Nossos Acompanhantes Espirituais

Entendendo a Terminologia Espírita: Possessão e Subjugação

Na Doutrina Espírita, o termo “possessão”, como era compreendido popularmente (com a ideia de um espírito tomando conta permanentemente do corpo de alguém, sem seu controle ou com fins maléficos), foi praticamente descontinuado ou redefinido por Allan Kardec.

Kardec preferiu e popularizou o termo “subjugação” para descrever a forma mais intensa de obsessão em que o espírito consegue dominar a vontade do encarnado, levando-o a atos ou palavras contra seu próprio desejo ou juízo.

Por que a “Possessão” foi descontinuada na Doutrina Espírita?

  1. Conceito de Livre-Arbítrio: A Doutrina Espírita enfatiza o livre-arbítrio do espírito encarnado. A ideia de “possessão” no sentido de um espírito “tomar” um corpo sem o mínimo consentimento ou afinidade, de forma permanente e irresistível, colide com esse princípio. Mesmo nos casos mais graves, há sempre uma sintonia fluídica e moral que permite a aproximação e o domínio.
  2. Origem do Termo: O termo “possessão” tem raízes históricas e religiosas ligadas a conceitos de demônios e forças malignas que se apossariam de indivíduos, muitas vezes desprovidas de uma explicação racional e baseadas no medo e na superstição. O Espiritismo busca desmistificar esses fenômenos, explicando-os sob a luz da razão e da caridade.
  3. Precisão Terminológica: Kardec buscou uma terminologia mais precisa para descrever os fenômenos da influência espiritual. Ele percebeu que o que se chamava “possessão” era, na verdade, uma forma extremada de subjugação, onde a vontade do encarnado era dominada pela vontade do espírito obsessor, mas sem que o corpo fosse “habitado” permanentemente e o espírito do encarnado fosse “expulso”.


Os Nossos Acompanhantes Espirituais na Visão Espírita: Uma Classificação Clara

Na Doutrina Espírita, a interação entre encarnados e desencarnados é uma realidade constante. Essa interação é regida principalmente pela lei de sintonia ou afinidade vibratória. Atraímos e somos atraídos por espíritos que vibram em frequências semelhantes às nossas, seja pelos pensamentos, sentimentos ou moral.

Podemos classificar os espíritos que nos acompanham em dois grandes grupos: Benfeitores Espirituais e Espíritos em Sofrimento ou Malfazejos.


I. Benfeitores Espirituais (Influências Positivas)

São espíritos que se dedicam ao bem, ao progresso e à evolução, tanto deles próprios quanto dos outros.

  1. Espírito Protetor (ou Anjo da Guarda Pessoal):

    • Distinção: É o nosso principal e mais constante acompanhante espiritual. É um espírito de ordem elevada, que nos é designado individualmente antes do nosso nascimento e nos acompanha por toda a vida terrena, e mesmo após o desencarne, por um longo período. É um amigo devotado que nos ama profundamente.
    • Função: Sua missão primordial é nos guiar no caminho do bem, inspirar bons pensamentos e ações, consolar-nos nas aflições, fortalecer-nos nas provas e nos proteger dos perigos físicos e morais, sempre respeitando nosso livre-arbítrio. Atua como um mentor e guia principal para nossa jornada evolutiva geral.
    • Analogia: Pense nele como seu mentor espiritual principal e exclusivo, um guardião amoroso que está sempre ao seu lado.
  2. Mentores Espirituais (ou Guias Específicos):

    • Distinção: São espíritos também de ordem elevada, mas que nos acompanham para propósitos específicos ou em fases determinadas da vida. Podemos ter vários mentores ao longo da existência, ou mesmo vários atuando simultaneamente em diferentes áreas (ex: um mentor para estudos, outro para o trabalho, outro para a família). Eles se aproximam por afinidade com a nossa missão ou necessidades pontuais.
    • Função: Oferecem inspiração, ideias, intuições e auxílio em tarefas específicas, no desenvolvimento de talentos, na superação de desafios pontuais ou no aprendizado de determinadas lições.
    • Analogia: São como professores ou especialistas que nos auxiliam em disciplinas ou projetos específicos.
  3. Benfeitores Espirituais (de Modo Geral):

    • Distinção: É uma categoria mais ampla que engloba todos os espíritos bons que se dedicam ao auxílio, à caridade e ao progresso, não apenas de indivíduos, mas também de coletividades, da humanidade ou do planeta. Incluem os protetores e mentores, mas também muitos outros espíritos que trabalham em falanges (grupos) para fins diversos (ciência, arte, cura, educação, etc.).
    • Função: Inspiram o bem, a fraternidade, a solidariedade; trabalham na organização do plano espiritual; auxiliam no socorro aos sofredores; promovem o avanço moral e intelectual da humanidade.
    • Analogia: São como toda a equipe de apoio, voluntários e trabalhadores do bem no plano espiritual.

