Deus no Antigo e Novo Testamento à luz da Doutrina Espírita

A diferença na forma como Deus é apresentado no Antigo e no Novo Testamento é um tema complexo e fascinante, especialmente quando analisado à luz da Doutrina Espírita e do Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo “Eu não vim destruir a lei”.

A Perspectiva Espírita sobre Deus no Antigo e Novo Testamento:

A Doutrina Espírita ensina que Deus é um só, imutável, eterno, onipotente, onisciente e infinitamente bom e justo. Portanto, não haveria dois Deuses distintos entre o Antigo e o Novo Testamento. A mudança na percepção de Deus reside na progressiva revelação divina à humanidade, acompanhando o seu desenvolvimento moral e intelectual.

  • Antigo Testamento e a Lei Mosaica: Segundo o Espiritismo, o Deus apresentado no Antigo Testamento, especialmente na Lei Mosaica, reflete as necessidades e o nível de compreensão daquele povo em um período específico da história. A severidade e o caráter punitivo da lei tinham o objetivo de conter um povo ainda inclinado à barbárie e à idolatria, estabelecendo uma ordem social e moral básica através do temor e da retribuição imediata.

    • “Eu não vim destruir a lei, mas cumpri-la”: Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, explica que Jesus não veio abolir a lei divina contida no Antigo Testamento (os Dez Mandamentos), mas sim completá-la, interpretá-la em seu verdadeiro espírito e adaptá-la a um estágio mais avançado da humanidade, substituindo a vingança pela caridade e o formalismo pela essência moral.
    • Severidade da Lei Mosaica: A severidade da Lei Mosaica era pedagógica para aquele tempo. As punições exemplares serviam como um freio para as paixões e um ensinamento sobre as consequências dos atos. No entanto, o Espiritismo esclarece que essa severidade não era a expressão da natureza essencialmente vingativa de Deus, mas sim uma adaptação às necessidades da época.
  • Novo Testamento e a Revelação de Jesus: Com o advento de Jesus, a revelação divina assume um caráter mais elevado e amoroso. Jesus personifica a bondade, a misericórdia e o perdão, ensinando o amor ao próximo, a humildade e a caridade como os pilares da verdadeira religião.

    • Mudança na Visão de Deus: A forma como Deus passou a ser visto com o Novo Testamento enfatiza o amor paternal, a compaixão e a misericórdia, em vez da justiça punitiva imediata. Jesus revela um Deus que busca a redenção e a evolução espiritual de seus filhos através do amor e do exemplo. A ênfase muda do temor da punição para a atração pelo bem e pela prática do amor.
    • Continuidade da Lei Divina: O Espiritismo reforça que a lei de Deus é única e imutável, expressa em sua plenitude nos ensinamentos de Jesus. O que mudou foi a forma de compreendê-la e praticá-la, saindo de uma interpretação literal e, por vezes, cruel, para uma compreensão mais espiritual e focada na essência moral.

Detalhes da Lei Mosaica:

A Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) é composta por diversas partes, sendo a Torá (Pentateuco) os cinco primeiros livros que contêm a Lei Mosaica. Esta pode ser dividida em:

  1. Lei Divina (Os Dez Mandamentos): Estes são considerados a expressão direta da vontade de Deus, um código moral universal e imutável. Eles estabelecem os princípios fundamentais do relacionamento do homem com Deus e com o próximo:

    • Amar a Deus sobre todas as coisas.
    • Não tomar o nome de Deus em vão.
    • Guardar o dia de sábado.
    • Honrar pai e mãe.
    • Não matar.
    • Não adulterar.
    • Não furtar.
    • Não dar falso testemunho.
    • Não desejar a mulher do próximo.
    • Não cobiçar os bens do próximo.
  2. Lei Civil (ou Mosaica propriamente dita): Esta parte compreende as leis e regulamentos específicos dados a Moisés para organizar a sociedade israelita da época. Abrangia aspectos religiosos rituais, normas de conduta social, leis sobre propriedade, justiça, família, etc. Estas leis eram adaptadas aos costumes e ao nível de desenvolvimento daquele povo e tinham um caráter transitório, visando educá-los e prepará-los para uma compreensão mais elevada da lei divina. Exemplos incluem as leis sobre sacrifícios, pureza cerimonial, escravidão, divórcio e a lei de talião (“olho por olho, dente por dente”).

Em resumo, a Doutrina Espírita, à luz do Evangelho Segundo o Espiritismo, explica que não houve uma mudança na essência de Deus, mas sim uma evolução na forma como Ele se revela à humanidade. A severidade do Deus do Antigo Testamento na Lei Mosaica era uma ferramenta pedagógica para um povo em um estágio inicial de desenvolvimento moral, enquanto o Novo Testamento, através dos ensinamentos e do exemplo de Jesus, revela um Deus de amor, misericórdia e perdão, convidando a humanidade a uma vivência mais profunda e espiritual da lei divina, que permanece a mesma em sua essência.

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