A passividade completa do médium, um estado de receptividade e entrega total à influência espiritual, é um ideal raro e altamente desejável na mediunidade. Nela, o médium se torna um instrumento quase perfeito, permitindo que a mensagem do Espírito comunicante flua com mínima interferência de sua própria personalidade. Essa condição de perfectibilidade na transmissão mediúnica é o resultado de uma preparação rigorosa e de um alicerce moral e espiritual sólido, conforme as orientações dos Espíritos Superiores.
A Passividade Completa e o Ideal da Mediunidade
A passividade mediúnica não significa inação ou ausência de consciência, mas sim um estado de esvaziamento do ego e de sintonia fina com o plano espiritual. Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, descreve diferentes graus de passividade, sendo a completa aquela em que o médium se anula o máximo possível para dar lugar ao Espírito. É o que ele chama de médium-instrumento, em contraposição ao médium que adiciona ou subtrai da mensagem.
Preparação do Médium: Pilar da Perfectibilidade
Atingir a passividade completa exige uma preparação contínua e multifacetada, tanto moral quanto mental. Os Espíritos insistem na importância da reforma íntima, da elevação dos pensamentos e da busca pela caridade.
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Moralidade e Desinteresse: Kardec enfatiza a importância da pureza de intenções. Em O Livro dos Médiuns, capítulo XVIII, item 214, ele afirma: “As qualidades que mais contribuem para o desenvolvimento da mediunidade são a pureza de sentimentos, o desinteresse, a simplicidade de coração e o amor ao próximo.” O médium deve estar livre de vaidade, orgulho e interesses materiais, que poderiam comprometer a qualidade da comunicação.
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Equilíbrio Psíquico e Mental: A disciplina mental é fundamental. Isso inclui o domínio dos pensamentos, a neutralização de preconceitos e a manutenção de um estado de serenidade. O médium deve aprender a silenciar a própria mente para melhor captar as vibrações espirituais.
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Saúde Física: Embora não seja o fator principal, um bom estado de saúde física contribui para o equilíbrio geral do médium e para a fluidez das energias.
Preparação do Ambiente: O Santuário Vibratório
O ambiente onde ocorre a sessão mediúnica também desempenha um papel crucial na facilitação da passividade. A criação de uma atmosfera de paz, respeito e elevação vibratória é essencial.
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Harmonia e Recolhimento: O local deve ser tranquilo, livre de ruídos e distrações. A iluminação suave e a ausência de elementos que possam gerar pensamentos mundanos são recomendadas. A prece inicial é um elemento fundamental para harmonizar as energias e sintonizar os participantes com os bons Espíritos.
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Vibrações Elevadas: A presença de indivíduos com pensamentos elevados e a ausência de discussões ou sentimentos negativos contribuem para a formação de um campo vibratório propício à comunicação espiritual. Como ensina O Livro dos Médiuns, a reunião espírita é um ímã para os Espíritos afins.
O Transe Mediúnico e a Comunicação em Si
O transe mediúnico na passividade completa é caracterizado por uma entrega profunda, onde a consciência do médium se retrai, permitindo que o Espírito se manifeste com maior liberdade.
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Conexão Profunda: O Espírito comunicante atua diretamente sobre o perispírito do médium, que se torna um elo direto entre os dois planos. Em A Gênese, capítulo XIV, Kardec explica que a ação dos Espíritos se dá sobre o fluido perispiritual do médium, que serve de intermediário.
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Fidelidade da Mensagem: A ausência de interferências do médium garante a fidelidade da mensagem, que se manifesta com a linguagem e as características do Espírito comunicante. Em O Livro dos Médiuns, capítulo XVI, item 191, Kardec afirma que nos médiuns passivos, a mensagem é ditada integralmente pelo Espírito, sem modificação do médium.
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Tipos de Mediunidade e Passividade: Embora a passividade seja um ideal, ela se manifesta de diferentes formas dependendo do tipo de mediunidade. Na psicografia, a mão do médium se move independentemente de sua vontade; na psicofonia, a voz do médium se modifica para reproduzir a voz do Espírito; na vidência, as imagens são nítidas e não se confundem com a imaginação do médium. Em todos os casos, a marca da passividade é a sensação de ser um instrumento, não o autor da mensagem.
Afastamento do Espírito Comunicante
Após a comunicação, o afastamento do Espírito também deve ser um processo natural e harmonioso, guiado pela boa vontade e pelo discernimento dos encarnados.
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Gradualidade e Respeito: O Espírito se afasta à medida que a energia se dissipa e a mensagem é concluída. É importante que os presentes não prolonguem artificialmente a comunicação, permitindo que o Espírito retorne ao seu plano sem esforço.
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Agradecimento e Dispersão: Ao final, a prece de agradecimento aos Espíritos e a Jesus é essencial para encerrar o trabalho com gratidão e harmonizar as energias do ambiente e dos participantes. A dispersão dos fluidos é auxiliada pela prece e pela renovação dos pensamentos elevados.
A passividade completa, embora rara, é a meta para o médium que busca servir à causa espírita com pureza e eficiência. É um caminho de dedicação, estudo e, acima de tudo, de profunda transformação interior, que eleva o médium à condição de um verdadeiro canal da Luz.
Referências Bibliográficas
- Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 85. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2013.
- Kardec, Allan. A Gênese: Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 55. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2013.