II. Espíritos em Sofrimento ou Malfazejos (Influências Negativas/Perturbadoras)

São espíritos que, por ainda estarem em estágios inferiores de evolução, manifestam imperfeições ou sofrem as consequências de suas escolhas.

  1. Obsessores:

    • Distinção: São espíritos que procuram influenciar negativamente os encarnados (e outros desencarnados), geralmente por manifestarem sentimentos inferiores como ódio, vingança, inveja, ciúme, orgulho, apego a vícios, ou por terem alguma pendência cármica com a pessoa. Eles agem conscientemente para perturbar ou dominar.
    • Função (ou disfunção): Causam perturbações de graus variados:
      • Obsessão Simples: Influência persistente em pensamentos e ideias, induzindo a erros, vícios, melancolia, etc. O espírito obsessor atua de forma discreta, agindo sobre o moral.
      • Fascinação: Iludem o encarnado, fazendo-o acreditar em ideias falsas ou absurdas, tornando-o cego para a realidade e impedindo-o de aceitar conselhos. A vítima é enganada.
      • Subjugação: É a ação mais intensa e grave da obsessão. O espírito obsessor domina a vontade do encarnado, compelindo-o a agir contra seu desejo, seja por impulsos físicos (movimentos, falas) ou morais (ações que o encarnado não faria em sã consciência). É a isso que, antigamente e de forma imprecisa, se chamava “possessão”, embora o espírito do encarnado nunca seja “expulso” de seu corpo.
    • Analogia: São como “predadores” ou “incomodadores” que se aproveitam das nossas fraquezas morais.
  2. Sofredores (ou Perturbados):

    • Distinção: São espíritos que desencarnaram e se encontram em grande aflição, dor, angústia, remorso ou perturbação mental, muitas vezes sem terem se dado conta de que estão mortos ou presos a vícios e paixões terrenas. Eles não necessariamente têm a intenção de prejudicar, mas sua presença e sofrimento podem ser desgastantes para os encarnados que sintonizam com eles.
    • Função (ou condição): Irradiam seus próprios fluidos de dor e perturbação, podendo causar desconforto, tristeza, cansaço ou intensificar vícios em quem sintoniza com eles. Alguns podem buscar os encarnados em busca de auxílio ou por afinidade com seus vícios.
    • Analogia: São como “náufragos” ou “doentes” do plano espiritual que precisam de socorro e esclarecimento.
  3. Vagantes (ou Errantes):

    • Distinção: São espíritos que se encontram em um período de transição ou repouso entre as encarnações, ou que ainda não têm um destino definido no plano espiritual. Eles não estão necessariamente sofrendo nem atuando para o mal, mas podem estar em fase de aprendizado, reflexão ou em busca de um novo rumo. Podem estar explorando o plano espiritual ou esperando uma oportunidade para reencarnar.
    • Função (ou condição): Podem nos acompanhar momentaneamente por curiosidade, afinidade passageira, ou simplesmente por estarem de passagem. Sua influência é geralmente neutra ou ocasional.
    • Analogia: São como “viajantes” ou “exploradores” no plano espiritual.

Visão Geral das Influências Espirituais

A grande lição da Doutrina Espírita é que a qualidade das nossas influências espirituais depende fundamentalmente de nós mesmos.

  • A lei de afinidade: Atraímos e somos atraídos por espíritos que vibram em sintonia conosco. Se cultivamos pensamentos e sentimentos elevados (amor, caridade, perdão, honestidade, estudo), atraímos benfeitores. Se nos entregamos a vícios, ódios, egoísmo, orgulho, atraímos obsessores e sofredores.
  • O livre-arbítrio: Nenhuma influência espiritual é irresistível. Somos sempre livres para escolher a quem dar ouvidos e a que tipo de pensamentos e sentimentos nos entregar. Os benfeitores inspiram, os obsessores induzem, mas a decisão final é sempre nossa.
  • A vigilância e a prece: A vigilância sobre nossos próprios pensamentos e ações, aliada à prece sincera, são as ferramentas mais eficazes para fortalecer a sintonia com os bons espíritos e nos proteger das influências negativas.

