Médiuns Especiais: A Profunda Diversidade da Mediunidade e os Fatores da Qualidade (Capítulo XVI do Livro dos Médiuns)

Sumário

O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, é a obra capital para quem deseja compreender a comunicação com o mundo espiritual. Em sua segunda parte, o Capítulo XVI, intitulado “Médiuns Especiais”, desdobra a faculdade mediúnica em uma miríade de aptidões, mostrando que a mediunidade é tão rica e variada quanto os talentos humanos.

Baseado na tradução de Evandro Noleto Bezerra (FEB, 2016), este artigo propõe um estudo detalhado da classificação mediúnica e dos fatores essenciais que determinam a qualidade, a moralidade e a veracidade de qualquer intercâmbio.

 

O Conceito Kardequiano de Aptidões Especiais

 

Kardec estabelece que, embora todos sejamos passíveis da influência dos Espíritos, a mediunidade de intercâmbio ativo se manifesta através de aptidões especiais. A manifestação é o resultado da conjugação de dois fatores: a Natureza do Espírito comunicante e a Aptidão Física/Orgânica do Médium.

💡 Em resumo: A especialidade garante a forma da comunicação, mas não necessariamente a qualidade ou a verdade do seu conteúdo.

 

A Classificação Completa e Detalhada dos Médiuns

 

A Doutrina Espírita reconhece uma vasta diversidade. A classificação completa abrange todas as formas de manifestação e as condições do instrumento:

 

I. Grandes Categorias e Espécies Comuns

 

Categoria Principal Característica
Médiuns de Efeitos Físicos Produzem fenômenos materiais (movimentos, ruídos, aparições).
Médiuns de Efeitos Intelectuais Recebem comunicações regulares e contínuas de ordem do pensamento.
Espécies Comuns Característica
Sensitivos Sentem a presença dos Espíritos pela impressão geral ou vaga.
Naturais ou Inconscientes Produzem fenômenos de forma espontânea, sem ter consciência da faculdade.
Facultativos ou Voluntários Têm a faculdade de produzir os fenômenos pela sua vontade.

 

II. Variedades Especiais para Efeitos Físicos

 

São as aptidões que permitem a produção de fenômenos materiais, atuando sobre a matéria inerte ou viva:

  • Médiuns Tiptólogos: Produzem pancadas (tiptologia) ou ruídos que servem de comunicação.
  • Médiuns Motores: Provocam o movimento e o deslocamento de objetos inertes.
  • Médiuns de Translações e de Suspensões: Habilidosos em suspender objetos ou pessoas no ar, sem contato.
  • Médiuns de Efeitos Musicais: Produzem música sem a intervenção de mãos visíveis ou pelo som direto.
  • Médiuns de Aparições: Possibilitam que os Espíritos se tornem visíveis.
  • Médiuns de Transporte: Capazes de deslocar e trazer objetos de um lugar para outro.
  • Médiuns Pneumatógrafos (Escrita Direta): Por intermédio dos quais o Espírito consegue escrever diretamente sobre um papel.
  • Médiuns Curadores: Possuem o fluido necessário para realizar curas ou aliviar sofrimentos.
  • Médiuns Excitadores: Têm o poder de despertar a faculdade mediúnica em outros.
  • Médiuns Noturnos: Cuja manifestação ocorre preferencialmente no escuro (categoria obsoleta, mas registrada).

 

III. Médiuns Especiais para Efeitos Intelectuais

 

Focados na transmissão do pensamento, ideias e conhecimentos:

  • Médiuns Audientes (Clariaudientes): Escutam a voz dos Espíritos.
  • Médiuns Falantes (Psicofônicos): Servem de intérpretes para o Espírito, que se expressa pela palavra.
  • Médiuns Videntes (Clarividentes): Veem os Espíritos, em vigília ou em transe.
  • Médiuns Inspirados e de Pressentimentos: Recebem ideias ou têm intuições sutis de fatos futuros.
  • Médiuns Proféticos: Recebem comunicações sobre eventos futuros com grande clareza.
  • Médiuns Sonâmbulos e Extáticos: Comunicam-se em estados de transe profundo ou êxtase.
  • Médiuns Pintores, Desenhistas e Músicos: Instrumentos para a expressão artística do Espírito.

 

IV. Variedades dos Médiuns Escreventes (Psicógrafos)

 

 

Segundo o Modo de Execução:

 

  • Médiuns Escreventes Mecânicos: A mão age involuntariamente.
  • Médiuns Semimecânicos: A mão é impulsionada, mas o médium tem consciência das palavras.
  • Médiuns Intuitivos: O Espírito transmite o pensamento para o cérebro, e o médium o escreve como se fosse seu.
  • Médiuns Polígrafos, Poliglotas e Iletrados: Escrevem com caligrafias, em línguas ou estilos que lhes são desconhecidos.

