Felicidade plena e relativa no Espiritismo e na Bíblia

Vamos explorar a felicidade plena e a felicidade relativa à luz da doutrina espírita e da Bíblia, com exemplos de nossa jornada terrena e da vida futura.

Felicidade Plena no Espiritismo

No espiritismo, a felicidade plena é compreendida como um estado de contentamento duradouro e completo, alcançado através do progresso moral e intelectual do Espírito. Não se trata de uma ausência de desafios ou provações, mas sim da capacidade de enfrentá-los com serenidade, compreensão e amor, evoluindo constantemente em direção à perfeição. Essa felicidade é intrínseca ao Espírito puro, que já se libertou das imperfeições e paixões terrenas.

O Livro dos Espíritos aborda essa ideia em diversas passagens. Por exemplo, na questão 920, Allan Kardec pergunta:

“Qual o mais perfeito dos homens que a Terra tem produzido?”

A resposta dos Espíritos Superiores é: “Jesus.”

Essa resposta implica que a perfeição moral, e, consequentemente, a felicidade plena em seu grau mais elevado, é uma meta a ser alcançada através da evolução espiritual.

Outro ponto importante está na questão 921:

“Quais os caracteres do homem de bem?”

A resposta inclui: “Faz o bem por amor ao bem. Ora e trabalha. Acha sua felicidade no bem que faz e no mal que impede.”

Aqui vemos que a prática do bem, desinteressadamente, é um caminho para a felicidade, embora ainda em um estágio relativo em comparação com a plenitude dos Espíritos superiores.

Felicidade Relativa no Espiritismo

A felicidade relativa, por outro lado, é aquela que experimentamos durante nossa jornada evolutiva, especialmente na vida terrena. Ela é marcada por momentos de alegria, satisfação e bem-estar, mas também é permeada por dores, desafios e imperfeições próprias do nosso estágio evolutivo. Essa felicidade é transitória e dependente de fatores externos e internos ainda sujeitos a desequilíbrios.

O Livro dos Espíritos ilustra bem essa condição na questão 923:

“O homem pode gozar na Terra de uma felicidade completa?”

A resposta é: “Não, porque a vida lhe foi dada como prova ou expiação; mas depende dele suavizar seus males e ser tão feliz quanto possível na Terra.”

Essa passagem é crucial. Ela reconhece a natureza provacional da vida terrena, mas também enfatiza a nossa capacidade de atenuar o sofrimento e buscar a felicidade dentro das limitações do nosso mundo.

Exemplos na Vida Presente:

  • Felicidade Relativa: A alegria de uma conquista profissional, o amor em um relacionamento, a satisfação de ajudar alguém. Esses momentos nos trazem felicidade, mas são passageiros e podem ser afetados por imprevistos ou mudanças.
  • Busca pela Felicidade Plena: O esforço constante para melhorar nosso caráter, praticar a caridade, estudar e compreender as leis divinas. Cada pequeno avanço moral nos aproxima de um estado de maior paz interior e, consequentemente, de uma felicidade mais duradoura.

Felicidade na Vida Futura no Espiritismo

Após a desencarnação, o Espírito continua sua jornada evolutiva no que chamamos de vida futura, no mundo espiritual. A felicidade nessa fase está diretamente ligada ao seu grau de adiantamento moral e intelectual. Segundo “O Livro dos Espíritos” (Segunda Parte, Capítulo I), os Espíritos são classificados em ordens, sendo que todos estão em progresso:

  • Espíritos da Terceira Ordem (Imperfeitos): Sofrem as consequências de suas imperfeições, experimentando angústia, remorso e sofrimento até que se decidam pelo progresso. Sua felicidade é mínima ou inexistente.
  • Espíritos da Segunda Ordem (Bons Espíritos): Experimentam alegrias proporcionais ao seu desenvolvimento, desfrutando de ambientes mais harmoniosos e da companhia de Espíritos afins. Sua felicidade é relativa, mas crescente.
  • Espíritos da Primeira Ordem (Puros Espíritos): Vivenciam a felicidade plena, em comunhão com o Criador e em constante serviço ao bem. Sua alegria é serena, profunda e inabalável.

