O povo judeu, uma das civilizações mais antigas do mundo, tem uma história marcada por desafios, perseguições e uma resiliência notável. Paralelamente a esta jornada, o judaísmo desenvolveu um vasto corpo de conhecimento que abrange desde a lei e ética até a mística. Uma questão que frequentemente surge é a notável prosperidade de muitos membros desta comunidade. Este artigo desvenda as bases desse conhecimento – Torá, Talmud e Cabala – e explora princípios de prosperidade difundidos por educadores contemporâneos, bem como a fascinante história da família Rothschild.
Sumário
- Torá, Talmud e Cabala: A Tríade da Sabedoria Judaica
- 1.1. Torá: A Lei Escrita e a Base
- 1.2. Talmud: A Lei Oral e a Explicação
- 1.3. Cabala: A Dimensão Mística
- Os 5 Códigos para a Riqueza e Prosperidade Segundo o Talmud Babilônico (Academia de Moisés)
- 2.1. Código I: A Prosperidade Começa na Mente e na Alma
- 2.2. Código II: As Leis Espirituais da Riqueza (Generosidade e Fé)
- 2.3. Código III: A Engenharia Judaica da Riqueza (Excelência e Esforço)
- 2.4. Código IV: O Autodomínio e a Riqueza Emocional (Disciplina e Mentoria)
- 2.5. Código V: O Plano de Ação para uma Vida Próspera (Planejamento)
- Timeline Histórica: Povo Judeu, Holocausto e Dias Atuais
- 3.1. A Longa Jornada Antes da Era Moderna
- 3.2. A Shoá (Holocausto)
- 3.3. O Renascimento e os Dias Atuais
- 3.4. Por que a Riqueza Entre os Judeus?
- A Família Rothschild: Pioneiros Financeiros e a Conexão com a Prosperidade Judaica
- 4.1. História e Construção Patrimonial
- 4.2. Empréstimos a Países e Influência Global
- 4.3. O que Têm em Comum com a Prosperidade Judaica
1. Torá, Talmud e Cabala: A Tríade da Sabedoria Judaica
A literatura judaica que sustenta a cultura, lei e espiritualidade do povo é vasta. A base é composta por três pilares interligados: a Torá, o Talmud e a Cabala.
1.1. Torá: A Lei Escrita e a Base
A Torá (em hebraico, “instrução” ou “lei”) é a fundação do judaísmo. Refere-se especificamente aos cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica (o Pentateuco): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. É a Torá Escrita que, segundo a tradição, foi ditada por Deus a Moisés no Monte Sinai. Ela contém os 613 mandamentos (Mitzvot) que regem a vida judaica. No entanto, o texto da Torá é frequentemente conciso, estabelecendo os princípios e leis gerais, mas carecendo de detalhes práticos para sua aplicação cotidiana.
1.2. Talmud: A Lei Oral e a Explicação
O Talmud (“estudo” ou “aprendizado”) é uma vasta coleção de escritos que serve como “manual do proprietário” ou guia para a Torá Escrita. Ele surgiu da tradição da Torá Oral, que era a explicação e elucidação prática dos mandamentos transmitida de boca em boca por gerações de sábios.
- Mishná: A primeira compilação escrita da Torá Oral, concluída por volta do ano 200 EC, organizada em seis seções.
- Guemará: As discussões e comentários dos sábios (Amoraim) sobre a Mishná, desenvolvidas nas academias rabínicas.O Talmud consiste na combinação da Mishná e da Guemará. Existem dois: o Talmud de Jerusalém e o Talmud Babilônico (Bavli). O Babilônico é o mais extenso, completo e estudado, servindo como a principal fonte de Lei Judaica (Halachá). Ele não é apenas um código de leis, mas um registro de debates, histórias, ética e conselhos.
1.3. Cabala: A Dimensão Mística
A Cabala (“receber” ou “tradição recebida”) é a dimensão mística e esotérica do judaísmo. Ela busca desvendar os segredos ocultos da criação, a natureza de Deus (Ein Sof), e a relação entre o Infinito e o mundo material.
- Zohar: O principal texto da Cabala, atribuído ao Rabino Shimon Bar Yochai (século II), mas compilado e publicado no século XIII.
