Para combater a obsessão, a Doutrina Espírita aponta para a única solução duradoura, que une a filosofia antiga de Sócrates (o autoconhecimento) ao Evangelho de Jesus (a caridade):
✅ 1. ESTUDO SÉRIO (Conhecimento):
- Estude as obras básicas! O conhecimento da Doutrina e da identidade dos Espíritos é o filtro essencial para não cair na armadilha da Fascinação.
 
✅ 2. MORAL/REFORMA ÍNTIMA (Sintonia):
- A Obsessão é falta de sintonia com o Bem. O esforço para viver as Leis Morais (justiça, temperança, humildade) eleva a sua vibração e afasta, por repulsão fluídica, os Espíritos inferiores.
 
✅ 3. CARIDADE EM AÇÃO (Amor):
- A solução não é expulsar, mas doutrinar com amor. A Caridade estendida ao Espírito obsessor e ao próximo, acompanhada da prece, é o caminho que transforma o conflito em reconciliação e cura.
 
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Introdução: A Luz da Razão sobre o Fenomenologia
O estudo da mediunidade, tal como proposto por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns (FEB, 2016, 2ª ed.), não se restringe à descrição das faculdades psíquicas, mas se aprofunda nos desafios e nas responsabilidades que acompanham a comunicação entre os dois planos da vida. O Capítulo XXIII – Da Obsessão é um marco nesse sentido, pois desvela um dos fenômenos mais complexos e dolorosos da intercâmbio espiritual, tirando-o do campo do mistério e da invisibilidade para a clareza da Doutrina Espírita.
Neste artigo, vamos transcrever e analisar em detalhes este capítulo crucial, aprofundando o tema com referências doutrinárias e filosóficas essenciais para sua compreensão integral.
1. O Conceito e as Formas da Obsessão Segundo Kardec
Allan Kardec inicia o capítulo definindo a obsessão de forma direta, distinguindo-a das aflições puramente físicas ou psicológicas.
1.1. Transcrição e Definição (Itens 237 e 238)
Item 237:
“A obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem sinais exteriores sensíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.” (Kardec, 2016, p. 331)
Item 238:
“Difere da subjugação, no fato de na obsessão o Espírito ainda não ter chegado a dominar o indivíduo e de só haver uma influência intermitente ou parcial, ao passo que na subjugação o domínio é completo e constante.” (Kardec, 2016, p. 331)
1.2. Análise e Aprofundamento
A obsessão é uma ação perniciosa e persistente de um Espírito inferior. Sua causa reside, frequentemente, em dívidas do passado, desafetos, ou na sintonia moral do obsidiado com o obsessor, muitas vezes atraindo-o por suas próprias imperfeições.
Kardec classifica a obsessão em três graus principais, que servem de base para o entendimento e tratamento:
- Obsessão Simples (a mais comum): O Espírito se imiscui na vida do médium ou do indivíduo, inspirando-o com pensamentos e sugestões perturbadoras, que ele pode, em certa medida, resistir. O obsidiado mantém o controle de si.
 - Fascinação: O Espírito é mais sutil e faz com que o obsidiado aceite como boas e sublimes as comunicações mais absurdas. É um engano que atinge o julgamento e a razão. O fascinado não crê estar sendo enganado; pelo contrário, julga-se um privilegiado.
 - Subjugação (a mais grave): O Espírito domina por completo o indivíduo, paralisando sua vontade. Pode ser moral (compelindo a atos contrários à sua vontade) ou corporal (paralisando ou movimentando o corpo, como uma possessão, embora o Espiritismo rejeite a ideia de “posse” do corpo).
 
2. A Identidade dos Espíritos e o Combate à Crença no Mistério
Um ponto fundamental no tratamento e prevenção da obsessão, conforme o item 239 do capítulo, é a identidade dos Espíritos.
2.1. O Desvelamento da Invisibilidade e a Doutrina
A Doutrina Espírita, por princípio, desvela o mistério. A obsessão só é eficaz porque o obsidiado ignora a natureza e a intenção do Espírito que o influencia. Entender a identidade do Espírito, analisando seu linguajar, seu nível moral e a qualidade de seus ensinamentos, é o principal antídoto.
Por que a Doutrina Espírita remove o véu do que era invisível? Ao revelar que os “demônios” ou “forças do mal” são, na verdade, Espíritos imperfeitos (os mesmos que viveram na Terra e agem conforme seu grau de adiantamento), o Espiritismo retira o poder do medo e do mistério. O obsessor é um ser infeliz que se compraz no mal, mas não um ser com poder absoluto.
2.2. O Critério da Razão e da Moralidade
A Doutrina ensina que todo Espírito se revela pela qualidade de sua linguagem e moralidade de seus atos. Se a comunicação é vulgar, presunçosa, contraditória, ou incita ao mal, ela procede de um Espírito inferior. O estudo sério da Doutrina (a Teoria Espírita) é o filtro essencial.
3. A Lei de Sintonia e as Leis Morais
A Doutrina Espírita ensina que “o semelhante atrai o semelhante”. A causa da obsessão está intimamente ligada à Lei de Atração e Repulsão ou Lei de Sintonia.
3.1. As Leis Morais de O Livro dos Espíritos
As Leis Morais (Parte Terceira de O Livro dos Espíritos) são as leis de Deus que regem as relações dos indivíduos e a conduta moral. O conhecimento e a prática delas são a defesa mais eficaz contra a obsessão.
- Lei da Justiça, Amor e Caridade: A falta de caridade ou a prática da injustiça cria um campo vibratório de desequilíbrio, tornando a pessoa vulnerável a Espíritos que compartilham dessas mesmas vibrações.
 - Lei de Adoração: O verdadeiro culto a Deus se manifesta na prática do bem. A religiosidade superficial ou o fanatismo abrem portas à fascinação.
 
