Igreja, Igreja Primitiva, Cristianismo Primitivo e Bíblia

Pontos importantes e complexos sobre o conceito de Igreja, o período da Igreja Primitiva e do Cristianismo Primitivo, a mensagem original de Jesus e suas interpretações, e a formação da Bíblia.

Vamos explorar cada um deles:

Conceito de Igreja:

O termo “Igreja” pode ter diferentes significados dependendo do contexto.

  • No sentido amplo e teológico: Refere-se à comunidade de todos os crentes em Jesus Cristo, independentemente de denominação ou época. É o “corpo de Cristo” mencionado em algumas passagens bíblicas (e.g., 1 Coríntios 12:12-27).
  • No sentido institucional: Refere-se a uma organização religiosa específica, com sua estrutura, doutrinas e práticas particulares (e.g., Igreja Católica, Igreja Batista, etc.).
  • No contexto do Cristianismo Primitivo: Inicialmente, “Igreja” (do grego ekklesia, que significa “assembleia” ou “chamados para fora”) referia-se às comunidades locais de pessoas que se reuniam para seguir os ensinamentos de Jesus e compartilhar a fé. Não havia uma estrutura hierárquica centralizada como vemos em muitas denominações hoje.

Igreja Primitiva e Cristianismo Primitivo:

O Cristianismo Primitivo abrange o período desde a ressurreição de Jesus até o Concílio de Niceia (325 d.C.). A Igreja Primitiva refere-se às comunidades de cristãos que existiram durante esse período. Algumas características importantes incluem:

  • Foco nos ensinamentos e na vida de Jesus: A mensagem central era o anúncio do Reino de Deus, a filiação divina de Jesus, sua morte e ressurreição como cumprimento das profecias e a salvação pela fé nele.
  • Vida comunitária intensa: Os primeiros cristãos compartilhavam recursos, cuidavam uns dos outros e se reuniam regularmente para oração, estudo e a celebração da Ceia do Senhor.
  • Liderança descentralizada inicialmente: Os apóstolos tinham um papel fundamental como testemunhas oculares e líderes iniciais. Com o tempo, surgiram líderes locais como presbíteros (anciãos) e bispos (supervisores) nas diversas comunidades.
  • Expansão missionária: Impulsionados pela crença no evangelho, os primeiros cristãos se espalharam pelo Império Romano, enfrentando desafios e perseguições.

Mensagem Original de Jesus e Interpretações:

A “mensagem original” de Jesus é um tema de estudo e debate. Como bem podemos observar, Jesus não deixou escritos próprios. O que conhecemos de seus ensinamentos vem principalmente dos Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), que foram escritos algumas décadas após sua morte.

A mensagem central de Jesus influenciada por uma visão teológica cristã pode ser resumida em alguns pontos principais:

  • O Reino de Deus está próximo: Jesus anunciava a chegada do Reino de Deus, não como um reino político terrestre imediato, mas como a intervenção de Deus na história e a restauração do seu governo.
  • Chamado ao arrependimento e à fé: Para entrar nesse Reino, as pessoas precisavam se arrepender de seus pecados e crer em Jesus e em sua mensagem.
  • Amor a Deus e ao próximo: Jesus enfatizou a importância do amor a Deus sobre todas as coisas e o amor ao próximo como a si mesmo, resumindo a Lei e os Profetas.
  • Justiça social e cuidado com os marginalizados: Jesus demonstrou preocupação com os pobres, os doentes, os oprimidos e os excluídos da sociedade.
  • Sua própria identidade e missão: Embora haja diferentes interpretações sobre como Jesus se via, os Evangelhos o apresentam como o Messias esperado, o Filho de Deus, vindo para salvar a humanidade.

Interpretações da Mensagem Original:

Desde o início, a mensagem de Jesus foi interpretada de diferentes maneiras, e isso se reflete nos próprios Evangelhos, que apresentam nuances e ênfases distintas. Após a ascensão de Jesus, seus seguidores buscaram entender o significado de sua vida, morte e ressurreição à luz das Escrituras Hebraicas (o Antigo Testamento).

As cartas dos apóstolos, especialmente as de Paulo, oferecem interpretações teológicas da obra de Cristo e suas implicações para a vida dos crentes e a formação das comunidades. As diferentes comunidades cristãs primitivas também podem ter desenvolvido suas próprias ênfases e práticas, levando a uma diversidade dentro do cristianismo nascente.

Com o passar do tempo e a expansão do cristianismo para diferentes culturas e contextos, novas interpretações surgiram, influenciadas pela filosofia grega, pelas tradições locais e pelas necessidades das comunidades. Essa pluralidade de interpretações continua a existir até hoje nas diversas denominações cristãs.

A Bíblia e sua Formação:

Está correto afirmar que a Bíblia é uma coleção de livros escritos por diversos autores, de diferentes povos e em diferentes épocas.

  • Antigo Testamento: É composto por livros que eram as escrituras sagradas do judaísmo, escritos principalmente em hebraico (com algumas partes em aramaico) ao longo de muitos séculos. Os primeiros cristãos o adotaram como parte de suas escrituras, vendo nele as promessas e a história que culminavam em Jesus.
  • Novo Testamento: Foi escrito ao longo do século I d.C. por diferentes autores, principalmente em grego koiné. Inclui os quatro Evangelhos, que narram a vida e os ensinamentos de Jesus; o livro de Atos dos Apóstolos, que descreve a expansão inicial do cristianismo; as cartas dos apóstolos, que oferecem ensinamentos e orientações para as primeiras comunidades; e o livro do Apocalipse, que apresenta uma visão profética.

O processo de canonização, ou seja, a definição de quais livros seriam considerados parte da Bíblia como Escritura Sagrada, levou séculos. Os primeiros cristãos reconheceram gradualmente a autoridade dos escritos dos apóstolos e de seus colaboradores próximos. Os concílios ecumênicos posteriores desempenharam um papel importante na formalização do cânon bíblico, embora houvesse variações regionais por algum tempo.

As traduções da Bíblia são um aspecto crucial. Os textos originais em aramaico (algumas falas de Jesus e possivelmente alguns escritos mais antigos) e grego foram traduzidos para inúmeras línguas ao longo da história, cada tradução com seus próprios desafios e nuances interpretativas.

Jesus não fundou uma igreja institucional no sentido moderno:

Se considerarmos “fundar uma igreja” como estabelecer uma organização hierárquica e estruturada com dogmas e rituais definidos, então está correto. Jesus não estabeleceu algo nesse molde durante sua vida terrena.

No entanto, Jesus reuniu discípulos, ensinou-lhes, deu-lhes autoridade para pregar e curar (Mateus 10), e falou sobre a formação de uma comunidade de seguidores (por exemplo, em Mateus 16:18, quando fala sobre Pedro e a “pedra” sobre a qual edificaria sua Igreja).

Após a sua ascensão, seus seguidores, começaram a se organizar em comunidades locais, dando origem ao que conhecemos como a Igreja Primitiva. Portanto, embora Jesus não tenha fundado uma igreja no sentido institucional, seus ensinamentos levaram inevitavelmente à formação dessas primeiras comunidades de fé.

Em resumo, o estudo do Cristianismo Primitivo e da Igreja Primitiva revela um período dinâmico de formação e expansão de uma nova fé, baseada nos ensinamentos e na pessoa de Jesus, com uma diversidade de interpretações e práticas que lançaram as bases para a rica e complexa história do cristianismo.

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