A busca pela felicidade é algo que acompanha a humanidade desde os primórdios da filosofia.
Vamos explorar as ideias de alguns filósofos sobre a felicidade, o que o Espiritismo nos ensina sobre ela e a distinção entre vida futura e vida eterna na visão espírita.
Filósofos e a Felicidade
Muitos filósofos ao longo da história dedicaram suas reflexões ao tema da felicidade, buscando compreender sua natureza e como alcançá-la. Algumas interpretações notáveis incluem:
- Aristóteles (384-322 a.C.): Em sua obra “Ética a Nicômaco”, Aristóteles considera a eudaimonia como o bem supremo e o objetivo final da vida humana. Traduzida frequentemente como “felicidade” ou “florescimento humano”, a eudaimonia não é meramente um estado de prazer, mas sim uma vida vivida em plena realização do potencial humano, através da prática da virtude e da razão. Para Aristóteles, a felicidade está intrinsecamente ligada à ação virtuosa.
- Epicuro (341-270 a.C.): Epicuro e seus seguidores viam a felicidade (ataraxia) como a ausência de perturbação e a busca pelo prazer moderado. Ele distinguia entre prazeres corporais e mentais, considerando os prazeres da mente (como a amizade e a sabedoria) superiores. O objetivo era alcançar um estado de tranquilidade e contentamento, evitando a dor e a ansiedade.
- Estoicismo (Zenão de Cítio, séc. IV a.C. – Marco Aurélio, séc. II d.C.): Os estoicos, como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, ensinavam que a felicidade reside na virtude e na aceitação daquilo que não podemos controlar. Acreditavam que a paz interior e a liberdade emocional são alcançadas através da razão, da autodisciplina e da indiferença aos prazeres e dores externas.
- Santo Agostinho (354-430 d.C.): Influenciado pela filosofia platônica e pelo cristianismo, Agostinho via a felicidade terrena como incompleta e transitória. Para ele, a verdadeira felicidade só poderia ser encontrada em Deus, através da fé e do amor divino. Sua obra “Confissões” explora essa jornada em busca da plenitude espiritual.
- Immanuel Kant (1724-1804): Kant diferenciava a felicidade da moralidade. Para ele, a moralidade reside no cumprimento do dever por dever, enquanto a felicidade é um estado subjetivo de satisfação de nossos desejos. Embora a felicidade seja um desejo natural, não deveria ser o fundamento da moralidade.
- Utilitarismo (Jeremy Bentham, John Stuart Mill, séc. XVIII-XIX): Os utilitaristas defendiam que a ação correta é aquela que promove a maior felicidade para o maior número de pessoas. A felicidade aqui é entendida como prazer e ausência de dor, com ênfase nas consequências das ações.
A Felicidade Segundo o Espiritismo
O Espiritismo aborda a felicidade tanto na perspectiva terrena quanto na da vida futura, oferecendo uma visão consoladora e esclarecedora.
Felicidade na Terra: Para o Espiritismo, a felicidade completa não é alcançável na Terra, pois este é um mundo de provas e expiações, onde o sofrimento tem um papel no aprendizado e na evolução do espírito. No entanto, isso não significa que a felicidade seja impossível em nosso planeta. Podemos encontrar momentos de alegria, satisfação e bem-estar através de:
- A prática do bem e da caridade: Auxiliar o próximo, aliviar o sofrimento alheio e cultivar sentimentos de amor e fraternidade trazem uma profunda satisfação interior.
- O desenvolvimento moral e intelectual: O progresso do espírito através do estudo, da reflexão e do aprimoramento de suas qualidades morais contribui para uma consciência tranquila, um dos pilares da felicidade segundo o Espiritismo.
- A resignação diante das dificuldades: Compreender que as provações fazem parte do processo evolutivo e encará-las com fé e coragem ajuda a minimizar o sofrimento e encontrar aprendizado nas experiências.
- A fé no futuro: A certeza da continuidade da vida após a morte e a esperança de um futuro de progresso e felicidade no mundo espiritual sustentam e consolam o espírito nas tribulações terrestres.
- A posse do necessário: Para a vida material, o Espiritismo considera a posse do necessário como um fator de felicidade, evitando os excessos e a busca desenfreada por bens materiais, que podem gerar ansiedade e insatisfação.
Felicidade na Vida Futura: A verdadeira e plena felicidade, segundo o Espiritismo, é reservada aos espíritos que alcançaram um certo grau de pureza e evolução no mundo espiritual. Essa felicidade consiste em:
- A perfeita união com Deus: Sentir a presença divina e vivenciar o amor em sua plenitude.
- A ausência de sofrimento e provações: Livres das dores físicas e morais do mundo material.
- A compreensão das leis divinas: Entender a sabedoria e a justiça que regem o universo.
- A comunhão com espíritos afins: Desfrutar da companhia de seres que compartilham os mesmos sentimentos e aspirações de amor e progresso.
- A constante evolução: Continuar aprendendo e progredindo em conhecimento e moralidade, em esferas cada vez mais elevadas.
Vida Futura e Vida Eterna no Espiritismo
Segundo o Espiritismo, vida futura e vida eterna não são exatamente a mesma coisa, embora estejam intrinsecamente ligadas:
- Vida Futura: Refere-se à continuidade da existência do espírito após a morte do corpo físico. É a vida no mundo espiritual, que é a pátria verdadeira do espírito. Essa vida futura é caracterizada por diferentes planos ou esferas, de acordo com o grau de evolução de cada espírito. É um período dinâmico de aprendizado, trabalho e progresso.
- Vida Eterna: No contexto espírita, a vida eterna está mais relacionada à natureza essencial do espírito, que é imortal e indestrutível. O espírito, uma vez criado por Deus, não deixa de existir. A vida futura é, portanto, uma manifestação dessa vida eterna, que se desenvolve em diferentes etapas e em diversos mundos, através da reencarnação, até alcançar a perfeição relativa e a felicidade plena.
Em resumo, a vida futura é a experiência do espírito após a morte corporal, enquanto a vida eterna é a qualidade inerente ao espírito de ser imortal e de continuar existindo indefinidamente, passando por diversas existências e planos espirituais em sua jornada evolutiva.