A conformidade tributária, frequentemente referida pelo termo em inglês “compliance fiscal” ou “tax compliance”, é um tema de extrema importância para a saúde e longevidade de qualquer negócio no Brasil. Em sua essência, trata-se de um conjunto de práticas, processos e controles adotados por uma empresa para assegurar o cumprimento rigoroso de todas as obrigações e legislações fiscais e tributárias.
Não se trata apenas de pagar impostos, mas de fazê-lo de forma correta, no prazo certo e com a documentação adequada, minimizando riscos de autuações e penalidades.
Compliance: Uma Visão Ampla
Para entender a conformidade tributária, é útil primeiro compreender o conceito de “Compliance” de forma geral.
Compliance (do verbo inglês “to comply”, que significa “cumprir” ou “obedecer”) é a cultura e a estrutura que uma organização adota para garantir que todas as suas atividades estejam em estrita conformidade com:
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Leis e Regulamentos: Normas federais, estaduais e municipais.
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Regulamentos Internos: Políticas, códigos de conduta e manuais da própria empresa.
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Padrões Éticos: Valores e princípios morais que guiam o comportamento do negócio.
Em um sentido amplo, o Compliance abrange áreas como anticorrupção, lavagem de dinheiro, proteção de dados (LGPD), relação com fornecedores e, claro, a área fiscal e tributária. Ter um programa de compliance sólido é fundamental para a governança corporativa e para a reputação da empresa.
Conformidade Tributária: A Visão Restrita (Fiscal e Tributária)
De forma mais restrita, o Compliance Fiscal e Tributário foca-se especificamente no cumprimento das obrigações com o Fisco.
Obrigações Principais:
São os pagamentos dos tributos em si, como Imposto de Renda (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), PIS, COFINS, ICMS, IPI e ISS.
Obrigações Acessórias:
São as declarações e documentos que comprovam o correto cálculo e pagamento dos tributos. Estas são a espinha dorsal da conformidade tributária e incluem:
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Entrega de Declarações: SPEDs (Sistema Público de Escrituração Digital), ECF (Escrituração Contábil Fiscal), DCTF, DIRF, e GIA.
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Escrituração Contábil e Fiscal: Registro correto e tempestivo de todas as operações, como notas fiscais de entrada e saída.
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Emissão de Documentos Fiscais: Emissão de Notas Fiscais Eletrônicas (NF-e) de acordo com a legislação vigente.
A complexidade da legislação brasileira exige que o Compliance Tributário utilize tecnologia (como sistemas ERP e softwares fiscais) para automatizar e cruzar informações, garantindo a acurácia dos dados apresentados ao Fisco (federal, estadual e municipal).
Os Regimes Tributários Existentes no Brasil
A conformidade tributária é diretamente influenciada pelo Regime Tributário no qual a empresa está enquadrada. A escolha correta do regime é crucial, pois define as regras de cálculo e pagamento dos impostos. Os principais regimes no Brasil são:
1. Simples Nacional
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Para quem é: Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) com faturamento anual limitado.
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Características: Simplifica o pagamento de 8 tributos federais, estaduais e municipais (IRPJ, CSLL, PIS, COFINS, IPI, ICMS, ISS e Contribuição Previdenciária Patronal – CPP) em uma única guia (DAS).
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Conformidade: Apesar de simplificado, exige a correta apuração do anexo de faturamento e o cumprimento das obrigações acessórias específicas (como a DEFIS).
2. Lucro Presumido
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Para quem é: Empresas com faturamento de até R$ 78 milhões por ano e que não estão obrigadas ao Lucro Real.
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Características: O Imposto de Renda (IRPJ) e a Contribuição Social (CSLL) são calculados com base em uma margem de lucro pré-fixada (presumida) pela lei, que varia conforme a atividade da empresa (geralmente 8% para comércio e 32% para serviços). PIS e COFINS são calculados no regime cumulativo.
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Conformidade: Exige um controle fiscal e contábil mais detalhado que o Simples Nacional, com cumprimento de diversas obrigações acessórias (ECF, EFD Contribuições, etc.).
3. Lucro Real
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Para quem é: Obrigatório para empresas com faturamento acima de R$ 78 milhões e instituições financeiras. É opcional para as demais.
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Características: O IRPJ e a CSLL são calculados com base no lucro contábil real da empresa, ajustado pelas adições e exclusões previstas na lei fiscal. PIS e COFINS são calculados no regime não-cumulativo, permitindo a apropriação de créditos.
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Conformidade: É o regime mais complexo, exigindo o máximo rigor na contabilidade e no controle das obrigações acessórias, pois o Fisco tem acesso total aos detalhes da apuração do lucro.
A Importância da Conformidade Tributária
Investir em conformidade tributária é mais do que evitar multas; é uma estratégia de gestão de risco e otimização de recursos.
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Redução de Riscos: Diminui drasticamente a chance de autuações fiscais, que podem levar a multas que chegam a 150% do valor do imposto devido.
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Governança e Transparência: Fortalece a imagem da empresa perante o mercado, bancos, investidores e sócios.
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Planejamento Tributário: Uma boa base de compliance permite realizar um Planejamento Tributário eficiente, garantindo que a empresa pague o mínimo de imposto legalmente possível (o que é diferente de sonegação fiscal).
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Créditos e Incentivos: Assegura que a empresa aproveite corretamente todos os créditos fiscais a que tem direito (como ICMS e IPI não-cumulativos), maximizando o fluxo de caixa.
Em resumo, a conformidade tributária é a chave para a sustentabilidade dos negócios no complexo ambiente regulatório brasileiro. É a garantia de que a empresa está segura e operando dentro da lei.

