Recentemente, uma peça publicitária da Havaianas gerou controvérsia ao tocar em temas caros à “pauta progressista”.
Este é um tema complexo que exige conectar a análise da linguagem (a Teoria dos Quatro Discursos) com a economia política e a análise social.
Abaixo, apresentamos um artigo rico em informações e detalhado para explicar essa teia de relações sob a lente olavista e austríaca.
O Simbolismo das Sandálias: A Teoria dos Quatro Discursos e o Capitalismo de Laços no Brasil
Recentemente, uma peça publicitária da Havaianas gerou controvérsia ao tocar em temas caros à “pauta progressista”. Para o observador comum, parece apenas marketing; para o analista atento, é um estudo de caso sobre como o discurso, o poder político e a elite financeira se fundem em um projeto único.
1. A Camada do Discurso: Da Poética à Lógica
Usando a Teoria dos Quatro Discursos de Olavo de Carvalho, podemos dissecar o fenômeno:
-
Discurso Poético (A Imagem): A peça publicitária cria uma narrativa visual de “diversidade” e “justiça social”. O objetivo aqui não é debater economia, mas capturar a imaginação do público, criando uma aura de “bondade” em torno da marca.
-
Discurso Retórico (A Persuasão): A marca e o aparato governamental utilizam esses símbolos para convencer a massa de que o projeto político atual e as grandes corporações estão do lado do “povo”. É a retórica da Luta de Classes usada para esconder uma simbiose de elites.
-
Discurso Dialético (O Exame): Aqui questionamos: como uma empresa controlada pela Alpargatas (que tem em sua estrutura acionária nomes ligados ao Itaú/MSAT e histórico com a J&F/JBS) se alinha tão perfeitamente à agenda do Governo Lula? O debate revela que não há oposição, mas colaboração.
-
Discurso Analítico (A Verdade): A realidade técnica mostra que o apoio a pautas sociais serve de “pedágio ideológico” para manter o fluxo de benefícios do Aparato Burocrático (BNDES, Caixa e subsídios via Lei Rouanet).
2. A Engrenagem Econômica: O Mecanismo de Empobrecimento
Enquanto o discurso poético fala em “inclusão”, a realidade econômica explicada pela Escola Austríaca revela um processo de transferência de riqueza.
O sistema funciona em um ciclo de simbiose entre o Capital e a Esquerda:
-
Expansão da Base Monetária: Para financiar o governo e seus aliados, o Banco Central e o sistema bancário expandem a oferta de moeda.
-
Efeito Cantillon: Segundo os austríacos, os primeiros a receber esse dinheiro novo (o Estado, grandes bancos como Itaú e Caixa, e empresas amigas do poder via BNDES) compram bens a preços antigos.
-
Inflação e Endividamento: Quando o dinheiro chega à população, os preços já subiram. O cidadão comum empobrece, enquanto a elite capitalista se beneficia dos altos juros pagos pelo Estado para rolar a dívida gerada por esse mesmo processo.
3. O Capitalismo de Estado e a Falsa Luta de Classes
O que vemos na relação entre grandes grupos (como JBS e Alpargatas) e os Três Poderes não é livre mercado, mas Crony Capitalism (Capitalismo de Laços).
A elite burocrática e a elite financeira utilizam a “justiça social” como uma ferramenta de controle. A Lei Rouanet e os créditos subsidiados (moeda escritural) funcionam como o lubrificante desse mecanismo. A “Luta de Classes” é apenas o discurso retórico para manter a população dividida, enquanto, no andar de cima, o projeto de poder é unificado: um Estado agigantado servindo a uma minoria de “campeões nacionais”.
Conclusão
A sandália no pé do comercial é o discurso poético; o imposto inflacionário no bolso do trabalhador é a verdade analítica. Entender os Quatro Discursos é a única forma de não ser enganado pela estética e enxergar a engrenagem de poder que sustenta a burocracia estatal e o alto capital às custas da liberdade individual.
Bônus: Entenda O Capitalismo de Estado
O Efeito Cantillon, conceito fundamental da Escola Austríaca de Economia (desenvolvido por Richard Cantillon e expandido por autores como Mises e Rothbard), é a peça-chave para entender como o BNDES e as grandes corporações mencionadas (como JBS e Alpargatas) operam em conjunto com o aparato estatal.
Aqui está o detalhamento técnico e prático desse mecanismo de transferência de riqueza:
O Mecanismo do Efeito Cantillon via BNDES
Diferente do que a economia clássica sugere, o dinheiro novo não entra na economia de forma uniforme. Ele entra por pontos específicos. Na economia brasileira, um dos maiores “pontos de entrada” é o BNDES.
1. A Injeção na “Elite do Capital” (Os Primeiros Receptores)
Quando o governo decide estimular a economia ou apoiar “campeões nacionais”, ele injeta moeda escritural (crédito) através do BNDES com juros subsidiados.
-
A Vantagem: Empresas como JBS ou grandes grupos econômicos recebem esse dinheiro antes que ele circule no resto da economia.
-
O Poder de Compra: No momento em que recebem o crédito, os preços dos ativos, matérias-primas e salários ainda não subiram. Eles compram a “preço de ontem” com o “dinheiro de hoje”.
2. A Diluição do Valor (Os Receptores Tardios)
Conforme essas grandes empresas gastam esses bilhões contratando fornecedores e comprando ativos, o dinheiro começa a “vazar” para o resto da sociedade.
-
A Inflação: À medida que a oferta de moeda aumenta no mercado geral, o valor unitário da moeda cai.
-
O Prejuízo: Quando o dinheiro finalmente chega ao pequeno comerciante ou ao trabalhador assalariado, o poder de compra daquela nota já foi corroído. Eles recebem o “dinheiro de hoje”, mas pagam os “preços de amanhã”.
A Simbiose: Por que a “Esquerda” e o “Grande Capital” se unem?
Aqui entra a análise política de Olavo de Carvalho sobre o projeto de poder:
-
Para o Governo (Esquerda/Burocracia): O controle sobre o BNDES e a Caixa permite ao governante escolher quem serão os vencedores do mercado. Isso garante apoio político, financiamento de campanhas e a implementação de agendas sociais (através de contrapartidas ideológicas na publicidade, como no caso da Havaianas).
-
Para a Elite Capitalista: É muito mais seguro e lucrativo lucrar via arbitragem política (conseguir crédito barato no BNDES e aplicar em títulos públicos de juros altos) do que enfrentar a real concorrência do livre mercado.
A Falsa Luta de Classes
Enquanto o discurso retórico (para as massas) foca na “luta contra o opressor”, a realidade analítica mostra que o Estado usa a Lei Rouanet e o Crédito Subsidiado para manter o Grande Capital como um “braço estendido” do governo. O resultado é o Capitalismo de Estado:
-
Concentração de Mercado: As pequenas empresas morrem por falta de crédito e excesso de regulação.
-
Endividamento Público: O Tesouro Nacional precisa emitir dívida para cobrir os subsídios do BNDES.
-
Transferência Reversa: O pobre paga o imposto (ou sofre com a inflação) que financia o empréstimo barato para o bilionário “amigo do rei”.
Resumo: O Efeito Cantillon é o processo técnico que torna a “justiça social” do governo um mecanismo de transferência de renda dos pobres para os ricos e burocratas. A propaganda (Peça da Havaianas) é apenas o Discurso Poético necessário para que as vítimas não percebam a extração econômica que ocorre no Discurso Analítico.

