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O desdobramento, na Doutrina Espírita, refere-se ao fenômeno de emancipação da alma (Espírito) do corpo físico, mantendo-se ligada a ele por um laço fluídico. É, em essência, a capacidade do Espírito de atuar fora do corpo enquanto este repousa ou se encontra em estado de relaxamento profundo, como o sono.
Rigor Técnico-Científico e Pureza Doutrinária
Para compreender o desdobramento, é fundamental recorrer aos princípios codificados por Allan Kardec. A Doutrina Espírita não o apresenta como um “poder sobrenatural”, mas sim como uma capacidade inerente ao Espírito, que se manifesta de forma mais evidente em certas condições.
- O Corpo Perispiritual: A chave para entender o desdobramento reside no perispírito, o envoltório semimaterial do Espírito, que serve como intermediário entre o corpo físico e o Espírito. Durante o desdobramento, o Espírito se exterioriza, levando consigo o perispírito, enquanto o corpo físico permanece adormecido.
- O Laço Fluídico: A conexão entre o corpo físico e o perispírito desdobrado é mantida por um laço fluídico, muitas vezes descrito como um “cordão de prata”. Esse laço garante o retorno do Espírito ao corpo e a integridade da vida física. Sua ruptura (no caso de desencarne) é o que cessa a vida corporal.
- A Consciência: A consciência da experiência do desdobramento varia enormemente. Em muitos casos, o indivíduo não se recorda conscientemente do que vivenciou, interpretando a experiência como um sonho vívido. Em outros, a lucidez é parcial ou total, permitindo a lembrança detalhada dos acontecimentos.
Diferentes Formas de Manifestação do Desdobramento
O desdobramento não é um fenômeno homogêneo, apresentando-se em diversas nuances:
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Sono Natural: Esta é a forma mais comum e universal de desdobramento. Durante o sono, o Espírito se afasta parcialmente do corpo, aproveitando para se locomover, aprender, interagir com outros Espíritos e rever encarnados e desencarnados. A qualidade dessas experiências depende do adiantamento moral do Espírito e de suas inclinações durante a vigília. A maioria das pessoas não se recorda dessas atividades, resultando no que chamamos de sonhos.
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Desdobramento Consciente ou Projeção Astral: Em casos mais raros e geralmente com o desenvolvimento de certas faculdades mediúnicas ou por um esforço de vontade, o indivíduo pode experimentar o desdobramento com plena consciência de estar fora do corpo. Nessas situações, há uma percepção clara do ambiente espiritual e das interações, com a capacidade de observar o próprio corpo físico inerte.
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Sonambulismo: Embora seja um estado de sono, o sonambulismo é uma forma de desdobramento em que o Espírito age sobre o corpo físico de maneira mais intensa, levando-o a realizar ações complexas, como caminhar, falar ou até escrever, sem que o indivíduo tenha plena consciência da experiência ao acordar. O Espírito, nesse estado, tem maior liberdade e pode expressar conhecimentos ou habilidades que não manifesta na vigília.
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Emancipação da Alma em Estados Patológicos: Em condições de coma, desmaios profundos, ou em certos estados catatônicos, o Espírito também pode se encontrar parcialmente desdobrado. Nesses casos, embora o corpo físico esteja inerte, o Espírito pode estar percebendo e compreendendo o que ocorre ao seu redor, por vezes com maior lucidez do que em estado de vigília. É por isso que se recomenda falar com pacientes em coma, pois o Espírito pode estar ouvindo.
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Fenômenos de Bicorporeidade e Ubiquidade: Casos raros, como os de São Francisco Xavier e Santo Antônio de Pádua, onde o indivíduo era visto em dois lugares ao mesmo tempo, são explicados pela Doutrina Espírita como uma forma extrema de desdobramento. Nesses fenômenos, o perispírito do indivíduo, sob a ação da vontade e de certas condições espirituais, adquire uma condensação que o torna visível a distância, enquanto o corpo físico permanece em outro local. Não se trata de uma onipresença, mas sim de uma projeção visível do perispírito.
O desdobramento é, portanto, um testemunho da imortalidade da alma e da sua capacidade de existir independentemente do corpo físico. Seu estudo, à luz da Doutrina Espírita, nos convida a refletir sobre a amplitude da vida espiritual e a conexão indissolúvel entre o mundo material e o plano extrafísico.