A Mediunidade em Desenvolvimento: Compreendendo Fenômenos e Aprimorando a Sintonia Espiritual
O estudo da mediunidade é uma jornada contínua de autoconhecimento e aprimoramento espiritual. Para aqueles que despertam para essa faculdade, compreender os fenômenos e suas interconexões com a moralidade, os fluidos e as leis divinas é fundamental. Este artigo busca aprofundar alguns conceitos essenciais, iluminando situações comuns e oferecendo um roteiro para o desenvolvimento mediúnico consciente e seguro.
A mediunidade, em sua essência, é uma faculdade inerente ao ser, evidenciando que a comunicação entre o plano espiritual e o físico é permanente e contínua. Nossas vidas, que se processam em diferentes experiências e reencarnações do espírito imortal, demonstram a interpenetração desses dois planos. Conhecer esses mecanismos é vital para o despertar da consciência espiritual, o aprimoramento intelecto-moral e o exercício ativo de nossas responsabilidades nesse processo evolutivo.
Situações para Reflexão: O Plano Espiritual no Cotidiano
Para ilustrar a interpenetração dos planos e a continuidade da comunicação, vamos refletir sobre duas situações que podem ocorrer em nosso dia a dia, servindo como pontos de partida para o estudo da mediunidade.
Situação 1: Sono e Vibrações Mediúnicas no Despertar da Consciência
Imagine-se em uma situação cotidiana, como dirigir. De repente, você é invadido por um sono muito intenso, que parece surgir do nada. Ao mesmo tempo, todo o seu corpo começa a vibrar, e você sente alguns impulsos involuntários, como pequenos espasmos. Essa sonolência é tão forte que se torna difícil manter os olhos abertos e a atenção na condução. Em momentos como esse, o plano espiritual pode estar se manifestando, e o corpo físico, em um estado de semidesprendimento natural (similar ao sono), torna-se mais suscetível à percepção de fluidos e presenças espirituais. Essa experiência sinaliza um possível início de percepção mediúnica ou a ocorrência de um desprendimento parcial.
Situação 2: Indução Magnética e Transe Mediúnico no Ambiente Doméstico
Considere a cena de um casal de médiuns, já deitados e preparando-se para dormir em casa. A mulher começa a sentir um frio muito intenso, descrevendo-o com tal intensidade que parece causar queimaduras pelo corpo. Logo em seguida, uma sonolência avassaladora a domina, com a necessidade imperiosa de dormir. Paralelamente, ela fica nervosa, sente dores no estômago e um mal-estar generalizado. O companheiro, compreendendo a situação, a orienta: “Tenha calma, você é médium sonambúlica. Asserene sua mente e mantenha-se de olhos abertos. Busque mudar os pensamentos, provavelmente isso é uma indução magnética ao transe mediúnico; um espírito quer se comunicar. Você é médium falante, psicofonia. Também já senti isso algumas vezes. Percebemos presenças espirituais pelos fluidos, o que nos faz sentir impressões de bem-estar ou mal-estar, a depender do grau evolutivo do espírito comunicante. Mantenha-se calma. Vai passar.”
Essas situações, muitas vezes vividas sem uma clara compreensão, nos mostram que a mediunidade não se restringe a ambientes formais de desenvolvimento, mas se manifesta em nossa vida única, permeada por experiências do espírito imortal.
O Campo Fluídico e a Sintonia Espiritual
A Doutrina Espírita nos ensina que o perispírito, invólucro semimaterial do espírito, é constituído de fluidos cósmicos universais. A qualidade e a individualização desse campo fluídico pessoal são diretamente influenciadas pelo estado moral do indivíduo, seus pensamentos, sentimentos e intenções. A ideia de “incompatibilidade” para com espíritos obsessores, por exemplo, sugere um mecanismo de proteção vibratória inerente à própria constituição fluídica do ser.
A Mecânica da Incompatibilidade Fluídica
Quando falamos em incompatibilidade fluídica, à luz dos princípios espíritas e de uma perspectiva energética, concebemos que ela se manifesta por uma diferença intrínseca na frequência vibratória entre o campo fluídico do indivíduo e as emanações de espíritos perturbadores. É como se o perispírito, ao operar em um patamar vibratório mais elevado — fruto de pensamentos e sentimentos nobres e da prática do bem —, estivesse em uma “onda” diferente e inacessível para os obsessores, que, por sua vez, vibram em frequências mais densas e inferiores. A desarmonia fundamental impede a sintonia e o acoplamento fluídico necessários para a obsessão.
Podemos fazer uma analogia com princípios da ressonância: assim como dois diapasões que não vibram na mesma frequência não conseguem transmitir energia um ao outro, um campo fluídico “limpo” e elevado cria uma “blindagem” vibratória. Da mesma forma, na física dos campos de força, um campo magnético forte e coeso repele partículas que não se alinham com suas linhas de força. O campo fluídico do indivíduo, quando em harmonia e com uma vibração elevada, atua como um campo protetor, “repelindo” fluidos mais densos e de baixa frequência, pois a atração ou sintonia fluídica baseia-se na similitude vibratória, conforme ensina Allan Kardec em “A Gênese”: “Os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas combinando-os pela força do seu pensamento e da sua vontade.” (Cap. XIV, item 20).
Moralidade e o Campo Fluídico
A moralidade é a base da elevação espiritual e, consequentemente, da constituição do campo fluídico. Pensamentos e sentimentos de amor, caridade, perdão e fé geram fluidos de alta vibração, que se incorporam ao perispírito, tornando-o mais sutil e luminoso. Essa “sutilização” ou “elevação de densidade” (no sentido de menor densidade material, maior fluidez) torna o campo fluídico do indivíduo intrinsecamente “incompatível” com as vibrações pesadas e densas dos obsessores. Não se trata apenas de “repelir”, mas de “não ter onde se acoplar” ou “não conseguir encontrar pontos de ressonância”. É como se a “assinatura vibracional” do indivíduo estivesse tão distante da assinatura do obsessor que não há como haver uma conexão efetiva, funcionando como uma forma de “filtragem natural”.
O Papel do Médium Preparado na Condução dos Fenômenos
A mediunidade não é uma faculdade passiva, mas exige responsabilidade, preparo e um papel ativo do médium no controle e direção do intercâmbio, buscando sempre o bem e o amparo. Um médium bem preparado não se limita a ser um “receptor” de influências, mas um “agente ativo” no processo mediúnico.
Ferramentas e Mecânica da Condução Mediúnica
O médium em desenvolvimento e o médium experimentado utilizam diversas ferramentas para lidar com as influências espirituais e conduzir os fenômenos de forma segura e produtiva:
- Controle Mental e Volitivo: Através da disciplina mental, o médium mantém a mente em estado de prece e sintonia com o Bem, direcionando seus pensamentos e sentimentos para as esferas superiores. Isso eleva sua própria vibração e a do ambiente, funcionando como a emissão consciente de ondas mentais de alta frequência. A vontade, dirigida para o bem, é um poderoso motor fluídico.
- Prece e Irradiação Fluídica: A prece sincera é um vetor potente de fluidos benéficos, que o médium pode irradiar para si e para o ambiente, criando um campo de proteção e harmonização. Essa irradiação desintegra as vibrações inferiores, agindo como a emissão de energia positiva. Allan Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, destaca que “a prece eleva a alma, e a elevação da alma a aproxima de Deus, que se manifesta por seus bons Espíritos.” (Cap. XXVI, item 287).
- Discernimento e Doutrinação: Um médium preparado possui o discernimento necessário para identificar a natureza dos espíritos e, se necessário, conduzir um processo de doutrinação fraterna. Isso envolve esclarecer e auxiliar espíritos perturbados a buscarem o caminho da elevação, agindo como um “processamento de dados” espiritual onde a informação (doutrinação) e a energia (amor) são utilizadas para “reprogramar” ou “reorientar” a entidade espiritual.
- Vigilância e Equilíbrio: O médium mantém-se vigilante quanto aos seus próprios pensamentos e sentimentos, evitando brechas para influências negativas. Busca o equilíbrio em sua vida para não se tornar um alvo fácil, realizando um “monitoramento contínuo” de sua própria “estrutura energética”.
Em termos de mecânica fluídica e psíquica, essa condução se daria da seguinte forma:
- Projeção de um Campo de Proteção: Através da força do pensamento e da vontade (que são emissores de fluidos), o médium projeta ao seu redor um campo fluídico de alta vibração, uma espécie de “bolha” ou “campo de força” espiritual, que impede a aproximação de fluidos e espíritos de baixa vibração. Esse campo é alimentado pela sua moralidade e pela prece constante.
- Elevação da Vibração do Ambiente: Ao elevar sua própria vibração, o médium influencia o ambiente, purificando-o fluidicamente e tornando-o menos propício à permanência de espíritos perturbadores. É uma “contaminação positiva” do ambiente.
- Direcionamento de Espíritos: No caso de aproximação de espíritos sofredores ou obsessores, o médium preparado não se deixa envolver por suas vibrações, mas, com firmeza e caridade, irradia fluidos de paz e amor e, se for o caso, através da comunicação mediúnica, doutrina e orienta esses espíritos para centros de amparo espiritual, agindo como um “canal” para a luz e promovendo um “reencaminhamento energético”.
Vigilância e Prece: Pilares da Proteção Espiritual
A vigilância constante sobre os pensamentos e sentimentos (auto-observação) e a prece fervorosa e sincera são os pilares para a manutenção da saúde espiritual e a proteção contra influências espirituais inferiores, não apenas para médiuns, mas para qualquer pessoa. A vigilância permite que o indivíduo “escaneie” sua própria mente e emoções, identificando e corrigindo padrões que poderiam atrair energias negativas. A prece, por sua vez, é a conexão direta com o Plano Espiritual Superior, atraindo fluidos benéficos e fortalecendo o campo fluídico individual, elevando sua frequência vibratória e criando uma barreira natural contra as vibrações mais densas e pesadas dos espíritos obsessores. Isso representa uma “otimização contínua do sistema de defesa espiritual”.
Compreendendo as Dinâmicas Espirituais em Diferentes Contextos
Experiências mediúnicas podem variar amplamente em sua natureza e intensidade. O que à primeira vista pode parecer uma influência obsessiva, na realidade, pode ser uma dinâmica espiritual completamente diferente, que exige um olhar mais apurado e sensível. A percepção apurada de um médium experiente pode captar nuances que escapam a uma análise superficial.
Tipos de Interações Espirituais para o Estudo
Ao invés de se concentrar apenas em “obsessão” ou “indução magnética” no sentido de domínio, o estudante da mediunidade deve considerar outras possibilidades de interação:
- Desprendimento Natural sem Influência Obsessiva: Durante o sono, o espírito pode se desprender do corpo para atividades normais do plano espiritual, como aprendizado ou repouso, sem qualquer intenção de obsessão por parte de espíritos inferiores. As sensações percebidas ao retornar ao corpo físico ou ao entrar em contato com fluidos de ambientes espirituais diversos são frequentemente confundidas com influências indesejadas.
- Tentativa Frustrada de Aproximação e Repulsão Natural: Pode ter havido uma aproximação de espíritos menos esclarecidos, talvez por curiosidade ou por um leve resquício de afinidade pretérita. No entanto, foram imediatamente repelidos pela elevação vibratória do campo fluídico do indivíduo. A “incompatibilidade” atuou como um “sistema de segurança” que impediu qualquer acoplamento ou influência significativa.
- Assistência Espiritual Protetora: A presença de espíritos protetores, guias e mentores espirituais pode ser tão intensa e eficaz que qualquer tentativa de aproximação de entidades inferiores é neutralizada antes mesmo que pudesse se concretizar como uma “influência” perceptível ou maléfica. A ação desses espíritos superiores cria uma “barreira energética” impenetrável para o mal.
- Sintonia Fluídica Passageira: Uma leve aproximação vibratória que não se concretizou em influência duradoura ou maléfica, sendo apenas um breve contato de campos energéticos.
- Interação Perispiritual Neutra ou Educativa: Ocorre um contato entre perispíritos no plano espiritual durante o sono, sem que isso implique em obsessão, mas sim em aprendizado inconsciente ou em uma “troca” fluídica benéfica ou inócua.
- Despertar de Sensibilidade Mediúnica Incipiente: As sensações podem ser manifestações de uma mediunidade que está se desenvolvendo e que percebeu, de forma latente, a presença de fluidos ou espíritos, sem que isso significasse uma influência negativa ou obsessiva.
A Importância do Evangelho no Lar e o Trabalho das Mágoas
Mesmo em situações que não se configuram como obsessão, a sugestão de práticas como o Evangelho no Lar, o trabalho das mágoas e o direcionamento de espíritos necessitados para um centro espírita é crucial. Isso aponta para a interconexão entre a moralidade, a saúde fluídica e a capacidade de auxílio no plano espiritual.
- Fortalecimento Preventivo do Campo Fluídico: O Evangelho no Lar e o trabalho das mágoas são práticas que elevam a vibração do indivíduo e do ambiente familiar, fortalecendo o campo fluídico e tornando-o ainda mais “incompatível” para obsessores, servindo como uma “profilaxia espiritual” e um “reforço estrutural” do sistema de defesa.
- Preparação para o Serviço e o Auxílio: A elevação moral e vibratória não serve apenas para a autoproteção, mas também para tornar o indivíduo um canal mais apto para o auxílio espiritual, seja no lar ou no centro espírita. A capacidade de “direcionar qualquer espírito imediatamente para um centro” é um ato de caridade que exige preparo e elevação. O campo fluídico “blindado” não é um campo isolado, mas um campo que irradia o bem e tem a capacidade de auxiliar aqueles que necessitam, funcionando como uma “estação de retransmissão de ajuda”.
- Ampliando a Blindagem Espiritual: A “blindagem espiritual” não é estática; ela se fortalece continuamente com a prática do bem, a caridade, a fé e o perdão. Trabalhar mágoas, por exemplo, libera fluidos negativos e estagnados que poderiam atrair ou sintonizar com espíritos afins, enquanto o perdão e o amor geram fluidos de alta potência. Isso é um “aprimoramento contínuo” da “qualidade do fluido perispiritual”.
Conclusão: A Humanização do Desenvolvimento Mediúnico
O desenvolvimento mediúnico é um processo que demanda estudo, disciplina e, acima de tudo, amor e caridade. Compreender as sutis dinâmicas do intercâmbio espiritual e o papel fundamental da moralidade na constituição do campo fluídico permite ao médium em desenvolvimento não apenas proteger-se, mas também tornar-se um instrumento mais eficaz no serviço ao próximo. As experiências individuais, quando analisadas à luz da Doutrina Espírita, oferecem valiosas lições para a humanização do médium e para a ampliação da compreensão dos fenômenos que nos cercam. A mediunidade, em sua essência, é uma ferramenta divina para a nossa própria evolução e para o auxílio ao próximo.
Bibliografia Sugerida para Aprofundamento:
- Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Federação Espírita Brasileira (FEB).
- Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. Federação Espírita Brasileira (FEB).
- Kardec, Allan. A Gênese. Federação Espírita Brasileira (FEB).
- Xavier, Francisco C. (Espírito André Luiz). Nosso Lar. Federação Espírita Brasileira (FEB).
- Xavier, Francisco C. (Espírito André Luiz). Mecanismos da Mediunidade. Federação Espírita Brasileira (FEB).
- Xavier, Francisco C. (Espírito André Luiz). Desobsessão. Federação Espírita Brasileira (FEB).
- Franco, Divaldo P. (Espírito Joanna de Ângelis). Autodescobrimento: Uma busca Interior. Livraria Espírita Alvorada Editora (LEAL).
- Miranda, Hermínio C. Diálogo com as Sombras. Federação Espírita Brasileira (FEB).
- Pires, J. Herculano. Mediunidade: Vida e Comunicação. Editora Paidéia.