Essa jornada na vida futura é uma manifestação da vida eterna do Espírito, que é imortal e evolui continuamente.

O Céu e o Inferno: No espiritismo, o “céu” e o “inferno” não são lugares geográficos fixos, mas sim estados de consciência. A felicidade ou a infelicidade são consequências naturais do estado evolutivo do Espírito em sua vida futura, dentro do contexto de sua vida eterna.

Passagens de Outros Livros do Pentateuco Espírita:

  • O Evangelho Segundo o Espiritismo: Aborda a importância da prática da caridade e da humildade como caminhos para a felicidade (capítulo XI – Amai os vossos inimigos; capítulo XII – Amai o vosso próximo como a vós mesmos). Também discorre sobre as consolações e promessas para aqueles que sofrem (capítulo V – Bem-aventurados os aflitos) em sua jornada na vida futura, parte de sua vida eterna.
  • O Céu e o Inferno: Detalha os diferentes estados da alma após a morte, ilustrando as diversas gradações de felicidade e sofrimento de acordo com o merecimento de cada Espírito em sua vida futura, dentro da perspectiva da vida eterna.
  • A Gênese: Explica as leis divinas que regem o universo e a evolução espiritual, mostrando que a felicidade plena é o objetivo final de toda a criação na vida eterna, através das experiências na vida futura.
  • O Livro dos Médiuns: Embora focado na prática mediúnica, também aborda a importância da elevação moral do médium, o que reflete a busca por um estado de maior harmonia e felicidade interior em sua jornada na vida futura, dentro do contexto de sua vida eterna.

Felicidade na Bíblia

A Bíblia também aborda a questão da felicidade, embora com nuances diferentes do espiritismo.

  • No Antigo Testamento: A felicidade muitas vezes está ligada à prosperidade material, à saúde e à bênção divina como recompensa pela obediência aos mandamentos. Os Salmos são uma coleção de cânticos e orações que expressam uma variedade de sentimentos e experiências, incluindo momentos de alegria e busca por Deus. No entanto, também há reconhecimento da transitoriedade da alegria terrena e da importância da sabedoria e da justiça para uma felicidade mais profunda.
  • No Novo Testamento: Jesus, nas Bem-Aventuranças (Mateus 5), apresenta um conceito de felicidade que transcende as condições materiais. A felicidade é encontrada na humildade, na mansidão, na justiça, na misericórdia, na pureza de coração e na busca pela paz. Essa felicidade está mais relacionada a um estado interior e à relação com Deus.

Exemplos Bíblicos:

  • Felicidade Relativa: A alegria de um casamento (Cântico dos Cânticos), a fartura após uma boa colheita (Antigo Testamento).
  • Busca pela Felicidade Plena (na perspectiva bíblica): A busca por uma vida em conformidade com os ensinamentos de Jesus, a fé em Deus e a esperança na vida eterna. As bem-aventuranças apontam para um caminho de felicidade que se manifesta mesmo em meio às dificuldades.

A Vida Eterna na Bíblia:

A Bíblia fala da vida eterna como um estado de comunhão com Deus, livre de sofrimento e morte (Apocalipse 21:4). Para os justos, haverá alegria e paz eternas. O conceito de “céu” é apresentado como um lugar de felicidade plena na presença de Deus.

Em Síntese:

Tanto o espiritismo quanto a Bíblia abordam a felicidade em diferentes níveis. O espiritismo detalha a progressão da felicidade relativa, experimentada em nossa jornada evolutiva na vida futura, até a felicidade plena, conquistada pelos Espíritos puros através do aprimoramento moral e intelectual, sempre lembrando que todos os Espíritos estão em progresso em sua vida eterna. A Bíblia, especialmente nos ensinamentos de Jesus, também aponta para uma felicidade que reside em um estado interior e na relação com o divino, com a promessa de alegria eterna para aqueles que seguem seus ensinamentos.

Em ambas as perspectivas, a busca pela felicidade envolve um processo de crescimento, aprendizado e transformação, tanto na vida presente quanto na vida futura, dentro do contexto da vida eterna. A prática do bem, o amor ao próximo e a busca pela verdade são elementos chave para nos aproximarmos de um estado de maior contentamento e paz.

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