Obras Espíritas para Estudo Aprofundado

Sim, a Doutrina Espírita é rica em obras que classificam e detalham esses assuntos de forma didática. As obras básicas de Allan Kardec são o ponto de partida fundamental, e outras obras complementam o entendimento.

1. O Livro dos Espíritos – Allan Kardec

  • Capítulo II: Dos Espíritos – Intervenção dos Espíritos no Mundo Corporal:
    • Questão 459: Aborda se os Espíritos influenciam nossos pensamentos e atos.
    • Questão 489 e seguintes: Trata dos Espíritos Protetores (anjos da guarda), familiares ou simpáticos.
    • Questão 522 e seguintes: Explica a atuação dos Espíritos no mundo.
  • Capítulo IX: Da Lei de Igualdade – A Influência dos Espíritos na Vida dos Indivíduos:
    • Questão 623 e seguintes: Discute a lei de atração e afinidade entre os Espíritos.

2. O Livro dos Médiuns – Allan Kardec

  • Capítulo XXIII: Da Obsessão:
    • Define obsessão em suas diferentes modalidades (simples, fascinação, subjugação), explica suas causas e como combatê-la. Este capítulo é crucial para entender a distinção e a razão pela qual o termo “possessão” é substituído pela “subjugação” na Doutrina. É fundamental para entender os obsessores.
  • Capítulo XXIV: Da Identidade dos Espíritos:
    • Embora não classifique diretamente, este capítulo auxilia a compreender a diversidade dos espíritos e a dificuldade de identificação, o que se relaciona com a variedade de acompanhantes.

3. O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec

  • Capítulo XXIV: Não ponhais a candeia debaixo do alqueire – Espíritos Protetores:
    • Reforça o papel do Espírito Protetor e a importância da sua ação em nossa vida, com exemplos práticos.
  • Capítulo XXVIII: Coletânea de preces espíritas – Prece aos Anjos Guardiães e aos Espíritos Protetores:
    • Contém a prece que demonstra a forma de se conectar com eles.

4. A Gênese – Allan Kardec

  • Capítulo XIII: Os Milagres da Cura – Fluidos e suas propriedades:
    • Discute a ação dos fluidos espirituais, que são a base da influência dos espíritos sobre nós, tanto para o bem (fluidos curadores dos benfeitores) quanto para o mal (fluidos pesados dos obsessores/sofredores).

5. O Céu e o Inferno – Allan Kardec

  • Primeira Parte: Doutrina:
    • Capítulo VII: Código Penal da Vida Futura: Aborda as consequências das ações morais no estado dos espíritos após a morte, o que ajuda a entender a condição dos sofredores e obsessores.
  • Segunda Parte: Exemplos:
    • Contém inúmeros relatos de espíritos que se comunicam, mostrando a condição de sofredores, arrependidos e felizes, elucidando suas diferentes situações no plano espiritual.

6. Obras Complementares (Espírito Emmanuel / Chico Xavier)

  • Nosso Lar (e a série “A Vida no Mundo Espiritual”):

    • Descreve detalhadamente a vida após a morte, as colônias espirituais, o trabalho dos benfeitores, a condição dos espíritos sofredores e obsessores e a complexidade das relações entre os planos. Mostra na prática como os mentores e benfeitores atuam e como os obsessores e sofredores são resgatados ou agem.
    • Capítulos Relevantes (Exemplo de “Nosso Lar”): A obra inteira é relevante, mas especialmente os capítulos que descrevem os hospitais, os campos de trabalho, as áreas de trevas e os processos de socorro.
  • Libertação:

    • Foca no tema da obsessão em profundidade, mostrando a ação dos obsessores, suas motivações, as hierarquias no mundo das sombras e o trabalho de libertação e esclarecimento.
  • Missionários da Luz:

    • Detalha o trabalho de benfeitores no auxílio aos encarnados, com foco na mediunidade e na desobsessão.

Para um estudo aprofundado, recomenda-se começar pelas obras básicas de Kardec na ordem (O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno) e, em seguida, mergulhar nas obras de Chico Xavier/Emmanuel, que ilustram os conceitos de forma prática e detalhada. A leitura e a reflexão sobre esses temas são a melhor forma de se proteger e de auxiliar, compreendendo a dinâmica da vida espiritual.

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