Origem e significado da palavra “Testamento” na Bíblia na visão tradicional cristã e espírita

A palavra “Testamento” na Bíblia tem uma origem interessante e um significado que vai além da ideia de um documento de última vontade.

 

Origem e Significado da Palavra “Testamento” na Bíblia:

 

A palavra “Testamento” deriva do latim testamentum, que significa “última vontade” ou “aliança”. No entanto, a escolha dessa palavra para designar as duas grandes seções da Bíblia se deu através de uma tradução.

 

O Antigo Testamento foi originalmente escrito predominantemente em hebraico, e o Novo Testamento em grego. A palavra grega utilizada para se referir à relação entre Deus e a humanidade, especialmente nos livros que hoje chamamos de Antigo Testamento, é diatheke, que significa aliança, pacto ou acordo solene.

Quando a Bíblia foi traduzida para o latim (a Vulgata Latina, por Jerônimo), a palavra grega diatheke foi traduzida como testamentum. Embora testamentum pudesse significar “aliança”, seu significado mais comum era o de um “testamento” no sentido jurídico, ou seja, um documento que expressa a última vontade de uma pessoa antes de sua morte.

Essa tradução para o latim influenciou as traduções para outras línguas, incluindo o português. Assim, a palavra “Testamento” ficou consagrada para designar as duas partes da Bíblia, carregando consigo tanto a ideia de uma aliança entre Deus e a humanidade quanto, talvez de forma menos precisa, a noção de algo que foi “deixado” ou estabelecido.

 

Antigo Testamento e Novo Testamento:

 

Na visão tradicional cristã:

 

Antigo Testamento: É a primeira parte da Bíblia, composta por 39 livros (na tradição protestante; a tradição católica e ortodoxa incluem alguns livros adicionais chamados deuterocanônicos). Ele narra a história da criação, a formação do povo de Israel, a lei mosaica, os profetas e a expectativa messiânica. É visto como a aliança de Deus com o povo de Israel através de Moisés, estabelecendo leis, rituais e promessas. Nessa aliança, os cristãos veem a promessa e a prefiguração da vinda de Jesus Cristo, o Messias esperado, que cumpriria as profecias e estabeleceria uma nova e superior aliança.

 

Novo Testamento: É a segunda parte da Bíblia, composta por 27 livros. Ele se concentra na vida, ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo, que é central para a Nova Aliança. O Novo Testamento narra como Jesus, sendo o Filho de Deus encarnado, veio para cumprir a lei e os profetas do Antigo Testamento, oferecendo a salvação a toda a humanidade através de seu sacrifício. É visto como a Nova Aliança estabelecida por Deus com toda a humanidade através de Jesus Cristo, selada com o seu sangue na cruz. Para os cristãos, Jesus é o mediador desta nova aliança, que oferece o perdão dos pecados e a vida eterna pela graça mediante a fé nele.

 

Na visão espírita:

 

O Espiritismo considera a Bíblia como um livro importante, mas a interpreta sob a luz da Doutrina Espírita, que se baseia nos ensinamentos dos espíritos superiores codificados por Allan Kardec.

 

Antigo Testamento: É visto como um registro da evolução religiosa e moral da humanidade, especialmente do povo hebreu. Os espíritas reconhecem a presença de ensinamentos valiosos, mas também entendem que alguns aspectos refletem o contexto cultural e o nível de compreensão da época, podendo conter imperfeições e interpretações simbólicas. A lei mosaica, por exemplo, é vista como uma etapa necessária, mas não a palavra final de Deus. Na perspectiva espírita, o Antigo Testamento contém lições importantes sobre a justiça divina e a responsabilidade humana, preparando o caminho para a vinda de missionários maiores, como Jesus.

 

Novo Testamento: É considerado de suma importância, pois contém os ensinamentos de Jesus Cristo, que é visto como um dos maiores missionários enviados por Deus à Terra e um modelo de moral e amor, representando o ápice da evolução moral até então. Os Evangelhos são especialmente valorizados como guias para a conduta moral. No entanto, a interpretação espírita pode diferir da tradicional cristã em alguns pontos, como a natureza dos milagres, a identidade de Jesus (visto como um espírito evoluído, um guia e modelo para a humanidade, mas não Deus encarnado) e a compreensão da salvação (que ocorre através da evolução espiritual e das reencarnações, e não apenas pela fé em Cristo). Para os espíritas, Jesus trouxe a mensagem da Nova Aliança baseada no amor incondicional, na caridade e na vivência dos ensinamentos morais, sendo o grande exemplo a ser seguido. Os espíritas também consideram os Atos dos Apóstolos e as Epístolas como importantes registros do início do Cristianismo, mas os interpretam à luz dos princípios espíritas.

 

Em resumo, a palavra “Testamento” na Bíblia, embora tenha uma raiz ligada à ideia de “última vontade”, é mais precisamente entendida como “Aliança”. O Antigo Testamento narra a primeira aliança de Deus com Israel, enquanto o Novo Testamento apresenta a nova aliança através de Jesus Cristo. A visão tradicional cristã vê ambos como escrituras sagradas e complementares, com o Novo Testamento cumprindo o Antigo através da pessoa de Jesus. A visão espírita também valoriza ambos, mas os interpreta à luz dos princípios da Doutrina Espírita, vendo-os como registros da evolução espiritual da humanidade, com o Novo Testamento e os ensinamentos de Jesus tendo um papel central como guia moral e exemplo da Nova Aliança baseada no amor e na caridade.

 

 

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