Conceito de Igreja do Novo Testamento em aramaico na mensagem original de Jesus e segundo o Espiritismo

Duas questões distintas e interessantes sobre o conceito de Igreja: uma focada na possível terminologia aramaica usada por Jesus e outra na perspectiva do Espiritismo.

Vamos explorar cada uma delas:

Conceito de Igreja do Novo Testamento em Aramaico na Mensagem Original de Jesus:

Esta questão é complexa devido a alguns pontos importantes:

  • Jesus falava aramaico: A língua materna de Jesus e do povo da Galileia no século I d.C. era o aramaico, uma língua semítica relacionada ao hebraico.
  • O Novo Testamento foi escrito em grego: Os Evangelhos e as outras escrituras do Novo Testamento foram redigidos em grego koiné, a língua franca do Império Romano na época. Portanto, não temos os registros diretos das palavras de Jesus em aramaico.
  • Reconstrução hipotética: Para entender o possível termo aramaico para “igreja” usado por Jesus, precisamos recorrer a reconstruções linguísticas e analisar o significado dos termos gregos utilizados no Novo Testamento para descrever a comunidade de seus seguidores.

O termo grego mais comum para “igreja” no Novo Testamento é ἐκκλησία (ekklesia). Esta palavra tem uma história e um significado no contexto grego:

  • Significado literal: Ekklesia significa literalmente “assembleia”, “os chamados para fora”. No mundo grego, referia-se a uma assembleia de cidadãos convocada para deliberar sobre assuntos públicos.
  • Uso no Antigo Testamento grego (Septuaginta): A Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento, usou ekklesia para traduzir o termo hebraico קהל (qahal), que se refere à congregação ou assembleia do povo de Israel diante de Deus (por exemplo, Deuteronômio 9:10, 18:16).

Considerando que Jesus e seus discípulos conheciam o Antigo Testamento em hebraico e provavelmente também em sua versão aramaica (Targumim), podemos inferir possíveis termos aramaicos que Jesus poderia ter usado e que foram posteriormente traduzidos para ekklesia no Novo Testamento grego:

  • כְּנִשְׁתָּא (k’nishta’): Este termo aramaico é o mais provável correspondente a ekklesia no sentido de “assembleia” ou “congregação”. É a mesma raiz da palavra hebraica כְּנֶסֶת (knesset), que significa sinagoga (local de reunião). No contexto dos seguidores de Jesus, poderia ter se referido à comunidade reunida em seu nome.
  • עֵדָה (‘edah): Este termo hebraico e aramaico significa “congregação” ou “comunidade”, frequentemente usado no Antigo Testamento para se referir ao povo de Israel como um todo. Jesus poderia ter usado um termo aramaico equivalente para se referir ao seu novo grupo de seguidores como a “nova comunidade” do Reino de Deus.

Em resumo, embora não tenhamos as palavras exatas de Jesus em aramaico sobre “igreja”, é provável que ele tenha usado um termo como k’nishta’ ou um equivalente de ‘edah, referindo-se à assembleia ou congregação de seus seguidores, ecoando o conceito da congregação de Israel no Antigo Testamento. O termo grego ekklesia capturou bem esse sentido de uma comunidade chamada para um propósito específico.

Conceito de Igreja Segundo o Espiritismo:

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec no século XIX, possui uma visão particular sobre o conceito de “Igreja”, que difere significativamente da compreensão tradicional das religiões institucionalizadas:

  • Comunidade Moral e de Ideias: Para o Espiritismo, a “Igreja” no sentido mais amplo e verdadeiro é a comunidade de espíritos que compartilham os mesmos princípios morais e buscam o progresso espiritual. Essa comunidade transcende as fronteiras terrestres e as organizações religiosas específicas.
  • Foco na Prática do Bem e no Estudo: O Espiritismo enfatiza a importância da prática da caridade, da vivência dos ensinamentos morais de Jesus e do estudo constante dos princípios espíritas como caminhos para o desenvolvimento espiritual. A “Igreja” espírita se manifesta principalmente nos Centros Espíritas, que são locais de estudo, prática da mediunidade com fins caritativos e auxílio ao próximo.
  • Ausência de Hierarquia e Dogmas Rígidos: O Espiritismo não possui uma hierarquia clerical formal, sacramentos ou dogmas inflexíveis. A autoridade reside no estudo e na compreensão dos princípios da Doutrina Espírita, conforme codificados por Kardec e desenvolvidos pelas obras complementares e pela experiência mediúnica responsável.
  • Continuidade da Revelação: O Espiritismo se apresenta como uma doutrina em constante evolução, aberta a novos conhecimentos científicos e filosóficos, bem como às comunicações dos espíritos. A “verdade” é vista como algo a ser continuamente buscado e compreendido.
  • Jesus como Guia Moral: Jesus é considerado pelo Espiritismo como o maior exemplo de moralidade e o guia espiritual da Humanidade. Seus ensinamentos são vistos como a base da moral universal, e a prática desses ensinamentos é fundamental para o progresso espiritual individual e coletivo.

Em relação à mensagem original de Jesus e a formação da Igreja Primitiva, o Espiritismo vê:

  • A essência da mensagem de Jesus como sendo de amor, caridade, humildade e perdão. Os ensinamentos morais de Jesus são considerados a parte mais importante e duradoura de sua mensagem.
  • A Igreja Primitiva como um exemplo de comunidade fraterna e solidária, baseada nos ensinamentos de Jesus. O Espiritismo valoriza o espírito de união e ajuda mútua presente nas primeiras comunidades cristãs.
  • As interpretações posteriores da mensagem de Jesus e a formação de instituições religiosas como desvios da simplicidade original do Evangelho em alguns aspectos. O Espiritismo busca resgatar a pureza dos ensinamentos de Jesus, despojando-os de dogmas e rituais que considera terem sido adicionados ao longo do tempo.

Portanto, para o Espiritismo, a verdadeira “Igreja” é uma comunidade espiritual de almas em busca de evolução moral, e a manifestação terrena dessa “Igreja” ideal se encontra nos princípios e práticas do Espiritismo, com Jesus como seu principal guia moral. Os centros espíritas são vistos como locais de aprendizado e prática desses princípios, sem a necessidade de uma estrutura hierárquica formal.

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