Investimentos Chineses no Agronegócio Brasileiro

A participação do capital chinês em propriedades rurais e empresas do agronegócio brasileiro tem crescido significativamente nos últimos anos, impulsionada principalmente pela necessidade da China de garantir sua segurança alimentar e pelo potencial de produção do Brasil. Essa relação é complexa e abrange diferentes formas de investimento e cooperação.


 

Investimento em Terras Agrícolas

 

A legislação brasileira sobre a aquisição de terras por estrangeiros impõe restrições, o que tem limitado a compra direta de grandes extensões de propriedades rurais por empresas chinesas. No entanto, há interesse e movimentação nesse sentido. Recentemente, por exemplo, uma gigante chinesa manifestou interesse em adquirir terras no Brasil para iniciar o plantio de grãos, especialmente em áreas de pastagens degradadas com potencial de conversão agrícola, buscando evitar o desmatamento. A efetivação dessas transações dependerá da análise jurídica e do marco legal brasileiro.

Historicamente, o relatório da ONG Grain em 2016 já apontava a presença de empresas chinesas com participação em terras, muitas vezes de forma indireta. Empresas como a Chongqing Grain Group Corp (Universo Verde Agronegócios) e a COFCO são exemplos de grupos estatais chineses com atuação e, em alguns casos, controle de grandes áreas no Brasil.


 

Participação em Empresas do Agronegócio Brasileiro

 

A forma mais comum de investimento chinês no agronegócio brasileiro tem sido através da aquisição de participações em empresas já estabelecidas, fusões e investimentos em infraestrutura e tecnologia. Isso permite o acesso à produção e ao processamento de commodities, sem necessariamente envolver a compra direta de terras.

Alguns exemplos notáveis de empresas chinesas com presença ou participação no agro brasileiro incluem:

  • Citic Agri Fund Management (no Brasil, LongPing High-Tech): Adquiriu a operação de sementes de milho da Dow AgroSciences Sementes e Biotecnologia Brasil, tornando-se uma das principais empresas no mercado nacional de sementes de milho e buscando expandir para outros mercados na América Latina, além de trazer tecnologias como sementes de arroz híbrido.
  • COFCO: Gigante estatal chinesa que atua na negociação e processamento agrícola, principalmente de soja, e possui usinas de açúcar no estado de São Paulo, além de operar armazéns e em operações portuárias.
  • Hunan Dakang Pasture Farming (unidade do Shanghai Pengxin Group, no Brasil, Fiagril): Investiu na aquisição de participação em tradings e processadoras de grãos brasileiras.
  • ChemChina: Adquiriu a Syngenta, líder mundial em sementes e produtos fitossanitários, com fábricas no Brasil.
  • Sinomach Digital: Empresa chinesa que assinou parceria com a Embrapa com foco na agricultura familiar, buscando desenvolver tecnologia e mecanização para pequenas propriedades.

 

Áreas de Interesse e Impactos

 

Os investimentos chineses no agronegócio brasileiro são motivados por:

  • Segurança Alimentar: A China é um dos maiores importadores mundiais de produtos agrícolas, como soja, milho e carne, e busca garantir o abastecimento para sua população em crescimento.
  • Diversificação de Fontes: Aumentar a participação na cadeia produtiva brasileira reduz a dependência de outros mercados e fortalece a posição da China como importador.
  • Tecnologia e Infraestrutura: Há um interesse crescente em cooperação tecnológica, especialmente em áreas como automação rural, drones, sensoriamento remoto e inteligência artificial aplicada ao campo, bem como investimentos em infraestrutura logística (portos, ferrovias) para facilitar o escoamento da produção.
  • Biocombustíveis e Bioinsumos: Acordos recentes têm focado na produção de combustível sustentável de aviação (SAF) e na instalação de fábricas de fertilizantes, além da expansão do mercado de bioinsumos.

Os impactos desses investimentos são diversos:

  • Aumento das Exportações: A China é o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, e a intensificação dos investimentos tende a solidificar essa parceria comercial.
  • Desenvolvimento Tecnológico: A cooperação pode trazer novas tecnologias e práticas para o campo brasileiro, beneficiando a produtividade e a sustentabilidade.
  • Desafios Legais e Sociais: A aquisição de terras por estrangeiros continua sendo um tema sensível e regulado no Brasil, gerando debates sobre soberania e os impactos sociais e ambientais.
  • Integração da Cadeia Produtiva: O capital chinês busca integrar-se em diferentes elos da cadeia produtiva, desde a produção de sementes e insumos até o processamento e a logística.

Em resumo, a China tem uma presença cada vez mais estratégica no agronegócio brasileiro, focando em garantir o fornecimento de alimentos, desenvolver tecnologias e fortalecer a infraestrutura, com um olhar atento às oportunidades de investimento em todo o ciclo produtivo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima