Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai. Estudo do Capítulo 3, Item 3 do Evangelho Segundo o Espiritismo

Do ensino dado pelos Espíritos, resulta que as condições dos mundos são muito diferentes, em relação ao grau de adiantamento ou de inferioridade de seus habitantes. Entre eles há os em que estes últimos são ainda inferiores aos da Terra, física e moralmente; outros, da mesma categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos superiores sob todos os aspectos. Nos mundos inferiores a existência é toda material, as paixões reinam soberanas, a vida moral é quase nula. À medida que esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos mundos mais adiantados, a vida é, a bem dizer, toda espiritual.

Essa é a transcrição

Do Item 3 do subtítulo Diferentes categorias de mundos habitados

No Capítulo 3: Há muitas moradas na casa de meu Pai

do Evangelho Segundo o Espiritismo

Mergulhemos juntos nas profundezas dessa passagem do Evangelho Segundo o Espiritismo, desvendando suas nuances à luz do Espiritismo e conectando-a com outras obras fundamentais e as Escrituras Sagradas.

A afirmação inicial de que as condições dos mundos variam imensamente, refletindo o grau de adiantamento ou inferioridade de seus habitantes, é um pilar central da cosmologia espírita. Ela rompe com a visão de um universo homogêneo e estático, apresentando-o como dinâmico e em constante evolução.

A Diversidade dos Mundos Habitados Segundo o Espiritismo

O Espiritismo, como codificado por Allan Kardec, nos apresenta uma visão pluralista da vida no universo. A passagem em questão ecoa ensinamentos encontrados em outras obras da Codificação, especialmente em A Gênese e O Céu e o Inferno.

Em A Gênese, no Capítulo II (“Criação Primária”), Kardec aborda a formação dos mundos e a progressão da vida. Ele explica que os mundos são formados por condensação da matéria cósmica universal e que a vida surge gradualmente, acompanhando o desenvolvimento físico e moral dos seres.

“Os mundos nascem e morrem incessantemente para se reproduzirem e se transformarem, assim como os seres vivos.” (A Gênese, Capítulo II, item 18)

Essa constante transformação implica diferentes estágios de desenvolvimento, resultando na diversidade de mundos habitados. A ideia de mundos inferiores, da mesma categoria que a Terra e superiores é detalhada no Capítulo III (“Estado Físico e Moral dos Mundos”) de A Gênese. Kardec classifica os mundos em diferentes categorias, baseando-se no grau de adiantamento moral de seus habitantes:

  • Mundos Primitivos: Caracterizados pela existência rudimentar, com seres mais focados nas necessidades materiais e instintivas. As paixões são fortes e a vida moral incipiente. A Terra, em seus primórdios, encaixava-se nessa categoria.
  • Mundos de Expiação e Provas: Onde o mal ainda predomina sobre o bem, e os Espíritos imperfeitos vêm para expiar suas faltas e passar por provações que lhes auxiliem no aprendizado e progresso moral. A Terra é classificada majoritariamente nessa categoria atualmente.
  • Mundos de Regeneração: Um estágio de transição onde o bem começa a superar o mal. Os Espíritos se esforçam para progredir moralmente, e as existências são menos dolorosas.
  • Mundos Felizes ou Ditosos: Onde o bem reina, os Espíritos são adiantados moral e intelectualmente, e a felicidade é uma constante.
  • Mundos Celestes ou Divinos: Habitados por Espíritos puros, que atingiram o ápice da evolução e desfrutam de felicidade plena.

A passagem do Evangelho que estamos analisando resume bem essa classificação, enfatizando a correlação entre o desenvolvimento moral e a influência da matéria. Nos mundos inferiores, a materialidade é densa e as paixões dominam, obscurecendo a percepção da vida moral. À medida que a moralidade se desenvolve, a influência da matéria diminui, tornando a vida cada vez mais espiritualizada nos mundos superiores.

Em O Céu e o Inferno, a diversidade de condições após a morte também reflete o estado moral dos Espíritos durante a vida terrena. As penas e as recompensas são consequências naturais do grau de evolução de cada um, e os diferentes “infernos” e “céus” descritos são estados de consciência e ambientes espirituais correspondentes a esse grau. Embora não se trate diretamente da condição dos mundos, ilustra o princípio de que a evolução moral determina a experiência da vida, seja ela física ou espiritual.

“O sofrimento é inerente à imperfeição. Cada imperfeição traz consigo o seu sofrimento.” (O Céu e o Inferno, Primeira Parte, Capítulo VII, “Penas e Gozos Futuros”, item 3)

Essa lei se aplica tanto aos indivíduos quanto aos coletivos que habitam os diferentes mundos.

As Múltiplas Moradas na Casa do Pai e as Escrituras Sagradas

A própria epígrafe do capítulo do Evangelho (“Há muitas moradas na casa de meu Pai”) é uma citação do Evangelho de João (14:2). Essa passagem bíblica sempre suscitou diversas interpretações. O Espiritismo, à luz dos ensinamentos dos Espíritos Superiores, oferece uma compreensão lógica e racional para essa afirmação de Jesus. As “muitas moradas” não seriam apenas diferentes lugares no plano espiritual, mas sim os inúmeros mundos que povoam o universo, cada um oferecendo condições de vida e aprendizado adequadas ao nível evolutivo de seus habitantes.

Passagens Bíblicas à Luz do Espiritismo

Vamos explorar algumas passagens bíblicas que se relacionam com a pluralidade dos mundos e a evolução espiritual, separando-as entre o Antigo e o Novo Testamento e enfatizando a racionalidade dos ensinamentos de Jesus conforme compreendidos pelo Espiritismo.

Antigo Testamento:

No Antigo Testamento, as referências diretas à pluralidade dos mundos são menos explícitas, mas encontramos indícios de uma visão mais ampla do universo do que apenas a Terra. A grandiosidade da criação divina, frequentemente exaltada nos Salmos, pode ser interpretada como sugerindo uma vastidão de obras além do nosso planeta.

“Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” (Salmos 19:1)

Embora não se refira diretamente a outros mundos habitados, essa passagem expressa a magnitude da criação, o que não seria limitado a um único planeta.

Novo Testamento e os Ensinamentos de Jesus:

É nos ensinamentos de Jesus que encontramos as bases mais sólidas para a compreensão da pluralidade dos mundos sob a ótica espírita. Sua linguagem, muitas vezes parabólica, encerra verdades profundas sobre a vida e o universo.

  • “Há muitas moradas na casa de meu Pai; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.” (João 14:2)

    Como já mencionado, o Espiritismo interpreta essas “muitas moradas” como os diversos mundos existentes no universo, cada um com suas próprias características e propósitos evolutivos. A ideia de Jesus ir “preparar lugar” pode ser entendida como a constante obra de Deus na criação e evolução desses mundos, oferecendo oportunidades para o progresso de todos os Espíritos. A racionalidade aqui reside na ideia de que um Deus infinitamente justo e bom não limitaria a vida e a oportunidade de evolução a um único planeta, especialmente considerando a vastidão do cosmos.

  • As Parábolas do Semeador e dos Talentos (Mateus 13 e 25):

    Embora não falem diretamente de outros mundos, essas parábolas ilustram o princípio da diversidade de resultados e do progresso individual com base no esforço e nas oportunidades recebidas. Isso se alinha com a ideia de que diferentes mundos oferecem diferentes graus de desafios e oportunidades para o crescimento espiritual. A lógica subjacente é que a justiça divina se manifesta na distribuição equitativa de chances de aprendizado e evolução, em diferentes “campos” ou “tarefas”.

  • O Reino de Deus (frequentemente mencionado nos Evangelhos):

    Jesus frequentemente falava do “Reino de Deus” como algo que está dentro de nós e também como uma realidade futura. O Espiritismo expande essa compreensão, vendo o Reino de Deus não apenas como um estado de consciência individual, mas também como a condição dos mundos mais evoluídos, onde a lei de amor e caridade reina plenamente. A racionalidade aqui está em entender que a evolução moral progressiva leva a estados de maior harmonia e felicidade coletiva, que podem ser considerados manifestações do “Reino de Deus” em diferentes esferas da vida.

A Racionalidade e a Lógica dos Ensinamentos de Jesus à Luz do Espiritismo:

O Espiritismo ressalta a profunda lógica e racionalidade presentes nos ensinamentos de Jesus. Ao contrário de interpretações dogmáticas e literais, a Doutrina Espírita busca o sentido essencial e universal de suas palavras, em consonância com as leis naturais que regem o universo.

A ideia de múltiplas moradas se torna lógica diante da imensidão do cosmos que a ciência moderna começa a desvendar. Limitar a vida inteligente e a obra divina a um único planeta seria ilógico e contraditório com a própria noção de um Criador infinito em poder e bondade.

A progressão dos mundos, desde os mais primitivos até os mais evoluídos, reflete uma lei universal de progresso que observamos em todos os níveis da natureza. Assim como um indivíduo evolui ao longo de suas existências, os mundos também passam por ciclos de desenvolvimento, oferecendo palcos diversos para a jornada evolutiva dos Espíritos.

A ênfase de Jesus no amor, na caridade e na humildade como caminhos para a evolução moral se conecta diretamente com a descrição dos mundos superiores, onde essas virtudes são a base da vida em sociedade. A racionalidade reside em entender que a prática dessas virtudes promove a harmonia, a felicidade e o progresso coletivo, tanto na Terra quanto em qualquer outro planeta.

Em suma, a passagem do Evangelho Segundo o Espiritismo que descreve a diversidade das condições dos mundos habitados é ricamente elucidada pela Codificação Kardequiana e encontra eco nos ensinamentos bíblicos, especialmente nas palavras de Jesus. O Espiritismo oferece uma interpretação lógica e racional dessas verdades, integrando a ciência, a filosofia e a religião para nos apresentar uma visão coerente e consoladora da vida no universo e do nosso próprio destino evolutivo. A vastidão da criação divina é um testemunho da infinita sabedoria e bondade de Deus, oferecendo inúmeras oportunidades para que todos os seus filhos alcancem a perfeição e a felicidade.

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