O Mundo Natural Aristotélico

O mundo natural para Aristóteles é fundamentalmente diferente da visão moderna da ciência. Para ele, a natureza (physis) não é apenas um conjunto de coisas ou um domínio de entidades, mas sim um princípio interno e uma causa que impulsiona o movimento e o repouso dos seres.

Aqui estão os pilares do mundo natural aristotélico:


 

1. Natureza como Princípio Interno de Movimento

 

A principal ideia é que as coisas naturais têm em si mesmas a fonte de seu próprio movimento e mudança. Ao contrário de objetos artificiais, que precisam de uma causa externa para se moverem (como uma mesa que só se move se alguém a empurrar), um animal, uma planta ou uma pedra se movem e mudam de acordo com sua própria natureza intrínseca.


 

2. O Cosmos Geocêntrico e os Elementos

 

Aristóteles concebeu um universo geocêntrico, com a Terra imóvel no centro. O cosmos é dividido em duas regiões distintas:

  • Região Sublunar (Terrestre): Esta região, abaixo da Lua, é composta por quatro elementos:
    • Terra: Naturalmente tende a ir para baixo, em direção ao centro do universo (por isso objetos pesados caem).
    • Água: Também tende para baixo, mas fica acima da terra.
    • Ar: Naturalmente tende a subir.
    • Fogo: Naturalmente tende a subir, para o seu lugar “natural” mais alto.

      Esses elementos estão em constante mudança e transformação, sujeitos à geração e corrupção.

  • Região Supralunar (Celestial): Acima da Lua, os corpos celestes (Lua, Sol, planetas, estrelas) são feitos de um quinto elemento, o éter (ou quintessência). Este elemento é perfeito, imutável e incorruptível, e os corpos celestes se movem em esferas concêntricas de forma eterna e circular, o movimento mais perfeito.

 

3. Movimento Natural e Movimento Violento

 

  • Movimento Natural: É o movimento inato de um corpo em direção ao seu lugar natural no cosmos. Por exemplo, uma pedra caindo em direção à Terra é um movimento natural. O fogo subindo é outro exemplo.
  • Movimento Violento: É qualquer movimento que não seja natural, ou seja, que é causado por uma força externa que age contra a natureza do corpo. Empurrar uma pedra para cima seria um movimento violento, pois ela naturalmente tende a ir para baixo.

 

4. As Quatro Causas

 

Para entender qualquer coisa no mundo natural, Aristóteles propôs as Quatro Causas:

  • Causa Material: Do que algo é feito (ex: a madeira de uma mesa).
  • Causa Formal: A forma ou essência de algo, o que o torna aquilo que é (ex: o desenho e a estrutura que fazem da madeira uma mesa).
  • Causa Eficiente: O agente que produz a mudança ou o objeto (ex: o carpinteiro que constrói a mesa).
  • Causa Final (Teleológica): O propósito ou finalidade para a qual algo existe ou se move (ex: o propósito de uma mesa é servir para refeições ou trabalho).

A causa final é especialmente importante na filosofia da natureza aristotélica, pois tudo no mundo natural, incluindo os seres vivos, tende a realizar sua própria finalidade ou potencial intrínseco (telos).


 

5. Mudança e Potência/Ato

 

Aristóteles via a mudança como um processo fundamental no mundo natural. Ele a explicava através dos conceitos de potência (o que algo pode se tornar) e ato (o que algo é no presente). Por exemplo, uma semente tem a potência de se tornar uma árvore, e ao se desenvolver, ela atualiza essa potência em ato.


Em resumo, o mundo natural aristotélico é um cosmos teleológico, onde tudo tem uma natureza intrínseca que o impulsiona a buscar seu lugar natural e a realizar seu propósito. É um sistema orgânico e hierárquico, muito diferente da visão mecanicista do universo que surgiria com a ciência moderna.

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