- Objetivo: O propósito central da Cabala é a perfeição do Ser, aprimorando o indivíduo para se tornar um recipiente mais receptivo (daí “aquilo que é recebido”) à luz e bênção Divina, alinhando a alma com o propósito da criação.
2. Os 5 Códigos para a Riqueza e Prosperidade Segundo o Talmud Babilônico (Academia de Moisés)
Muitos educadores, como o Rabino Rony da Academia de Moisés, estruturam os ensinamentos de prosperidade contidos no Talmud e em outras fontes judaicas em “Códigos” práticos. Embora o Talmud não apresente uma lista numerada exata de 5 códigos financeiros, ele difunde princípios que podem ser agrupados da seguinte forma:
2.1. Código I: A Prosperidade Começa na Mente e na Alma (Mentalidade de Abundância)
- Detalhe: O sucesso financeiro é primeiramente um estado de espírito e de crença. A mentalidade de Abundância (vs. Escassez) é a chave. Isso implica ver as bênçãos não como limitadas, mas como frutos do esforço e da aliança com a providência Divina. A prosperidade de Salomão, por exemplo, é vista como um resultado de sua sabedoria (o que ele realmente é), antes de sua riqueza (o que ele tem).
2.2. Código II: As Leis Espirituais da Riqueza (Generosidade e Fé)
- Detalhe: O princípio da Generosidade (Tsedacá) é fundamental. O Talmud ensina que a riqueza não é um fim em si, mas uma ferramenta, e que dar é uma forma de investir. A generosidade não é uma mera caridade, mas uma lei espiritual que atrai provisão e proteção. Além disso, o conceito de Hishtadlut (esforço correto) ensina a necessidade de um esforço humano ativo, mas com a consciência de que o sucesso final depende da bênção Divina (Brachá), equilibrando ação e fé.
2.3. Código III: A Engenharia Judaica da Riqueza (Excelência e Esforço)
- Detalhe: Este código foca na Excelência no Trabalho (Diligência) e na reputação. O Provérbio: “Viste um homem diligente na sua obra? Perante reis será posto; não será posto perante os de baixa sorte” (
) é central. A prosperidade é resultado de ser o melhor no que se faz, independentemente da humildade do trabalho. É também sobre a Honra ao Bom Nome (Reputação) e ter uma palavra (o cumprimento de promessas). Ter um bom nome limpo e ser confiável cria oportunidades de negócios e parcerias.
2.4. Código IV: O Autodomínio e a Riqueza Emocional (Disciplina e Mentoria)
- Detalhe: A Disciplina e a capacidade de ser repreendido/corrigido com humildade são vitais. Pessoas que são orgulhosas demais para aprender, crescer ou aceitar críticas estão fadadas à estagnação. Buscar Mentores (pessoas que já alcançaram sucesso na área desejada) e aceitar seus conselhos é uma forma de “encurtar o caminho” para a prosperidade, evitando erros já cometidos. O autodomínio emocional (controle do medo de errar, estresse, etc.) permite decisões financeiras mais sólidas.
2.5. Código V: O Plano de Ação para uma Vida Próspera (Planejamento)
- Detalhe: Riqueza não é acidental; é resultado de Planejamento Estratégico de longo prazo. O Talmud encoraja a visão de futuro e a paciência. Isso se manifesta em criar planos de 12 meses, gerenciar o tempo de forma eficaz (produtividade) e antecipar problemas financeiros (Prudência), em vez de apenas reagir a eles.
3. Timeline Histórica: Povo Judeu, Holocausto e Dias Atuais
A história judaica é longa e complexa, moldada por exílios, perseguições e uma forte identidade.
3.1. A Longa Jornada Antes da Era Moderna
- c. 1800 a.E.C.: Início com Abraão e o Pacto.
- c. 1300 a.E.C.: Êxodo do Egito e Recebimento da Torá no Monte Sinai.
- 1000 a.E.C.: Reino Unido de Israel, com capital em Jerusalém (Rei Davi).
- 70 E.C.: Destruição do Segundo Templo de Jerusalém pelos Romanos. Início do Exílio (Diáspora), dispersando o povo judeu por todo o mundo. Este período viu a consolidação do Talmud, crucial para a preservação da identidade.
3.2. A Shoá (Holocausto)
- 1933-1945: Período do regime Nazista na Alemanha.
- 1933: Início da perseguição, com boicotes e leis discriminatórias.
