Atributos de Deus no Livro dos Espíritos e Detalhamento em A Gênese

No cerne da filosofia espírita reside a compreensão dos atributos de Deus, explorados em profundidade em “O Livro dos Espíritos” e detalhados de maneira singular em “A Gênese”. Estas obras não apenas enumeram as qualidades divinas, mas também as explicam à luz da razão e da lógica, buscando um entendimento mais profundo da natureza do Criador e sua relação com o Universo.

Principais Atributos de Deus Segundo o Espiritismo:

Em “O Livro dos Espíritos”, nas questões 12 e 13, os Espíritos Superiores, sob a coordenação de Allan Kardec, definem os principais atributos de Deus da seguinte forma:

Transcrição da Questão 13 de “O Livro dos Espíritos”:

“Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos ideia completa de seus atributos?”

“Do vosso ponto de vista, sim, porque credes abranger tudo;1 mas sabei que há coisas que estão além do vosso entendimento e que não podemos vos revelar neste momento. À medida que vos depurardes, compreendereis melhor o que agora vos escapa.”

Explicação dos Atributos:

  • Eterno: Deus não teve começo nem terá fim. Sua existência é inerente e não depende de nenhuma causa anterior. Se tivesse um princípio, algo o teria criado, e esse algo seria o verdadeiro Deus.
  • Infinito: A perfeição de Deus não tem limites. Abrange todas as dimensões, poderes e qualidades imagináveis e inimagináveis. Nossa mente finita tem dificuldade em conceber a extensão desse atributo.
  • Imutável: As leis que regem o Universo são estáveis porque sua origem reside em uma vontade constante e inalterável. Se Deus estivesse sujeito a mudanças, a ordem cósmica seria instável e incerta.
  • Imaterial: A natureza de Deus difere completamente daquilo que entendemos por matéria. A matéria é sujeita a transformações e decomposição, enquanto Deus, sendo imutável, não pode ser material.
  • Único: A unidade de comando e a harmonia observada no Universo apontam para uma única inteligência diretora. Se houvesse múltiplos deuses, haveria divergência de propósitos e conflito de poderes.
  • Onipotente: Sendo único e a causa primária de todas as coisas, Deus possui poder absoluto sobre a criação. Se houvesse algo mais poderoso ou igualmente poderoso, Deus não seria onipotente.
  • Soberanamente Justo e Bom: A sabedoria e a providência divina se manifestam tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas, revelando uma justiça imparcial e uma bondade infinita para com todas as suas criaturas. As leis divinas, embora nem sempre compreendidas em sua totalidade, visam o progresso e a felicidade de todos.

Detalhamento em “A Gênese”:

Em “A Gênese”, Allan Kardec expande a compreensão sobre Deus, abordando especificamente a relação entre Deus e a Criação, a ação da Providência e a justiça das leis divinas em face do livre-arbítrio humano.

Relação entre Deus e a Criação:

Kardec explora a ideia de que Deus não é apenas o criador no sentido de ter dado o primeiro impulso, mas que sua ação é contínua e imanente em toda a criação. Deus é a inteligência ordenadora que mantém a harmonia e o progresso do Universo através de leis naturais imutáveis.

Transcrição do Capítulo II de “A Gênese”, item 11:

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. É eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.2

Criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.”3

Explicação: Esta passagem reforça os atributos já mencionados em “O Livro dos Espíritos” e estabelece claramente que o Universo, em sua totalidade, é obra da criação divina. A diversidade da criação não implica em múltiplas causas primárias, mas sim na manifestação da infinita sabedoria e poder de um único Criador.

A Ação da Providência:

A Providência Divina é a manifestação da sabedoria, bondade e previdência de Deus na condução do Universo e no cuidado com suas criaturas. Não se trata de uma intervenção arbitrária nos acontecimentos, mas sim da aplicação das leis divinas de forma a garantir o progresso e a evolução de todos os seres.

Transcrição do Capítulo III de “A Gênese”, item 1:

“A Providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está presente em toda parte, tudo vê, tudo preside. Sua sabedoria infinita se revela tanto nas leis gerais do mundo material quanto nas leis morais. É ela que mantém a harmonia entre os elementos da criação e que dirige todos os seres para o fim que lhes assinou.”

Explicação: A Providência atua através das leis naturais e morais estabelecidas por Deus. Os acontecimentos, mesmo aqueles que nos parecem casuais ou injustos, estão inseridos em um plano maior que visa o aprendizado e o aprimoramento dos Espíritos. A dor e as dificuldades são, muitas vezes, consequências de nossas próprias imperfeições e desvios das leis divinas, mas também oportunidades de crescimento.

A Justiça das Leis Divinas em Face do Livre-Arbítrio Humano:

Um aspecto crucial abordado em “A Gênese” é a conciliação entre a justiça divina e o livre-arbítrio do ser humano. Deus estabeleceu leis justas e perfeitas, mas concedeu ao Espírito a liberdade de escolher entre o bem e o mal. As consequências dessas escolhas recaem sobre o próprio indivíduo, em conformidade com a lei de causa e efeito.

Transcrição do Capítulo III de “A Gênese”, item 14:

“Deus não criou o mal; criou os seres simples e ignorantes, com aptidão para progredir. Deu-lhes a liberdade de escolher o caminho que devem seguir e lhes deixou a responsabilidade de seus atos. O mal é o resultado do uso que o homem faz da sua liberdade, afastando-se das leis de Deus.”

Explicação: Deus não é o autor do mal; o mal surge da imperfeição e da ignorância dos Espíritos em seu processo evolutivo, utilizando o livre-arbítrio para transgredir as leis divinas. A justiça divina se manifesta através das consequências naturais dessas ações, que visam o aprendizado e a reparação. Cada um colhe o que semeia, e a dor é um instrumento de correção e de retorno ao caminho do bem.

Em Resumo:

“A Gênese” complementa “O Livro dos Espíritos” ao detalhar a atuação constante de Deus na Criação através de leis imutáveis e da Providência Divina. A justiça divina se harmoniza com o livre-arbítrio humano, responsabilizando cada indivíduo por suas escolhas e garantindo que as consequências de seus atos contribuam para o seu aprendizado e progresso espiritual. A compreensão desses aspectos nos permite vislumbrar a sabedoria e a bondade infinitas de Deus em cada detalhe do Universo e em cada etapa de nossa jornada evolutiva.

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