Resultado Econômico Vs. Resultado Financeiro - Gustavo Benício

Em finanças e contabilidade, é crucial entender a diferença entre resultado econômico e resultado financeiro, e como eles se relacionam com os regimes de competência e caixa, a disponibilidade e a saúde de um negócio.

Resultado Econômico

O resultado econômico (ou lucro contábil) é determinado pela comparação das receitas geradas por uma empresa com as despesas incorridas em um determinado período, independentemente de quando o dinheiro foi efetivamente recebido ou pago. Ele é apurado utilizando o regime de competência.

Regime de Competência: Neste regime, as receitas são reconhecidas quando são ganhas (ou seja, quando o serviço é prestado ou o produto é entregue), e as despesas são reconhecidas quando são incorridas (quando o recurso é utilizado ou o benefício é recebido), independentemente do fluxo de caixa. Isso significa que uma venda a prazo é reconhecida como receita no momento da venda, mesmo que o recebimento ocorra meses depois. Da mesma forma, uma compra a prazo é reconhecida como despesa no momento da compra, mesmo que o pagamento seja futuro.

O resultado econômico é fundamental para avaliar a rentabilidade e a geração de riqueza de uma empresa em um dado período. Ele oferece uma visão mais precisa da performance operacional do negócio, pois casa receitas com as despesas que as geraram.

Resultado Financeiro

O resultado financeiro (ou fluxo de caixa líquido) foca nos movimentos de entrada e saída de dinheiro da empresa. Ele é apurado utilizando o regime de caixa.

Regime de Caixa: Neste regime, as receitas são reconhecidas apenas quando o dinheiro é efetivamente recebido, e as despesas são reconhecidas apenas quando o dinheiro é efetivamente pago. Ou seja, uma venda a prazo só se torna receita quando o cliente paga, e uma compra a prazo só se torna despesa quando a empresa efetua o pagamento.

O resultado financeiro é essencial para analisar a liquidez e a capacidade de pagamento da empresa. Ele mostra se a empresa tem dinheiro suficiente em caixa para honrar seus compromissos imediatos e financiar suas operações.

Conceito de Disponibilidades

As disponibilidades representam os recursos que uma empresa possui em dinheiro ou que podem ser convertidos rapidamente em dinheiro, sem perda significativa de valor. Em outras palavras, é o dinheiro “vivo” que a empresa tem para usar.

As principais contas contábeis que constituem as disponibilidades são:

Caixa: Dinheiro em espécie que a empresa possui fisicamente.
Bancos Conta Movimento: Saldo das contas correntes da empresa em instituições bancárias.
Aplicações Financeiras de Curto Prazo (ou Liquidez Imediata): Investimentos que podem ser resgatados rapidamente, sem prejuízo significativo, como fundos DI de liquidez diária.

Relacionamento com Regime de Caixa, Resultado Financeiro e Fluxos de Caixa

As disponibilidades estão diretamente ligadas ao regime de caixa, ao resultado financeiro e aos fluxos de caixa.

Regime de Caixa: O saldo das disponibilidades é o reflexo direto das transações registradas pelo regime de caixa. Quando uma receita é recebida, as disponibilidades aumentam; quando uma despesa é paga, elas diminuem.
Resultado Financeiro: O resultado financeiro, sendo o saldo entre as entradas e saídas de caixa, impacta diretamente as disponibilidades. Um resultado financeiro positivo aumenta as disponibilidades, enquanto um resultado financeiro negativo as diminui.
Fluxos de Caixa: A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é o relatório contábil que detalha todas as entradas e saídas de dinheiro, classificando-as em atividades operacionais, de investimento e de financiamento. O saldo final da DFC demonstra a variação líquida das disponibilidades em um período. A DFC é a representação mais completa dos fluxos de caixa de uma empresa.

Uma Empresa Pode Ter Resultado Econômico Positivo e Resultado Financeiro Negativo?

Sim, uma empresa pode ter resultado econômico positivo e resultado financeiro negativo. Essa é uma situação bastante comum e perigosa para a saúde de um negócio.

Por que isso acontece?

Isso ocorre principalmente devido às diferenças nos regimes de reconhecimento de receitas e despesas:

Vendas a Prazo: A empresa realiza muitas vendas a prazo. Pelo regime de competência, essas vendas são imediatamente reconhecidas como receita, gerando lucro econômico. No entanto, o dinheiro dessas vendas ainda não entrou no caixa da empresa, impactando negativamente o resultado financeiro.
Grandes Investimentos: A empresa pode ter realizado grandes investimentos (compra de máquinas, equipamentos, imóveis) que foram pagos à vista ou com pouca entrada. Embora esses investimentos sejam capitalizados (e depreciados ao longo do tempo, afetando o resultado econômico), a saída de caixa é imediata e substancial, diminuindo as disponibilidades.
Aumento de Estoques: Se a empresa compra grandes quantidades de matéria-prima ou produtos acabados para estoque, há uma saída de caixa significativa. Essa compra pode não se tornar uma despesa (custo dos produtos vendidos) até que os itens sejam realmente vendidos, mas o caixa já foi utilizado.
Pagamento de Dívidas Antigas: A empresa pode estar pagando dívidas ou empréstimos de períodos anteriores. Esses pagamentos são saídas de caixa que não necessariamente se relacionam com despesas do período atual que impactam o resultado econômico.
Despesas Contratadas x Pagas: A empresa pode ter incorrido em despesas (salários, aluguéis, fornecedores) que já foram reconhecidas pelo regime de competência, mas que ainda não foram pagas, ou vice-versa. Por exemplo, despesas pré-pagas (seguros, aluguéis antecipados) representam uma saída de caixa no presente, mas seu reconhecimento como despesa econômica se dará ao longo do tempo.