 

Segundo o Desenvolvimento e Gênero:

 

  • Médiuns Novatos, Improdutivos e Feitos ou Formados: Estágios de desenvolvimento da faculdade.
  • Médiuns Lacônicos e Explícitos: Diferenciam-se pelo volume e extensão das comunicações.
  • Médiuns Experimentados: Aqueles que aprenderam a lidar com as dificuldades e os Espíritos enganadores.
  • Médiuns Maleáveis e Exclusivos: Recebem comunicações de muitos Espíritos ou predominantemente de um só.
  • Médiuns de Gênero (Versificadores, Científicos, Moralistas, etc.): Especializam-se em temas específicos.

 

V. Segundo as Qualidades Morais dos Médiuns

 

Esta é a classificação mais crucial, definindo a segurança e o nível dos Espíritos atraídos:

 

5.1) Médiuns Imperfeitos (Alvos de Advertência) ⚠️

 

Esta categoria não se refere à qualidade orgânica da faculdade, mas à qualidade moral e ética do médium. Suas imperfeições íntimas (como o orgulho e o egoísmo) atraem Espíritos de mesma sintonia, o que compromete a seriedade e pode levar a problemas espirituais sérios.

  • Médiuns Obsidiados, Fascinados e Subjugados: Sofrem, em graus diferentes, o jugo constante, a ilusão da visão ou o domínio físico/moral de Espíritos inferiores que se impõem.
  • Médiuns Levianos: Não dão a devida seriedade à faculdade, atraindo Espíritos zombeteiros e brincalhões.
  • Médiuns Presunçosos, Orgulhosos e Suscetíveis: Julgam-se instrumentos de Espíritos superiores e se ofendem com críticas, tornando-se cegos à falsidade das comunicações. A vaidade é o maior perigo.
  • Médiuns Mercenários e Ambiciosos: Tentam fazer da mediunidade uma fonte de lucro ou a buscam por glória. Atraem Espíritos de baixa moralidade, interessados apenas em recompensas materiais ou promessas vazias de poder.
  • Médiuns de Má-fé, Egoístas e Invejosos: Aqueles que fingem, adulteram comunicações ou utilizam o dom para a satisfação de vícios morais.

Advertência: Kardec enfatiza que as imperfeições morais são a principal causa de todos os desvios e problemas sérios na prática mediúnica. A reforma íntima é a melhor salvaguarda contra as obsessões.

 

5.2) Bons Médiuns

 

Aqueles que trabalham com seriedade, modéstia, devotamento e são considerados seguros, pois a sua moralidade atrai os Espíritos superiores.

 

A Influência dos Espíritos Superiores: Erasto e Sócrates

 

O estudo dos médiuns é inseparável da moralidade. Duas figuras históricas destacam-se no Livro dos Médiuns por sua sabedoria e rigor na instrução:

  • Sócrates: O filósofo grego é o arquétipo da busca pela verdade e da pureza de intenção. Suas comunicações são marcadas pela profundidade moral e o estímulo à reflexão íntima.
  • Erasto: Apresentando-se como Espírito do círculo de São João Evangelista, Erasto é um dos principais instrutores da obra. É notável por seu rigor, precisão e lógica na análise dos fenômenos, insistindo na necessidade de controle, razão e discernimento para evitar os enganos dos Espíritos levianos.

 

O Quádruplo Fator da Qualidade da Comunicação

 

A presença de Espíritos sérios como Erasto e Sócrates reforça o princípio de que a qualidade moral é a regra. A mensagem final é sempre o resultado de uma interação complexa, influenciada por quatro elementos vitais:

📣 Princípio Fundamental da Comunicação:

“Para que uma comunicação seja boa, é preciso que proceda de um Espírito bom; para que esse Espírito bom possa transmiti-la, é indispensável que disponha de um bom instrumento; para que ele queira transmiti-la, é necessário que o fim visado lhe convenha.”

(Allan Kardec, O Livro dos Médiuns)

 

1. Natureza do Espírito (A Fonte)

 

A mensagem é tão elevada quanto o Espírito que a transmite.

 

2. Natureza do Médium (O Filtro Moral)

 

O preparo moral do médium é o principal filtro. O Espírito bom precisa de um bom instrumento (humilde e sério).

 

3. O Pensamento Íntimo e a Intenção do Médium (O Fim Visado)

 

A imparcialidade do médium é vital. O Espírito bom só transmitirá a mensagem se o fim visado lhe convier, ou seja, se for sério e útil.

 

4. O Sentimento Mais ou Menos Louvável de Quem Interroga

 

A intenção de quem consulta estabelece o tom da comunicação. A seriedade atrai Espíritos sérios; a futilidade atrai Espíritos levianos.

 

Para Aprofundar o Estudo

 

Para quem deseja se aprofundar neste tema, recomendamos o vídeo de estudo sobre o Livro dos Médiuns.

 

Resenha: DOS MÉDIUNS ESPECIAIS – com Jorge Elarrat

 

O estudioso Jorge Elarrat, no quadro Entre Mundos, oferece um estudo conciso e aprofundado do Capítulo XVI. Ele destaca de forma clara a importância de distinguir a aptidão orgânica da elevação moral, reforçando o entendimento de que a classificação mediúnica não é um ranking de importância, mas sim um mapeamento das ferramentas de trabalho. É um excelente complemento para fixar os conceitos e a seriedade do trabalho mediúnico.

Assista ao vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=MtAyGvFca5k

 

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