Vamos explorar as nuances entre estados obsessivos espirituais, surtos psicóticos e o transtorno bipolar, buscando exemplos e a perspectiva espírita sobre a atuação de espíritos.
Confusão entre Obsessão e Surtos Psicóticos: Exemplos Reais
Em algumas situações, os comportamentos de uma pessoa sob forte obsessão podem ser superficialmente semelhantes aos de alguém vivenciando um surto psicótico, levando à confusão, especialmente para observadores leigos. Vejamos alguns exemplos:
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Isolamento social e comportamentos estranhos: Uma pessoa com obsessão grave pode se isolar devido a sentimentos de inadequação, medo de influenciar negativamente outros ou por seguir rituais complexos e demorados que consomem seu tempo. Em um surto psicótico, o isolamento pode ocorrer por desconfiança paranoide, dificuldade em processar estímulos externos ou desorganização do pensamento que dificulta a interação social. Em ambos os casos, podem surgir comportamentos considerados “estranhos” pelos outros, como falar sozinho (na obsessão, pode ser para se proteger de influências; na psicose, pode ser resposta a alucinações auditivas).
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Pensamentos intrusivos e delírios: Na obsessão, pensamentos negativos, perturbadores ou inadequados invadem a mente da pessoa repetidamente, causando grande ansiedade. Embora a pessoa geralmente reconheça que esses pensamentos são seus (ego-sintônicos), a intensidade e a frequência podem ser debilitantes. Em um surto psicótico, podem ocorrer delírios, que são crenças fixas e irreais que a pessoa acredita firmemente, mesmo diante de evidências contrárias (ego-distônicos). Por exemplo, um pensamento obsessivo pode ser “e se eu machucar alguém?”, gerando angústia. Um delírio pode ser “eu tenho o poder de salvar o mundo e preciso agir agora”. Em casos extremos de obsessão, a pessoa pode perder o senso crítico da irrealidade de seus medos, aproximando-se de um estado psicótico.
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Agitação e irritabilidade: Tanto a ansiedade intensa da obsessão quanto a desregulação emocional de um surto psicótico podem levar à agitação, irritabilidade e dificuldade em relaxar. Em ambos os quadros, a pessoa pode apresentar comportamentos impulsivos ou reações exageradas.
Transtorno Bipolar do Humor: A Perspectiva Espírita
O transtorno bipolar do humor é caracterizado por oscilações extremas de humor, alternando entre episódios de mania (euforia, energia excessiva, pensamento acelerado, impulsividade, grandiosidade) e depressão (tristeza profunda, perda de interesse, fadiga, alterações no sono e apetite, pensamentos de morte).
Na visão espírita, as doenças mentais, incluindo o transtorno bipolar, podem ter múltiplas causas, envolvendo tanto fatores orgânicos (predisposição genética, desequilíbrios neuroquímicos) quanto espirituais. A Doutrina Espírita considera que somos seres integrais, compostos de corpo físico e espírito, e que as experiências e necessidades do espírito podem influenciar a saúde mental.
Atuação de Espíritos na Bipolaridade segundo o Espiritismo:
A relação entre a atuação de espíritos e o transtorno bipolar é complexa e não determinística. O Espiritismo não afirma que todo caso de bipolaridade seja causado por obsessão, mas considera a possibilidade de influências espirituais em alguns quadros, interagindo com as predisposições orgânicas.
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Episódios de Mania: Durante os estados de mania, caracterizados por exaltação, grandiosidade e impulsividade, a perspectiva espírita pode considerar a influência de:
- Espíritos levianos ou perturbadores: Que se aproveitam da fragilidade psíquica do indivíduo para intensificar a exaltação, a sensação de poder e a irresponsabilidade. Esses espíritos podem se sintonizar com tendências preexistentes no indivíduo à exaltação e ao descontrole.
- Ressonância com vivências passadas: O espírito em si pode trazer de experiências anteriores tendências à exaltação e à mania, que se manifestam com maior intensidade durante desequilíbrios orgânicos.
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Episódios de Depressão: Nos períodos de depressão, marcados por tristeza profunda, desesperança e falta de energia, a visão espírita pode considerar:
- Influência de espíritos sofredores ou vingativos: Que podem se ligar ao indivíduo, intensificando sentimentos de tristeza, culpa e desesperança, seja por afinidade vibratória ou por objetivos de vingança relacionados a vidas passadas.
- Autocobrança e sentimentos de culpa: O próprio espírito pode carregar consigo um fardo de culpas de existências passadas, que se manifestam como profunda tristeza e autodepreciação durante a fase depressiva.
- Desequilíbrio energético: A depressão também pode ser vista como um desequilíbrio energético do perispírito, facilitando a sintonia com energias negativas e influências espirituais inferiores.
Escala Espírita e o Transtorno Bipolar:
A Escala Espírita, proposta por Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”, classifica os espíritos em diferentes ordens, de acordo com seu grau de evolução moral e intelectual. Embora não haja uma correlação direta e específica entre as ordens da escala e os espíritos que atuam no transtorno bipolar, podemos fazer algumas associações gerais:
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Espíritos Imperfeitos (da 3ª ordem): São caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito, tendências ao mal, ignorância, orgulho e egoísmo. Em estados de mania, poderiam influenciar intensificando a impulsividade, a agressividade e os delírios de grandeza. Em estados de depressão, poderiam alimentar sentimentos de culpa, vingança e desesperança.
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Espíritos Bons (da 2ª ordem): São caracterizados pela predominância do espírito sobre a matéria, desejos de praticar o bem e progresso moral. Sua influência tenderia a ser de auxílio, buscando o equilíbrio e a resignação do indivíduo, oferecendo amparo e inspiração para o tratamento e a superação das dificuldades.
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Espíritos Puros (da 1ª ordem): Já alcançaram a perfeição e atuam como mensageiros de Deus. Sua influência seria sempre benéfica, visando o bem-estar e a evolução do indivíduo, embora sua atuação direta possa ser mais sutil e focada no despertar da consciência e na elevação moral.
É fundamental reiterar que a visão espírita sobre o transtorno bipolar não exclui a necessidade de tratamento médico e psicológico. A Doutrina Espírita preconiza a integração entre ciência e religião, buscando compreender o ser humano em sua totalidade. O tratamento para o transtorno bipolar geralmente envolve medicação para estabilizar o humor, psicoterapia e suporte social. A abordagem espírita pode complementar esse tratamento, oferecendo apoio espiritual, compreensão das dimensões espirituais da saúde mental e estímulo à reforma íntima como forma de promover o equilíbrio e a harmonia.
Em resumo, a confusão entre obsessão e surto psicótico pode ocorrer devido a algumas semelhanças comportamentais superficiais. No contexto do transtorno bipolar, o Espiritismo oferece uma perspectiva que considera a possível influência de espíritos de diferentes ordens durante os episódios de mania e depressão, interagindo com as predisposições orgânicas do indivíduo. No entanto, essa visão complementar não substitui a importância do tratamento médico e psicológico convencional.