Meu reino não é deste mundo: A Verdade e a Vida Futura

“Aquele que pertence à verdade escuta a minha voz”

Para compreendermos em detalhes o significado desta frase de Jesus à luz do Espiritismo, analisaremos o contexto, incluindo os trechos do Evangelho Segundo o Espiritismo e a interpretação que a doutrina espírita nos oferece.

Análise do Evangelho (Capítulo II, Itens 1, 2 e 3):

  1. Fala de Pilatos: “Pilatos, tendo entrado de novo no palácio e feito vir Jesus à sua presença, perguntou-lhe: ‘És o Rei dos Judeus?'” — Este é o contexto imediato da conversa entre Pilatos e Jesus, estabelecendo a questão central sobre a realeza de Jesus.

  2. Resposta de Jesus: “Respondeu-lhe Jesus: ‘Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas o meu reino ainda não é aqui.’ Disse-lhe então Pilatos: ‘És, pois, rei?’ — Jesus lhe respondeu: ‘Tu o dizes; sou rei; não nasci e não vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade. Aquele que pertence à verdade escuta a minha voz.'” — Aqui, Jesus define a natureza espiritual de seu reino e o propósito de sua vinda: testemunhar a verdade. A frase crucial que estamos analisando está inserida nesta resposta.

  3. Comentário de Kardec: “Jesus, porém, conformando seu ensino com o estado dos homens de sua época, não julgou conveniente dar-lhes luz completa, percebendo que eles ficariam deslumbrados, visto que não a compreenderiam. Limitou-se a, de certo modo, apresentar a vida futura apenas como um princípio, como uma lei da natureza a cuja ação ninguém pode fugir.” — Kardec nos oferece a perspectiva de que Jesus adaptou sua mensagem à capacidade de entendimento da época, apresentando a vida futura de forma velada, como um princípio fundamental.

Interpretação:

A afirmação de Jesus, “Aquele que pertence à verdade escuta a minha voz”, no contexto da conversa com Pilatos e sob a luz do Espiritismo, ganha uma profundidade significativa. A “verdade” a que Jesus se refere não é apenas um conjunto de fatos, mas sim os princípios morais e espirituais que regem o Universo, as leis divinas de amor, caridade e justiça.

A “pertença à verdade” implica uma sintonia da alma com esses princípios. Aqueles que buscam a retidão, a bondade e a compreensão espiritual naturalmente se sentirão atraídos e compreenderão a essência dos ensinamentos de Jesus. Não é uma questão de adesão intelectual, mas sim de ressonância vibratória do coração.

O Espiritismo complementa essa ideia ao explicar que a evolução espiritual nos torna cada vez mais sensíveis à verdade. À medida que nos despojamos de nossas imperfeições e cultivamos as virtudes, nossa capacidade de compreender e seguir os ensinamentos de Jesus se expande.

Quanto mais o indivíduo se esforça para viver de acordo com os princípios morais elevados, mais ele se torna receptivo à mensagem de amor e esperança trazida por Jesus.

O Espiritismo nos ensina que a evolução espiritual é um processo contínuo e que cada um se encontra em um estágio diferente.

Aqueles que já despertaram para a importância da moralidade e da caridade naturalmente se sentirão atraídos pelos ensinamentos de Jesus, pois eles ressoam com suas próprias aspirações e convicções.

A Vida Futura na Visão Espírita

O Espiritismo nos apresenta a vida futura como uma realidade contínua e dinâmica, marcada pela evolução do Espírito através de múltiplas existências.

Nos oferece uma visão consoladora e lógica da vida após a morte.

Contrariamente a ideias de um vazio ou de um paraíso e inferno estáticos, a doutrina espírita nos apresenta um panorama dinâmico e progressivo:

• Continuidade da Existência: A morte do corpo físico não é o fim da vida, mas sim a libertação da alma ou Espírito, que continua a existir no mundo espiritual.

• Pluralidade dos Mundos Habitados: Existem inúmeros mundos no Universo, em diferentes graus de evolução, que servem como morada para os Espíritos em suas jornadas de aprendizado.