Relação com A Gênese: A sintonia é explicada pelos fluidos. “O fluido universal é o elemento primitivo, do qual derivam as modificações mais diversas, as quais, de acordo com a Gênese, constituem a matéria ponderável e imponderável” (A Gênese, cap. XIV). As imperfeições morais criam fluidos impuros que atuam como um ímã para Espíritos inferiores.
3.2. Moral: De Sócrates e Platão ao Evangelho
O conceito de Moral — a ciência do Bem e do Mal — é a base da defesa contra a obsessão.
- Sócrates (Século V a.C.): O princípio da Moral está no autoconhecimento (“Conhece-te a ti mesmo”). A virtude reside na razão e o vício na ignorância. Para Sócrates, ninguém faz o mal conscientemente, mas por ignorância do Bem.
 - Platão (Século IV a.C.): Desenvolveu o conceito, ligando a Moral à busca pela Ideia do Bem, que é a suprema realidade. A vida virtuosa leva à harmonia da alma.
 
O Espiritismo abraça essa base racional, elevando-a com o conceito evangélico: a Moral de Jesus, que resume a Lei Divina na Caridade Pura (amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo).
Conclusão: A obsessão se instala onde a moral socrática (razão/autoconhecimento) falha e a moral evangélica (caridade/amor) está ausente.
4. O Papel da Mediunidade e Seu Desenvolvimento
O médium, por ter uma faculdade mais ostensiva, é um alvo preferencial, mas não exclusivo, da obsessão.
4.1. Desenvolvimento Mediúnico e o Estudo Sério
Kardec enfatiza que a melhor defesa do médium é o desenvolvimento moral acompanhado do estudo sério e contínuo da Doutrina.
- O estudo sério (das obras básicas) confere o critério universal (a concordância das informações entre os Espíritos sérios) para julgar as comunicações, evitando a fascinação.
 - O desenvolvimento da mediunidade deve ser feito com sinceridade e humildade, afastando a vaidade, que é um portal aberto à fascinação.
 
Referência: O Evangelho Segundo o Espiritismo – O cap. XVII, Sede Perfeitos, é o guia moral do médium e do indivíduo. A perfeição é um escudo contra as influências inferiores.
4.2. A Importância da Prece e da Caridade
Kardec afirma que o obsidiado tem um papel ativo na sua cura. Não basta afastar o obsessor; é preciso reforma íntima.
- A Caridade: Estender a mão ao próximo e, principalmente, ao Espírito obsessor (a caridade para com os mortos). O tratamento espírita não é de “expulsão”, mas de evangelização e doutrinação do Espírito sofredor.
 - A Prece: A prece fervorosa eleva a vibração do obsidiado e atrai a assistência de Espíritos Superiores, fortalecendo sua vontade e moral.
 
5. O Tratamento da Obsessão: A Caridade em Ação
O capítulo XXIII é prático ao indicar que o tratamento eficaz exige perseverança, paciência e, acima de tudo, caridade.
5.1. Ação sobre o Obsidiado (O Efeito)
O obsidiado deve ser orientado a mudar seu padrão vibratório por meio da reforma moral, do cultivo de bons pensamentos e da prática do bem.
5.2. Ação sobre o Obsessor (A Causa)
É fundamental o diálogo fraterno e doutrinador com o Espírito obsessor em reunião mediúnica séria. O objetivo é despertar nele o senso moral e a compreensão do mal que faz a si e ao outro, encaminhando-o ao arrependimento e ao estudo.
Referência: Desobsessão (André Luiz/Chico Xavier) e Nos Domínios da Mediunidade (André Luiz/Chico Xavier) detalham as técnicas de diálogo e a complexidade do tratamento em equipe, reforçando a metodologia kardecista.
Conclusão: A Obsessão é Falta de Amor e Desconhecimento
O Capítulo XXIII – Da Obsessão de O Livro dos Médiuns é uma obra-prima de clareza e racionalidade. Ele nos ensina que o maior poder do Espírito inferior reside na ignorância e na imperfeição moral do indivíduo.
A libertação da obsessão não está em rituais ou mistérios, mas na aplicação prática da Doutrina:
- Estudo Sério (Conhecimento): Para identificar e julgar a identidade dos Espíritos.
 - Moral Socrática (Autoconhecimento): Para identificar e corrigir as próprias imperfeições.
 - Caridade Evangélica (Amor): Para reerguer o obsidiado e estender a mão fraterna ao obsessor.
 
A obsessão é, em última análise, uma questão de Lei Moral e sintonia vibratória. A única blindagem duradoura é a reforma íntima, o Evangelho no coração e a Caridade em ação.