Antonio Gramsci (1891-1937) foi um dos mais importantes filósofos marxistas, teóricos políticos, jornalistas e ativistas italianos do século XX. Ele é amplamente reconhecido por suas contribuições inovadoras à teoria política e à sociologia, especialmente em relação ao conceito de hegemonia cultural.
Biografia e Atuação Política
Nascido na Sardenha, Itália, Gramsci teve uma infância marcada por dificuldades financeiras. Apesar disso, conseguiu estudar na Universidade de Turim, onde se envolveu com círculos socialistas. Em 1913, filiou-se ao Partido Socialista Italiano e, mais tarde, foi um dos fundadores do Partido Comunista da Itália (PCI), tornando-se seu secretário-geral e deputado.
Como jornalista, publicou em diversos periódicos de esquerda, como o “Avanti!” e o “L’Ordine Nuovo”, que ele próprio fundou. Seus escritos eram conhecidos pela erudição e pela análise aprofundada da realidade política e social da Itália.
A ascensão do fascismo na Itália levou à sua prisão pelo regime de Benito Mussolini em 1926. Ele permaneceu na prisão até pouco antes de sua morte, em 1937, devido a complicações de saúde.
Principais Contribuições e Obras
Durante seu período de encarceramento, Gramsci produziu sua obra mais famosa e influente: os “Cadernos do Cárcere”. Escritos entre 1929 e 1935, esses cadernos são um conjunto de anotações, reflexões e ensaios sobre uma vasta gama de temas, incluindo história, filosofia, política, cultura e educação.
A contribuição mais original de Gramsci para a teoria marxista é o conceito de hegemonia. Para ele, a dominação de uma classe social não se dá apenas pela coerção (uso da força e do poder do Estado), mas também e, principalmente, pelo consenso. A hegemonia, nesse sentido, é a capacidade de uma classe dominante de exercer liderança intelectual e moral sobre a sociedade, moldando os valores, crenças e normas culturais de forma que os grupos subordinados aceitem a ordem social existente como legítima e natural.
Gramsci argumentou que, para alcançar a hegemonia, a classe dominante utiliza instituições da sociedade civil (como escolas, igrejas, meios de comunicação, sindicatos) para disseminar sua ideologia e construir um “bloco histórico” de forças sociais que apoiem seus interesses.
Outros conceitos importantes desenvolvidos por Gramsci incluem:
- Estado Integral: A ideia de que o Estado não é apenas o governo e suas instituições coercitivas, mas também o conjunto de relações e instituições da sociedade civil que contribuem para a reprodução da hegemonia.
- Guerra de Posição e Guerra de Movimento: Estratégias de luta política. A guerra de movimento seria uma confrontação direta e rápida (como a revolução russa), enquanto a guerra de posição seria uma batalha mais longa e complexa para construir contra-hegemonia na sociedade civil.
- Intelectuais Orgânicos: Intelectuais que surgem de uma classe social específica e que articulam e disseminam a ideologia dessa classe, em contraste com os “intelectuais tradicionais”, que tendem a ser mais independentes ou ligados a estruturas anteriores.
A obra de Gramsci continua sendo uma referência fundamental para estudos nas áreas de ciência política, sociologia, comunicação e estudos culturais, oferecendo ferramentas conceituais para analisar as relações de poder e a construção do consenso em diversas sociedades.