- 1938: Kristallnacht (Noite dos Cristais), um pogrom organizado contra os judeus na Alemanha e Áustria.
- 1941-1945: A “Solução Final” – genocídio sistemático. Aproximadamente seis milhões de judeus foram assassinados em campos de concentração e extermínio.
3.3. O Renascimento e os Dias Atuais
- 1948: Fundação do Estado de Israel, um refúgio e o primeiro estado judeu em quase dois milênios.
- Dias Atuais: A população judaica mundial é estimada em cerca de 15,3 milhões. Os dois maiores centros são Israel e os Estados Unidos. O povo judeu é notável em diversas áreas, incluindo ciência, artes e economia, mantendo sua forte identidade cultural e religiosa.
3.4. Por que a Riqueza Entre os Judeus?
O dado de que cerca de 11% dos milionários e bilionários do mundo são judeus (uma proporção desproporcional, já que representam apenas 0,2% da população mundial) não é fruto de um “segredo” místico, mas sim de fatores sócio-históricos e culturais:
- Ênfase na Educação: O estudo da Torá e do Talmud sempre foi central. A valorização da inteligência, do debate e do conhecimento secular impulsionou o sucesso em campos como ciência, direito e finanças.
- Exclusão Histórica: Na Europa medieval, os judeus eram frequentemente proibidos de possuir terras ou participar de guildas artesanais. Isso os forçou a se concentrar em comércio, usura (empréstimo de dinheiro a juros, proibido para cristãos), e bancos, áreas que se tornaram a base da acumulação de capital.
- Rede Global (Diáspora): Estar espalhado pelo mundo forçou a criação de uma forte rede global de confiança e comunicação, o que era uma enorme vantagem no comércio e nas finanças internacionais.
4. A Família Rothschild: Pioneiros Financeiros e a Conexão com a Prosperidade Judaica
A família Rothschild é o exemplo mais emblemático do sucesso financeiro judaico, sendo a dinastia bancária mais famosa da história.
4.1. História e Construção Patrimonial
- Fundador: Mayer Amschel Rothschild (1744-1812), um judeu que começou no gueto de Frankfurt, Alemanha, como comerciante de moedas e banqueiro da corte.
- Estratégia Patriarcal: A base do império foi estabelecida pela estratégia de Mayer Amschel de espalhar seus cinco filhos para estabelecer bancos em cinco grandes centros financeiros da Europa:
- Amschel Mayer (Frankfurt)
- Salomon Mayer (Viena)
- Nathan Mayer (Londres)
- Calmann Mayer (Nápoles)
- James Mayer (Paris)
- Poder Integrado: A coordenação entre os “Cinco de Frankfurt” lhes deu uma visão completa e uma capacidade de transferir capital rapidamente por toda a Europa, uma vantagem inédita na época. Eles investiram em áreas como seguros, ferrovias, mineração (Rio Tinto, De Beers) e petróleo.
4.2. Empréstimos a Países e Influência Global
- Financiamento de Guerras e Governos: Os Rothschilds se destacaram no financiamento de países inteiros. A fortuna de Nathan Rothschild em Londres, por exemplo, foi cimentada ao financiar o esforço de guerra britânico contra Napoleão.
- Empréstimos a Países: Eles se tornaram os principais financiadores de governos europeus no século XIX, ajudando a estabilizar a economia pós-guerras. Em 1875, financiaram o governo britânico para comprar a participação no Canal de Suez. O título nobiliárquico de Barão foi concedido a todos os cinco irmãos pelo Imperador Francisco I da Áustria em 1822.
4.3. O que Têm em Comum com a Prosperidade Judaica
A família Rothschild encarna os princípios do sucesso judaico:
- Rede de Confiança: Sua rede de irmãos em capitais europeias é a materialização da “rede global de confiança” que a Diáspora ajudou a criar.
- Foco em Finanças e Comércio: Devido às restrições históricas, eles dominaram os campos que estavam abertos aos judeus, transformando a exclusão em vantagem.
- Prudência e Visão de Longo Prazo: Eles mantiveram os negócios sob controle familiar por gerações (e ainda o fazem em parte), demonstrando a disciplina e a visão de longo prazo pregadas pelo Talmud. A família utilizou princípios de excelência, planejamento e reputação para construir uma riqueza que se tornou lenda.