Diferentemente de um médico, que foca em aspectos biológicos e fisiológicos, o psicólogo trabalha com os processos mentais, emocionais e comportamentais do indivíduo. A “análise psicológica” e a “prescrição de tratamento” por um psicólogo seguem uma metodologia própria e não envolvem o uso de medicamentos.
Veja como esse processo geralmente ocorre:
1. Avaliação Psicológica (Análise)
A avaliação psicológica é um processo técnico e científico que visa compreender a queixa do paciente e formular um entendimento sobre o seu funcionamento psíquico. Inclui diversas etapas:
- Entrevista Inicial (Anamnese Psicológica): É a etapa fundamental. O psicólogo realiza uma série de conversas com o paciente para coletar informações detalhadas sobre:
- Queixa principal: Qual o motivo que levou o paciente a buscar ajuda? (Ex: ansiedade, tristeza, problemas de relacionamento, dificuldades no trabalho, etc.).
- Histórico pessoal: Informações sobre a infância, adolescência, vida familiar, escolaridade, relacionamentos, histórico de saúde mental prévio, traumas, perdas.
- Funcionamento atual: Como o paciente lida com o estresse, suas habilidades de enfrentamento, padrões de pensamento, emoções predominantes, comportamentos recorrentes.
- Contexto de vida: Família, trabalho, estudos, lazer, rede de apoio social.
- Observação Comportamental: Durante as sessões, o psicólogo observa a linguagem corporal do paciente, expressões faciais, tom de voz, postura e outros comportamentos não-verbais que fornecem pistas importantes.
- Aplicação de Instrumentos Psicológicos (Testes): Nem sempre são utilizados, mas podem ser ferramentas valiosas para aprofundar a avaliação. Existem diversos tipos de testes psicológicos, padronizados e validados, que avaliam:
- Personalidade: Traços de personalidade, estilos de funcionamento.
- Habilidades cognitivas: Atenção, memória, raciocínio.
- Sintomas: Escalas para medir níveis de ansiedade, depressão, estresse, etc.
- Outras áreas: Como interesses profissionais, estilos de comunicação. É importante ressaltar que o uso de testes psicológicos é privativo do psicólogo e deve seguir as diretrizes do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
- Devolutiva: Após a fase de avaliação, o psicólogo discute com o paciente os achados da análise, a compreensão do seu quadro e as hipóteses diagnósticas (que no caso da psicologia se referem a um “entendimento clínico” ou “formulação de caso”, não necessariamente um diagnóstico médico de transtorno).
2. Formulação do Caso e Plano de Tratamento (Psicoterapia)
Com base na avaliação, o psicólogo formula um entendimento aprofundado do caso do paciente, incluindo os fatores que contribuem para suas dificuldades. A partir daí, é desenvolvido o plano de tratamento, que no contexto psicológico é a psicoterapia.
A psicoterapia não é uma “prescrição” única, mas um processo contínuo e colaborativo. Os principais componentes de um plano de tratamento em psicologia incluem:
- Definição de objetivos terapêuticos: O psicólogo e o paciente trabalham juntos para estabelecer metas claras e alcançáveis para o processo terapêutico. (Ex: reduzir sintomas de ansiedade, melhorar relacionamentos, desenvolver autoconhecimento, lidar com um trauma).
- Escolha da abordagem teórica: O psicólogo atua com base em uma ou mais abordagens teóricas da psicologia (ex: Terapia Cognitivo-Comportamental – TCC, Psicanálise, Terapia Humanista, Gestalt-Terapia, Terapia Sistêmica, etc.). A escolha da abordagem influencia as técnicas e o foco do tratamento.
- Técnicas e Intervenções: O psicólogo utiliza técnicas específicas de sua abordagem para ajudar o paciente a:
- Identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais: Na TCC, por exemplo, o foco é na reestruturação cognitiva.
- Explorar emoções e sentimentos: Entender a origem de medos, raiva, tristeza.
- Desenvolver novas habilidades de enfrentamento: Para lidar com estresse, ansiedade, conflitos.
- Compreender o passado e sua influência no presente: Na Psicanálise, a exploração do inconsciente.
- Melhorar a comunicação e os relacionamentos.
- Promover o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal.
- Frequência e duração das sessões: As sessões de psicoterapia geralmente ocorrem semanalmente, com duração de 50 minutos a 1 hora. A duração total do tratamento varia muito, dependendo da complexidade do caso e dos objetivos.
- Monitoramento e Ajustes: O psicólogo monitora continuamente o progresso do paciente, avaliando a eficácia das intervenções e ajustando o plano de tratamento conforme necessário.
- Orientação e psicoeducação: O psicólogo pode fornecer informações sobre a condição do paciente, estratégias de manejo e recursos adicionais (livros, artigos, grupos de apoio).
Diferenças Cruciais com o Médico:
- Diagnóstico: Embora o psicólogo possa diagnosticar transtornos mentais utilizando manuais como o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o foco do “diagnóstico psicológico” é mais na compreensão do funcionamento psíquico do indivíduo e dos fatores que contribuem para seu sofrimento. Não se trata de um diagnóstico médico no sentido de uma doença orgânica.
- Tratamento: O psicólogo não prescreve medicamentos. Seu tratamento é baseado em intervenções psicoterapêuticas, que envolvem a fala, a reflexão, a construção de novos significados e a mudança de comportamentos. Em casos onde há necessidade de medicação (por exemplo, em depressão severa ou transtornos psicóticos), o psicólogo pode encaminhar o paciente para um psiquiatra (que é um médico especializado em saúde mental e pode prescrever medicamentos), trabalhando em conjunto.
Em resumo, o psicólogo realiza uma análise profunda da vida psíquica do indivíduo, compreendendo suas dores, padrões e recursos, para então conduzir um processo terapêutico que visa promover o bem-estar, o autoconhecimento e a capacidade de lidar com os desafios da vida.