Resultados Financeiros Negativos Podem Quebrar um Negócio?

Sim, resultados financeiros negativos, se prolongados e não gerenciados, podem facilmente levar um negócio à falência, mesmo que ele seja lucrativo economicamente.

Explicação em detalhes:

O ditado “Caixa é Rei” (Cash is King) resume bem a importância do resultado financeiro. Uma empresa, independentemente de quão lucrativa ela apareça no papel (resultado econômico), precisa de dinheiro em caixa para operar.

Um resultado financeiro negativo significa que as saídas de caixa estão superando as entradas. Se essa situação persistir, a empresa pode enfrentar:

Incapacidade de Pagar Contas: Sem dinheiro em caixa, a empresa não consegue pagar seus fornecedores, salários de funcionários, aluguéis, empréstimos, impostos e outras obrigações financeiras.
Interrupção das Operações: Fornecedores podem suspender o crédito, funcionários podem entrar em greve ou pedir demissão, e bancos podem se recusar a conceder novos empréstimos. Isso paralisa as operações do negócio.
Perda de Credibilidade: A incapacidade de honrar compromissos financeiros abala a confiança de fornecedores, clientes, funcionários e investidores, dificultando a recuperação.
Aumento do Endividamento: Para cobrir o déficit de caixa, a empresa pode ser forçada a buscar empréstimos caros ou a vender ativos essenciais, piorando ainda mais sua situação financeira a longo prazo.
Falência: Se a empresa não conseguir gerar caixa ou obter financiamento externo para cobrir suas necessidades, ela inevitavelmente esgotará suas disponibilidades e será incapaz de continuar operando, levando à falência.

Em resumo, o lucro econômico demonstra a capacidade de gerar valor, mas o caixa demonstra a capacidade de sobreviver. Uma empresa pode ser economicamente lucrativa no longo prazo, mas se ela não tiver caixa suficiente para sustentar suas operações no curto prazo, ela simplesmente não sobreviverá para colher esses lucros futuros.

Importância do Registro, Controle e Ajustes de Planejamento e Execução Financeira

É de vital importância que uma empresa faça o registro, controle e ajustes de planejamento e execução financeira, ou seja, monitore e ajuste suas transações à medida que elas ocorrem, utilizando os dois regimes concomitantemente (competência e caixa).

Por que Concomitantemente?

Visão Completa da Saúde do Negócio:
- O regime de competência oferece uma visão da rentabilidade real e da performance operacional da empresa ao longo do tempo. Ele é crucial para a tomada de decisões estratégicas de longo prazo, como precificação de produtos, avaliação de projetos e análise da eficiência dos processos.
- O regime de caixa fornece uma imagem clara da liquidez e da capacidade de pagamento imediato da empresa. Ele é vital para a gestão do dia a dia, garantindo que haja dinheiro para pagar as contas e evitar interrupções operacionais.
Identificação de Problemas Antecipadamente:
- Ao comparar os resultados dos dois regimes, gestores podem identificar potenciais problemas. Por exemplo, um resultado econômico positivo com um resultado financeiro negativo persistente sinaliza um problema de fluxo de caixa, exigindo ações corretivas antes que se torne uma crise de liquidez.
- Permite a análise das diferenças de tempo entre o reconhecimento da receita/despesa e a entrada/saída de caixa (ciclo operacional e ciclo financeiro).
Melhor Tomada de Decisão:
- Compreender ambos os resultados permite decisões mais informadas sobre:
  - Política de Crédito e Cobrança: Ajustar prazos de recebimento de clientes.
  - Política de Pagamento a Fornecedores: Negociar prazos de pagamento.
  - Gestão de Estoques: Evitar imobilização excessiva de capital.
  - Planejamento de Investimentos: Assegurar que há caixa disponível para os desembolsos.
  - Necessidade de Capital de Giro: Calcular o capital necessário para manter as operações.
Elaboração de Orçamentos e Projeções Financeiras Precisas:
- O acompanhamento dos dois regimes permite a criação de orçamentos mais realistas e projeções de fluxo de caixa mais precisas, que são fundamentais para o planejamento estratégico e a captação de recursos.
Gestão Contínua e Ajustes Proativos:
- O monitoramento contínuo das transações sob os dois regimes, em vez de apenas no final do período contábil, permite que a empresa faça ajustes proativos em seu planejamento e execução financeira. Se o fluxo de caixa projetado começar a se desviar negativamente do real, a gestão pode intervir rapidamente, seja buscando financiamento, acelerando recebimentos, renegociando pagamentos ou cortando despesas não essenciais.
- Essa agilidade é crucial em um ambiente de negócios dinâmico, onde as condições podem mudar rapidamente.

Em suma, a gestão financeira eficaz não se baseia apenas em saber se a empresa é lucrativa no papel, mas também em garantir que ela tenha dinheiro suficiente para sustentar suas operações e crescer. A combinação dos regimes de competência e caixa oferece uma visão 360 graus da saúde financeira do negócio, capacitando os gestores a tomar decisões informadas e a navegar por desafios financeiros de forma mais resiliente.