A Visão Espírita da Consciência
A visão espírita da consciência é profundamente dualista e difere significativamente de muitas abordagens materialistas e fisicalistas da Filosofia da Mente. Para o Espiritismo, a consciência não é um produto do cérebro ou um epifenômeno da matéria; ela é, na verdade, um atributo fundamental e intrínseco do espírito.
O Espírito como Essência Consciente
No cerne da doutrina espírita, o espírito é a essência inteligente e individualizada do ser. Ele preexiste ao corpo físico e sobrevive à sua morte. A consciência é inerente a esse espírito, acompanhando-o em todas as suas fases evolutivas, tanto no plano encarnado (no corpo físico) quanto no plano desencarnado (sem o corpo físico).
Isso significa que, mesmo antes de nascer, o espírito já possui um grau de consciência, e essa consciência continua a existir e se expandir após a morte do corpo. O corpo é, portanto, um instrumento para a manifestação e a experiência do espírito no mundo material, mas não é a fonte da consciência.
A Relação Mente-Cérebro na Perspectiva Espírita
A Filosofia da Mente se debate com o “problema mente-corpo”: como o imaterial (mente) interage com o material (corpo/cérebro)? O Espiritismo oferece uma explicação para essa interação através do conceito de perispírito.
O perispírito é um corpo semimaterial, ou “corpo fluídico”, que serve de elo entre o espírito imaterial e o corpo físico material. Ele atua como um invólucro para o espírito e um veículo para suas manifestações. É através do perispírito que o espírito transmite suas vontades, pensamentos e sentimentos ao cérebro e ao corpo físico, e também por onde recebe as impressões do mundo material.
Nessa visão:
- O cérebro não gera a consciência, mas é o órgão que permite a sua expressão e interação com o mundo físico.
- A complexidade do cérebro humano permite uma maior capacidade de manifestação da consciência do espírito, mas a consciência em si não está confinada a ele.
- Quando o corpo físico morre, o espírito e o perispírito se separam dele, e a consciência continua a existir e a operar, embora em um estado diferente, sem as limitações impostas pela matéria densa.
Consciência e Evolução
A consciência, na visão espírita, não é estática; ela é evolutiva. Os espíritos progridem intelectual e moralmente através de múltiplas encarnações. Com essa progressão, a consciência se torna mais ampla, mais clara e mais complexa.
- Consciência Individual: Cada espírito possui sua própria consciência individual, com suas memórias, experiências e aprendizados.
- Consciência Moral: À medida que o espírito evolui, ele desenvolve uma maior consciência moral, distinguindo o bem do mal e aprimorando seu senso de justiça e amor ao próximo. Essa consciência moral é vista como uma lei divina inscrita na alma.
- Consciência Cósmica/Universal: Em estágios muito avançados de evolução, alguns espíritos podem desenvolver uma consciência mais expandida, ligada à harmonia e às leis universais, aproximando-se da consciência divina.
Implicações da Visão Espírita da Consciência
Essa compreensão da consciência tem várias implicações:
- Imortalidade da Consciência: A consciência não se extingue com a morte física. Ela é contínua e persistente.
- Responsabilidade Moral: Se a consciência reside no espírito imortal, então a responsabilidade por pensamentos, sentimentos e ações recai sobre o espírito, que colhe os frutos de suas escolhas em vidas futuras (lei de causa e efeito).
- Memória Extracerebral: A memória, nessa visão, não é apenas um produto do cérebro. As lembranças das vidas passadas e das experiências no plano espiritual estariam latentes na consciência do espírito, podendo ser acessadas em certas condições (embora geralmente veladas durante a encarnação para fins de aprendizado).
- Fenômenos Mediúnicos: Fenômenos como a mediunidade são explicados pela capacidade do espírito encarnado de interagir e comunicar-se com espíritos desencarnados, evidenciando a persistência da consciência além do corpo físico.
Em suma, a visão espírita da consciência a coloca como a essência inteligente e imortal do ser, que se manifesta através do corpo físico, mas não é gerada por ele. É uma perspectiva que oferece um sentido de continuidade e propósito para a existência, com implicações profundas para a ética, a moral e a compreensão do destino humano.