A Escola Austríaca de Economia é contra os Bancos Centrais e a Moeda Fiduciária (Fiat Money)?

Sumário

Sim, a Escola Austríaca de Economia é profundamente contra os Bancos Centrais e a moeda fiduciária (ou moeda sem lastro).

Eles defendem a desestatização do dinheiro e veem o Banco Central e a moeda fiduciária como as principais causas da instabilidade econômica e dos ciclos de boom e crise.

Por Que a Escola Austríaca é Contra o Banco Central e a Moeda Fiduciária?

A crítica austríaca se baseia na ideia de que o dinheiro deve ser uma mercadoria de mercado (como o ouro) e não um instrumento de política controlada pelo Estado.

1. Crítica à Moeda Fiduciária (Fiat Money)

A moeda fiduciária é vista como um sistema que corrompe os sinais de mercado e é inerentemente inflacionário.

  • Ausência de Lastro: A moeda fiduciária não tem valor intrínseco (como o ouro) e seu valor é baseado apenas na confiança no governo emissor. Essa ausência de limite permite a emissão ilimitada.

  • Inflação: A Escola Austríaca afirma que a moeda fiduciária é a verdadeira causa da inflação de preços a longo prazo, pois o Banco Central pode expandir a oferta monetária a seu critério. Isso dilui o poder de compra do dinheiro.

  • “Desestatização do Dinheiro”: Economistas como F. A. Hayek defenderam a competição de moedas privadas como alternativa, argumentando que o monopólio estatal sobre a emissão de moeda é prejudicial e leva à desvalorização contínua.

2. Crítica ao Banco Central

O Banco Central (BC) é criticado por ser a instituição que distorce a taxa de juros e gera os ciclos econômicos (malinvestimentos).

  • Juros Artificiais: O BC manipula as taxas de juros, frequentemente as mantendo artificialmente baixas através da expansão de crédito sem lastro.

  • Malinvestimentos: Juros baixos distorcem o cálculo econômico dos empresários, levando a “malinvestimentos” – projetos de investimento que parecem lucrativos devido ao custo artificialmente baixo do dinheiro, mas que são insustentáveis.
  • A Crise é a Cura: Para os Austríacos, a crise (bust) não é um mal a ser evitado, mas o necessário processo de liquidação desses malinvestimentos induzidos pelo BC, reajustando a economia à realidade dos recursos (poupança) disponíveis.

 

Por Que o Banco Central e a Moeda Fiduciária Foram Criados?

A criação dos Bancos Centrais e a transição para a moeda fiduciária moderna resultaram de uma evolução histórica impulsionada pela necessidade de estabilidade sistêmica, flexibilidade e financiamento governamental.

1. Razões para a Criação dos Bancos Centrais (BCs)

Os Bancos Centrais, embora suas funções tenham evoluído, foram criados primariamente para lidar com o caos financeiro e bancário e para as necessidades fiscais dos governos.

  • Estabilidade do Sistema Bancário: Esta é a razão principal. Em sistemas de free banking (bancos emissores independentes), pânicos bancários e corridas aos bancos eram comuns. O BC foi instituído como:

    • Emissor Único: Para unificar a moeda e padronizar o sistema de pagamentos, eliminando o caos de múltiplas moedas.

    • Credor de Último Recurso: Para emprestar dinheiro aos bancos solventes durante pânicos financeiros, evitando colapsos sistêmicos e o contágio das crises.

  • Financiamento Governamental: Historicamente, muitos Bancos Centrais surgiram como bancos do governo, responsáveis por gerir a dívida pública, arrecadar receitas e fornecer empréstimos para financiar guerras ou grandes projetos.

  • Controle da Política Monetária: Ao assumir o monopólio da emissão de moeda, o BC passou a ter o poder de controlar a quantidade de moeda e o crédito, buscando estabilidade de preços (combate à inflação) e, mais recentemente, o pleno emprego.

2. Razões para a Criação/Adoção da Moeda Fiduciária

A moeda fiduciária (moeda sem lastro) surgiu como o modelo dominante após o abandono do Padrão-Ouro no século XX.

Problema com o Padrão-Ouro Vantagem da Moeda Fiduciária
Rigidez Flexibilidade para responder a crises. O ouro limitava a capacidade do governo de injetar liquidez ou estimular a economia durante uma recessão severa (como a Grande Depressão).
Escassez Superação da Escassez de Ouro. O crescimento econômico e populacional poderia ser estrangulado pela oferta limitada de ouro. A moeda fiduciária permite que a oferta de moeda acompanhe (ou até exceda) a capacidade produtiva da economia.
Restrições Governamentais Liberdade Monetária e Fiscal. A moeda fiduciária permite aos governos financiar déficits (imprimir dinheiro ou emitir títulos comprados pelo BC) sem a restrição de ter que manter reservas de ouro. O fim do Padrão-Ouro em 1971 consolidou globalmente este sistema.

Em suma, o BC e a moeda fiduciária foram criados para fornecer estabilidade financeira, flexibilidade econômica e soberania monetária aos governos, objetivos que os Austríacos veem como as próprias sementes da instabilidade.

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