Dupla Vista no Espiritismo: Vendo com os Olhos do Corpo e da Alma
No Espiritismo, a faculdade da dupla vista, também conhecida como lucidez ou segunda vista, é uma forma de vidência que se manifesta de maneira peculiar, distinguindo-se de outros tipos de percepção extrassensorial.
A Peculiaridade da Dupla Vista
Sim, o médium dotado de dupla vista vê com os olhos físicos em vigília, mas de uma forma expandida. Não é uma visão comum, pois ele percebe não apenas o mundo material, mas também o plano espiritual que se interpenetra com o nosso. É como se a lente de sua percepção se ajustasse para captar as vibrações e as formas dos espíritos e dos acontecimentos do plano invisível, sem que para isso precise fechar os olhos ou entrar em transe profundo.
Essa capacidade é um estado de vigília ampliada, onde o Espírito, semi-desprendido do corpo, consegue captar imagens e informações do mundo espiritual que normalmente seriam inacessíveis aos sentidos físicos. O médium pode estar conversando, andando, ou realizando atividades cotidianas e, simultaneamente, perceber a presença de espíritos, cenas do passado ou do futuro, ou ter intuições vívidas. É uma espécie de “tela” mental que se sobrepõe à visão física, permitindo a coexistência das duas realidades.
Comparação com Outros Tipos de Vidência
É importante diferenciar a dupla vista de outras formas de vidência onde a percepção ocorre primariamente com a alma ou com a mente, independentemente da visão física:
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Vidência com os Olhos Fechados ou em Transe (Visão da Alma/Mente): Neste tipo de vidência, a percepção ocorre quando o médium está com os olhos fechados, em estado de meditação, oração ou em transe mediúnico. A imagem é formada diretamente na mente do vidente, e não há uma sobreposição com a visão física do ambiente. É um tipo de “tela mental” interna, onde o Espírito se desprende mais acentuadamente do corpo para ter acesso às informações. Pessoas cegas, por exemplo, podem ter esse tipo de vidência, pois ela não depende da retina física. A visão é puramente espiritual, um “ver” com o perispírito.
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Clarividência (Sentimento ou Intuição): A clarividência, em um sentido mais amplo, pode incluir a dupla vista, mas muitas vezes se refere à capacidade de sentir ou intuir acontecimentos, presenças ou informações sem necessariamente “ver” imagens nítidas. Pode ser uma percepção mais sutil, como um “saber” que algo vai acontecer ou que alguém está presente. É uma vidência mais ligada ao campo das sensações e da intuição.
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Vidência Sonambúlica: Neste caso, a vidência ocorre em estado de sonambulismo, onde o médium está em um sono magnético ou mediúnico. A percepção é intensa e as informações podem ser muito detalhadas, pois o Espírito está grandemente desprendido do corpo, funcionando com maior liberdade.
Em Resumo
A dupla vista é uma faculdade singular no Espiritismo, permitindo que o médium perceba o plano espiritual enquanto mantém os olhos físicos abertos e em vigília. É uma ponte entre as duas realidades, onde o mundo invisível se revela ao lado do material. Diferente de outras formas de vidência que se manifestam mais internamente ou em estados alterados de consciência, a dupla vista proporciona uma experiência de coexistência perceptual, enriquecendo a compreensão do indivíduo sobre a vida e a interconexão dos planos existenciais.
Características e Desenvolvimento da Dupla Vista
A dupla vista, como vimos, é uma faculdade fascinante e, como toda mediunidade, pode apresentar diferentes nuances em cada indivíduo. Vamos explorar algumas de suas características e como ela pode se desenvolver:
Características da Dupla Vista
- Espontaneidade: Em muitos casos, a dupla vista se manifesta de forma espontânea, principalmente em crianças ou em momentos de maior sensibilidade. A pessoa pode, de repente, ver um espírito ou uma cena do passado como se estivesse ali, no mesmo ambiente.
- Momentânea ou Duradoura: A faculdade pode ser momentânea, ocorrendo em flashes ou por curtos períodos, ou mais duradoura, permitindo que o médium veja o plano espiritual de forma mais constante. Raramente é uma visão contínua e ininterrupta, pois isso seria extremamente desgastante para o médium.
- Clareza da Percepção: A clareza das imagens ou sensações varia muito. Alguns médiuns podem ver os espíritos com nitidez impressionante, quase como se fossem pessoas encarnadas, enquanto outros os percebem de forma mais etérea, como sombras ou vultos. A intensidade da clarividência também pode mudar dependendo do estado físico e emocional do médium, e da energia do espírito que se manifesta.
- Percepção de Detalhes: Médiuns com dupla vista podem não apenas ver espíritos, mas também detalhes do ambiente espiritual, como objetos, cenários ou até mesmo a aura das pessoas. Essa percepção pode se estender ao passado ou ao futuro, permitindo ao médium ter visões de eventos que já aconteceram ou que estão por vir.
- Influência do Estado Vibratório: A capacidade de ver com a dupla vista é diretamente influenciada pelo estado vibratório do médium. Emoções como medo, raiva ou tristeza podem turvar a visão espiritual, enquanto sentimentos de amor, paz e elevação moral tendem a ampliar a percepção.
Desenvolvimento da Dupla Vista
O desenvolvimento da dupla vista, como de qualquer faculdade mediúnica, requer disciplina, estudo e prática ética. Não existe um “treino” que force a abertura da faculdade, mas sim um caminho de autoconhecimento e aprimoramento moral que facilita sua manifestação:
- Moralização e Elevação Vibratória: Este é o pilar fundamental. Quanto mais o indivíduo se esforça para viver em harmonia com as leis divinas, cultivando virtudes como amor, caridade, perdão e humildade, mais suas faculdades mediúnicas se purificam e se desenvolvem de forma saudável. Espíritos benfeitores se aproximam com mais facilidade de médiuns moralizados.
- Estudo da Doutrina Espírita: Compreender os princípios do Espiritismo é crucial para quem tem ou deseja desenvolver a mediunidade. O estudo oferece o conhecimento necessário para discernir as manifestações, evitar enganos e utilizar a faculdade de forma consciente e útil.
- Prece e Meditação: A prática regular da prece e da meditação auxilia o médium a se conectar com planos superiores, acalmar a mente e elevar suas vibrações, o que pode facilitar a percepção espiritual.
- Desenvolvimento Gradual e Natural: A mediunidade não deve ser forçada. Seu desenvolvimento é um processo natural e gradual, que ocorre no tempo certo para cada indivíduo. A pressa ou a ansiedade podem prejudicar o processo e até mesmo atrair influências menos elevadas.
- Vigilância e Discernimento: É fundamental que o médium mantenha a vigilância sobre seus pensamentos e sentimentos, e que desenvolva o discernimento para distinguir entre a realidade espiritual e as criações da própria mente ou as mistificações.
- Serviço ao Próximo: A mediunidade é um dom para ser colocado a serviço do próximo. Quando o médium utiliza sua faculdade para auxiliar, consolar e esclarecer, ele sintoniza-se com as esferas de luz e favorece o aprimoramento de suas capacidades.
É importante ressaltar que a dupla vista, como qualquer mediunidade, não é um fim em si mesma, mas um meio para o autoconhecimento e para a prática da caridade.