Após discorrer sobre o papel de “O Cristo” como o Modelo e Guia que veio aperfeiçoar a Lei Mosaica, instituindo a Lei de Amor e Caridade, o Evangelho Segundo o Espiritismo (Capítulo I) naturalmente apresenta outro ponto de sua síntese: “O Espiritismo”.
Esta seção é crucial, pois define a Doutrina Espírita não como uma nova fé, mas como o complemento lógico e racional do Evangelho, oferecendo à humanidade o entendimento que lhe faltava para cumprir integralmente a Lei de Deus.
1. O Consolador Prometido: Ciência e Moral em Ação
Jesus, consciente de que Seus ensinamentos morais seriam incompreendidos, distorcidos ou insuficientes para a mente do futuro, fez uma solene promessa aos Seus discípulos:
“Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja convosco para sempre: O Espírito de Verdade… Ele vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.” (João, 14:16 e 14:26)
O Espiritismo se apresenta como o Consolador Prometido pelo Cristo, atuando em duas frentes complementares:
- Consolação Racional: Traz o conhecimento das Leis de Deus, desvendando o porquê da dor, da vida e da morte, combatendo o materialismo e o medo do futuro.
- Restauração da Lei: Explica, desenvolve e cumpre o Evangelho em sua totalidade, ratificando e esclarecendo os princípios morais de Jesus por meio da comunicação dos Espíritos Superiores.
2. O Espiritismo como Ciência Nova e a Chave de Compreensão do Cristo
O Espiritismo é a ciência nova que vem revolucionar a compreensão humana ao revelar a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações constantes com o mundo corpóreo.
É precisamente a estas relações entre os dois mundos que o Cristo aludiu em diversas circunstâncias. Por não ter a humanidade daquela época a compreensão da imortalidade e da comunicabilidade dos Espíritos, muito do que Ele disse permaneceu ininteligível ou foi falsamente interpretado ao longo dos séculos.
- Exemplo: As profecias de Jesus, Seus dons de cura e, sobretudo, a Sua ressurreição, deixam de ser meros milagres isolados para serem entendidos como manifestações das leis naturais do mundo espiritual, que o Espiritismo vem agora desvendar.
3. A Terceira Revelação: Uma Mensagem Coletiva e Universal
Para que o cumprimento da lei fosse integralmente compreendido na era da razão, a forma de revelação também precisou evoluir:
| Período | Revelação | Personificação | Natureza da Lei |
| Primeira | Antigo Testamento | Moisés | Justiça, Lei de Talião |
| Segunda | Novo Testamento | O Cristo | Amor e Caridade |
| Terceira | O Espiritismo | Nenhuma Individualidade | Conhecimento, Ciência e Moralidade |
3.1. Um Ser Coletivo em Ação
O Espiritismo é a terceira revelação da Lei de Deus, mas, diferentemente das duas primeiras, não tem a personificá-la nenhuma individualidade terrena.
- Ele é fruto do ensino dado por uma coletividade, pelos Espíritos Superiores, que são as vozes do Céu a se manifestarem em todos os pontos da Terra.
- Esta revelação massiva e universal é possível graças ao concurso de uma multidão inumerável de intermediários (médiuns), que garante a uniformidade e a concordância dos ensinamentos.
O Espiritismo é, metaforicamente, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual que trazem suas próprias luzes aos homens para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os espera.
4. O Espiritismo e a Continuidade da Lei Cristã
A relação entre o Espiritismo e o Evangelho de Jesus é de continuidade e execução. O Espiritismo assume a mesma postura de Jesus em relação à lei anterior:
| Autor da Lei | Afirmação | Significado |
| O Cristo | “Não vim destruir a lei, porém cumpri-la.” (A Lei Mosaica) | Aperfeiçoou a Justiça com a Lei do Amor. |
| O Espiritismo | “Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução.” | Explica, demonstra e convida à prática da Lei do Amor. |
O Espiritismo nada ensina em contrário do que ensinou o Cristo. Ele apenas desenvolve e ilumina a Doutrina Cristã, revelando o que era velado pela ignorância humana.
4.1. A Obra do Cristo
O Espiritismo é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme Ele próprio o anunciou, à grande regeneração que se opera no planeta. Ao trazer o conhecimento da vida futura e a certeza da Justiça Divina baseada na reencarnação, o Espiritismo prepara o Reino de Deus na Terra — um mundo de paz, justiça e caridade, através da reforma moral de seus habitantes.
5. Internalização e Mérito: A Reforma Íntima
O maior serviço do Espiritismo à humanidade é o convite à Reforma Íntima. Não basta crer na comunicação dos Espíritos; é preciso aplicar os ensinamentos morais do Evangelho no cotidiano.
A clareza dos princípios espíritas elimina as justificativas para o erro. Sabendo que colheremos o que plantamos (Lei de Causa e Efeito) e que a vida é uma escola (Reencarnação), o foco do leitor deve se voltar para:
- Combate ao Orgulho e ao Egoísmo: Estes são os vícios-chave que Jesus e os Espíritos Superiores nos exortam a combater, pois são a negação da Caridade.
- A Caridade Praticada: A Doutrina nos ensina que, fora da caridade, não há salvação. A salvação, neste contexto, é a libertação das imperfeições que nos prendem ao sofrimento.
Assim, o Espiritismo cumpre a Lei ao dar-lhe o entendimento indispensável e o caminho racional para que cada um de nós possa, por mérito e esforço próprio, transformar as palavras de Jesus em ações, e finalmente, conquistar o Reino dos Céus — o estado de Espírito depurado.