• Reencarnação: A reencarnação é um mecanismo fundamental para o progresso espiritual. Através de múltiplas existências corpóreas, o Espírito tem a oportunidade de expiar suas faltas, aprender novas lições e desenvolver suas virtudes.

• Comunicação com os Espíritos: A comunicação entre o mundo físico e o mundo espiritual é possível e ocorre através da mediunidade. Essa faculdade permite obter informações e orientações dos Espíritos, auxiliando no nosso entendimento da vida futura.

Justiça Divina

A justiça divina, na perspectiva espírita, opera através da lei de causa e efeito, onde cada ação gera consequências que visam o aprendizado e a reparação do Espírito.

Ela não se assemelha a um sistema de punição e recompensa arbitrário. Ela se manifesta como uma consequência natural de nossas ações. Cada um colhe o que semeia, tanto nesta vida quanto nas futuras.

• Lei de Causa e Efeito: Todas as nossas ações, pensamentos e palavras geram consequências, que podem se manifestar imediatamente ou em existências futuras. Essa lei não é uma vingança divina, mas sim um mecanismo de aprendizado e reparação.

• Responsabilidade Individual: Cada indivíduo é responsável por seu próprio progresso espiritual. Ninguém pode evoluir por nós, embora possamos receber auxílio e orientação de Espíritos mais elevados.

• Oportunidades de Reparação: A reencarnação oferece inúmeras oportunidades para reparar erros do passado e resgatar débitos de vidas passadas. O arrependimento sincero e o esforço para praticar o bem são fundamentais nesse processo.

Céu e Inferno na Visão Espírita

O céu e o inferno são entendidos como estados de consciência e ambientes espirituais correspondentes ao grau de evolução moral de cada Espírito, e não como locais fixos de recompensa ou punição eterna.

O Espiritismo reformula as noções tradicionais de céu e inferno. Eles não são lugares fixos de eterna felicidade ou sofrimento, mas sim estados de consciência e ambientes espirituais correspondentes ao grau de evolução de cada Espírito.

• Mundos Felizes ou Superiores: São moradas de Espíritos que já alcançaram um elevado grau de pureza e amor. Nesses mundos, a felicidade é constante, e as preocupações materiais não existem. A paz, a harmonia e a fraternidade são as características predominantes.

• Mundos de Expiação e Provas: São mundos como a Terra, onde os Espíritos ainda imperfeitos passam por dificuldades e desafios necessários ao seu aprendizado e evolução. O sofrimento é um instrumento de depuração e crescimento.

• Mundos de Sofrimento: São regiões espirituais habitadas por Espíritos ainda muito ligados ao mal, que sofrem as consequências de suas próprias imperfeições e da lei de causa e efeito. Esses estados não são eternos; à medida que o Espírito evolui e se arrepende, ele pode ascender a planos mais felizes.

Trechos de “O Céu e o Inferno” (ou “A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”):

  • Capítulo VII (“Penas e Recompensas Futuras”): “O céu e o inferno são, pois, estados da alma durante a vida terrena e após a morte. Cada um traz em si o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça, segundo o uso que faz de seu livre-arbítrio. A felicidade suprema consiste na posse de todas as virtudes; o sofrimento extremo resulta da reunião de todos os vícios.”

  • Capítulo III (“O Céu”): “Não há, pois, nenhuma região circunscrita, nenhum lugar determinado para os bem-aventurados. O céu está por toda parte onde reinam o bem e os bons Espíritos. Todos os mundos são propícios à felicidade, para aqueles que sabem haurir neles os elementos.”

  • Capítulo IV (“O Inferno”): “Assim como não há lugar circunscrito para o céu, também não o há para o inferno. O inferno está por toda parte onde os Espíritos sofredores se encontram. Há, pois, tantos infernos quantos mundos e tantos quantos indivíduos.”

Em “O Céu e o Inferno”, Allan Kardec explora detalhadamente a natureza do mundo espiritual e as diferentes condições dos Espíritos após a morte. Ele demonstra, através de relatos de comunicações mediúnicas e da análise dos princípios espíritas, que o “céu” e o “inferno” são estados de alma e consequências das escolhas de cada um, e não lugares geográficos predeterminados.

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