De acordo com o Espiritismo, a deificação de Jesus — a ideia de que Jesus é o próprio Deus ou uma das pessoas da Trindade (Deus Filho) — não é aceita no sentido dogmático tradicional.
O Espiritismo tem uma visão clara e diferente sobre a natureza de Jesus:
- Espírito mais Perfeito: Jesus é considerado o Espírito mais puro e perfeito que já encarnou na Terra, sendo o Guia e Modelo para toda a Humanidade terrestre. Ele é o Governador Espiritual do planeta.
- Criatura de Deus: Como todos os Espíritos, ele foi criado por Deus (simples e ignorante no início, como todos), mas alcançou, por mérito próprio e evolução, a mais alta perfeição moral e intelectual, tornando-se um Espírito Puro (o ponto culminante da escala espírita).
- Não é Deus: O Espiritismo o diferencia de Deus, que é o Ser Supremo, único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom. A superioridade de Jesus é em relação aos outros Espíritos encarnados e desencarnados que habitam ou tutelam a Terra, não sendo, ele próprio, a Divindade.
- Mensageiro Divino: Sua missão foi trazer a Lei de Deus em sua expressão mais pura e elevada (o Evangelho, baseado no Amor e Caridade), sendo um mensageiro direto de Deus, mais que um profeta.
Em resumo, a deificação no sentido de Jesus ser o próprio Deus ou igual a Ele é rejeitada, mas o Espiritismo reconhece sua superioridade moral, intelectual e espiritual como o Cristo, o Modelo de perfeição que a Humanidade deve aspirar. Ele é visto como o Modelo mais perfeito de homem que Deus ofereceu para servir de guia.
O texto abaixo detalha o entendimento sobre a natureza de Jesus (a questão da deificação) e o significado do Espírito Santo, conforme a Doutrina Espírita.
Jesus e o Espírito da Verdade: A Visão da Doutrina Espírita
Sumário
- A Jornada de um Espírito: Desmistificando a Deificação de Jesus
- O Modelo Mais Perfeito
- A Distinção Necessária: Jesus e Deus
- A Prova na Codificação
- O Espírito Santo: O Consolador Prometido
- O Conceito Trinitário e o Entendimento Espírita
- O Espírito Santo como Força Universal e Sabedoria Individual
- A Terceira Revelação e a Promessa de Jesus
- O Legado: O Cristo Interior e a Lei Divina
1. A Jornada de um Espírito: Desmistificando a Deificação de Jesus
A história da humanidade está intrinsecamente ligada à figura de Jesus de Nazaré. No entanto, o Espiritismo, ao descortinar a realidade do mundo espiritual e a lei da evolução, propõe uma lente diferente para compreender a natureza do Cristo, afastando-se da ideia da deificação dogmática que o coloca como o próprio Deus.
O Espiritismo não diminui Jesus; ele o exalta de forma profunda, mas racional, inserindo-o na ordem universal da criação.
1.1. O Modelo Mais Perfeito
Segundo a Doutrina Espírita, todos fomos criados por Deus, simples e ignorantes, com o potencial infinito de evoluir e alcançar a perfeição. Jesus é o Espírito que já atingiu esse ápice.
Ele é o nosso Modelo e Guia na Terra, aquele que percorreu toda a escala evolutiva e se tornou um Espírito Puro, em completa sintonia com a vontade divina. Por isso, seus ensinamentos são a expressão mais pura da Lei de Deus.
Passagem da Doutrina Espírita:
Questão 625 de O Livro dos Espíritos:
Pergunta: “Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?”
Resposta: “Jesus.”
Comentário de Kardec: “Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da Lei do Senhor, porque o espírito divino o animava, e porque foi o ser mais puro de quantos têm aparecido na Terra.”
1.2. A Distinção Necessária: Jesus e Deus
A deificação, que o coloca como Ser Supremo (Deus) ou co-igual a Ele, entra em conflito com o princípio fundamental espírita de que Deus é único, eterno, imutável e incriado. Jesus, por ser um Espírito (ainda que Puro), é, portanto, uma criatura do Ser Supremo.
A confusão histórica em torno da sua natureza, que resultou nos dogmas da Trindade, deve-se à dificuldade humana da época em compreender a superioridade de um Espírito que já estava em um patamar de evolução inimaginável. As obras consideradas “milagres” nada mais eram do que o domínio perfeito sobre as leis da Natureza e o manejo dos fluidos, inerentes a um Espírito de tamanha pureza.
