Fascinação também é mistificação?

A fascinação e a mistificação podem, por vezes, estar interligadas, mas não são sinônimos.

Fascinação é um sentimento de intenso interesse e atração por algo ou alguém. Envolve um foco da atenção, curiosidade e, muitas vezes, um desejo de aprender ou se envolver mais com o objeto da fascinação. Pode ser despertada por beleza, mistério, habilidade, novidade ou qualquer coisa que prenda a atenção de forma intensa e agradável.

Mistificação, por outro lado, envolve tornar algo misterioso, obscuro ou confuso, muitas vezes de forma intencional para confundir, enganar ou criar uma aura de enigma. A mistificação pode usar a falta de conhecimento ou a credulidade de alguém para apresentar uma realidade distorcida ou incompleta.

A relação entre fascinação e mistificação:

  • A mistificação pode gerar fascínio: O desconhecido e o misterioso frequentemente exercem um forte fascínio. Ao tornar algo enigmático, pode-se despertar a curiosidade e o interesse das pessoas, levando-as a se sentirem fascinadas em desvendar o mistério.
  • A fascinação pode levar à mistificação (involuntária ou não): Quando alguém está profundamente fascinado por algo, pode idealizá-lo ou não questioná-lo criticamente. Essa falta de análise pode, inadvertidamente, contribuir para uma visão mistificada da realidade. Além disso, indivíduos ou grupos podem explorar a fascinação de outros para promover suas próprias agendas, às vezes levando à mistificação.
  • Nem toda fascinação é mistificação, e nem toda mistificação gera fascínio: É possível sentir fascínio por algo que é bem compreendido e transparente, como uma obra de arte ou uma demonstração de grande habilidade. Da mesma forma, tentativas de mistificação podem falhar em gerar fascínio se forem óbvias ou desinteressantes.

Em resumo, enquanto a fascinação é um estado de intenso interesse e atração, a mistificação é o ato de obscurecer ou confundir. A mistificação pode ser uma ferramenta para gerar fascínio, mas a fascinação em si não implica necessariamente mistificação. É crucial analisar criticamente as fontes de nossa fascinação para discernir se ela se baseia em admiração genuína ou em uma construção de mistério que pode ter outras intenções.

Na Doutrina Espírita, a fascinação e a mistificação são abordadas principalmente no contexto da mediunidade e das comunicações espirituais. Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, dedica um capítulo inteiro de “O Livro dos Médiuns” (Capítulo XXIII – Da Obsessão) para detalhar a fascinação como um dos graus da obsessão.

Fascinação segundo a Doutrina Espírita:

Kardec define a fascinação como:

“uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às comunicações.”1 (“O Livro dos Médiuns”, item 239)

As principais características da fascinação, de acordo com a Doutrina Espírita, são:

  • Ilusão: O médium fascinado acredita piamente na veracidade e superioridade das comunicações que recebe, mesmo que elas sejam ilógicas, contraditórias ou moralmente questionáveis.
  • Paralisação do raciocínio: A influência do Espírito obsessor atua diretamente no pensamento do médium, dificultando ou impedindo sua capacidade de análise crítica e discernimento.
  • Cega confiança no Espírito: O médium desenvolve uma confiança cega no Espírito comunicante, a ponto de não aceitar opiniões contrárias ou evidências de mistificação.
  • Isolamento: O Espírito fascinador frequentemente induz o médium a afastar-se de pessoas que poderiam alertá-lo ou abrir seus olhos para a verdade.
  • Consequências graves: A fascinação é considerada uma forma de obsessão mais grave que a obsessão simples, pois o médium não se reconhece como enganado, tornando a libertação mais difícil.

Mistificação segundo a Doutrina Espírita:

A mistificação, no contexto espírita, refere-se ao ato de enganar ou iludir, e pode ser praticada tanto por Espíritos quanto por médiuns encarnados.

  • Mistificação pelos Espíritos: Espíritos inferiores e mistificadores podem se utilizar de diversos meios para enganar os médiuns e as pessoas, como:
    • Assumir falsas identidades: Apresentam-se como Espíritos superiores, personalidades famosas ou entidades veneráveis para obter crédito e confiança.
    • Produzir fenômenos aparatosos: Realizam efeitos mediúnicos surpreendentes para impressionar e desviar a atenção do conteúdo das mensagens.
    • Explorar as vaidades e paixões: Lisonjeiam o médium, alimentam seu orgulho e oferecem gratificações materiais ou espirituais ilusórias.
    • Disseminar ideias falsas ou moralmente duvidosas: Confundem, desorientam e podem induzir a práticas prejudiciais.
  • Mistificação pelos médiuns (animismo mistificado): Em alguns casos, o próprio médium, inconscientemente ou por má-fé, pode mistificar. Isso ocorre quando suas próprias ideias, desejos ou fantasias se misturam à comunicação, ou quando há uma intenção deliberada de fraudar.

Relação entre Fascinação e Mistificação na Doutrina Espírita:

Na perspectiva espírita, a fascinação é uma forma de mistificação na qual o Espírito obsessor consegue envolver o médium de tal maneira que ele se torna cego à mistificação. O médium fascinado é a vítima da mistificação, mas não a reconhece.

Allan Kardec enfatiza a importância do estudo, da razão e do bom senso para discernir a verdade e evitar tanto a fascinação quanto a mistificação nas práticas mediúnicas. A análise criteriosa das comunicações, a busca por coerência com os princípios da Doutrina Espírita e o afastamento de tudo que incite ao orgulho ou ofereça facilidades são considerados antídotos importantes contra esses fenômenos.

Em resumo, segundo a Doutrina Espírita, a fascinação é uma forma grave de obsessão caracterizada por uma ilusão que paralisa o raciocínio do médium, tornando-o suscetível à mistificação perpetrada por Espíritos enganadores. A vigilância, o estudo e a humildade são essenciais para evitar esses escolhos na prática mediúnica.

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