversar, instruir-se e até mesmo trabalhar em obras no plano espiritual. Seus sonhos são geralmente agradáveis e instrutivos.
- Espíritos menos adiantados: Podem ir a mundos inferiores ou buscar gozos mais materiais. Seus sonhos tendem a ser confusos, pesados e, por vezes, angustiantes (pesadelos).
2. Sonambulismo
O sonambulismo é um estado de independência do Espírito mais completo do que no sonho. Nele, a alma tem percepções mais amplas e está em posse plena de si mesma, mesmo que o corpo físico esteja adormecido ou em estado de catalepsia. O sonâmbulo pode se movimentar, falar e realizar ações complexas, muitas vezes sem se lembrar delas ao acordar.
Nesse estado, o Espírito utiliza o corpo como um instrumento para suas ações no plano físico, mas sua consciência e percepções estão mais voltadas para o plano espiritual. A clarividência sonambúlica é um fenômeno comum, onde o sonâmbulo “vê” com os olhos da alma, tendo acesso a informações que os sentidos físicos não poderiam captar.
3. Êxtase
O êxtase é considerado um sonambulismo mais apurado, o estado de maior libertação do Espírito. No êxtase, a alma do extático é ainda mais independente do corpo. O aniquilamento do corpo físico é quase completo, restando apenas a vida orgânica. O Espírito se sente preso ao corpo por um “fio” tênue, e um pequeno esforço a mais poderia romper essa ligação definitivamente, causando a morte física.
Nesse estado, todos os pensamentos e preocupações terrenos desaparecem, cedendo lugar a sentimentos apurados e à essência do ser imaterial. O Espírito do extático tem a capacidade de penetrar e vislumbrar os mundos superiores, percebendo a felicidade dos que lá habitam. Por isso, muitas vezes, o extático expressa o desejo de não retornar ao corpo, ansiando por permanecer nesse estado de plenitude.
É importante ressaltar que, mesmo no êxtase, o Espírito ainda pode estar sob a influência de suas ideias e preconceitos terrenos, o que pode levar a interpretações e expressões que se misturam com as crenças e o linguajar do extático.
4. Dupla Vista (ou Segunda Vista)
A dupla vista é um efeito da emancipação da alma que se manifesta mesmo no estado de vigília, ou seja, sem que o corpo esteja adormecido. É a visão da alma que se sobrepõe à visão corporal, permitindo que o indivíduo perceba o que está além do alcance dos sentidos físicos. É uma forma de clarividência espontânea, onde o Espírito, mesmo que parcialmente ligado ao corpo, expande suas faculdades perceptivas para o plano espiritual.
Conclusão
A emancipação da alma, em suas diversas manifestações, é um fenômeno fundamental na Doutrina Espírita, pois evidencia a imortalidade da alma e a existência do mundo espiritual. Através desses estados, a Doutrina Espírita nos mostra que o Espírito não está aprisionado ao corpo, mas sim temporariamente ligado a ele, e que a vida após a morte é uma continuação da jornada de aprendizado e evolução.
Entender esses fenômenos nos convida a refletir sobre a nossa própria natureza espiritual e a importância de cultivarmos o bem e o conhecimento, pois é a depuração do Espírito que nos permite acessar estados de emancipação mais elevados e, por consequência, uma maior compreensão da realidade espiritual.