Passagem Bíblica (ênfase espírita na distinção):
Ao ressuscitar, Jesus diz a Maria Madalena:
“Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus.” (João, 20:17)
Esta frase é frequentemente citada no Espiritismo para mostrar que Jesus estabelece uma distinção clara entre Ele e Deus, colocando-se na condição de filho (e irmão da humanidade), ao invés de ser o próprio Pai.
1.3. A Prova na Codificação
Allan Kardec, ao analisar a natureza do Cristo em A Gênese, ressalta que Jesus não agia como um médium, transmitindo a mensagem de terceiros, mas sim por sua própria autoridade e pureza, sendo o mensageiro direto do Pai. Ele possuía a organização carnal de um homem, mas o Espírito de um anjo.
2. O Espírito Santo: O Consolador Prometido
Se Jesus não é o próprio Deus, o que é, então, o Espírito Santo, a terceira “pessoa” da Trindade, que nas Escrituras é prometido como o “Consolador”?
O Espiritismo entende o termo “Espírito Santo” não como uma pessoa distinta e co-igual a Deus e a Jesus, mas sim em dois sentidos complementares:
2.1. O Conceito Trinitário e o Entendimento Espírita
No Espiritismo, a ideia de Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) é substituída pela trindade universal de: Deus (Inteligência Suprema, Causa Primeira de todas as coisas), Espírito (o princípio inteligente do universo) e Matéria (o princípio material).
O Espírito Santo, como conceito, relaciona-se com o Princípio Espiritual ou, mais especificamente, com a Força Divina que anima a Criação e, de modo especial, com a Manifestação da Sabedoria e Bondade de Deus.
2.2. O Espírito Santo como Força Universal e Sabedoria Individual
O termo pode ser compreendido como:
- O Espírito da Verdade: O conjunto dos Espíritos Superiores, sob a égide do próprio Jesus, que trabalha para o progresso da humanidade.
- A Essência Divina em Nós: Aquilo que habita em cada ser humano e o impulsiona à moralidade e ao bem. É a centelha divina, o Espírito criado por Deus, que, por essência, é bom e tem a lei moral inscrita na consciência.
O que “habita em nós” e nos torna templos de Deus (1 Coríntios 3:16) é nosso próprio Espírito (em processo de aperfeiçoamento) e a lei de Deus (a consciência) que nos guia, sendo essa a verdadeira manifestação da força divina em nosso íntimo.
2.3. A Terceira Revelação e a Promessa de Jesus
Jesus, prevendo a necessidade de um entendimento mais profundo e racional da Lei Divina, prometeu o retorno do Consolador.
Passagem Bíblica (a promessa):
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (João, 14:26)
O Espiritismo se apresenta como o cumprimento dessa promessa. Ele não veio substituir o Evangelho, mas sim explicá-lo, lembrando a humanidade da lei do amor e desvendando os mistérios sobre a vida futura (a imortalidade, a reencarnação, a comunicação com os Espíritos), que a religião dogmática havia obscurecido.
Passagem da Doutrina Espírita (o Consolador):
Capítulo VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo:
“O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo, presidido pelo Espírito de Verdade, preparando o reinado do bem, que deve ser a herança da Terra.”
3. O Legado: O Cristo Interior e a Lei Divina
A Doutrina Espírita convida, portanto, a uma fé raciocinada e a uma visão mais íntima da espiritualidade.
A deificação de Jesus não é necessária, pois a sua grandeza reside justamente no fato de Ele ter alcançado a perfeição moral como criatura de Deus, mostrando o caminho que todos nós podemos percorrer. Ele é o farol que ilumina a rota, mas a jornada é individual.
O verdadeiro “Espírito Santo” que habita em nós é o nosso Espírito Imortal, que guarda a Lei Divina na consciência e que é assistido pelos Espíritos Protetores (ou Anjos Guardiães). É essa força interior, a voz da consciência, que nos convida a seguir o modelo de Jesus: o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
O legado de Jesus não está em um dogma, mas sim na prática da Caridade e na busca incessante pela nossa própria evolução moral. É assim que cada um de nós se torna, verdadeiramente, um “templo do Espírito Santo” – um santuário da Lei de Deus.