Os Milagres de Jesus
A Doutrina Espírita nos convida a revisitar esses acontecimentos sob uma nova perspectiva, buscando compreender a lógica por trás do que, à primeira vista, pode parecer puramente sobrenatural.
De acordo com o Espiritismo, a natureza de Jesus era, de fato, excepcional. Ele é considerado um Espírito de elevada ordem, um dos seres mais perfeitos que já habitaram a Terra. Essa superioridade moral e espiritual lhe conferia um poder mediúnico extraordinário, muito além da capacidade comum dos seres humanos.
A Doutrina Espírita ensina que a mediunidade é uma faculdade inerente ao ser humano, a capacidade de servir de intermediário entre o mundo físico e o mundo espiritual. Em graus diversos, todos nós possuímos essa faculdade. No entanto, em Jesus, essa mediunidade atingiu um nível de pureza e potência sem precedentes.
Assim, muitos dos chamados “milagres” podem ser compreendidos como manifestações dessa poderosa mediunidade, atuando sobre as leis naturais que muitas vezes desconhecemos ou não compreendemos em sua totalidade. Podemos pensar em fenômenos como as curas, a multiplicação dos pães e peixes, e até mesmo a aparente “ressurreição” (que o Espiritismo entende como o retorno do Espírito ao plano espiritual e a posterior revivificação do corpo físico em alguns casos específicos) como resultados da ação fluídica de Jesus, direcionada por sua vontade e amparada por Espíritos Superiores.
A Doutrina Espírita também enfatiza o papel do pensamento e da vontade na modelagem da realidade. Como cocriadores inseridos na criação divina, nossos pensamentos e sentimentos emitem vibrações que interagem com o fluido cósmico universal, a matéria-prima do universo. A pureza e a elevação dos pensamentos de Jesus, aliadas à sua poderosa vontade, certamente lhe permitiam atuar de maneira muito mais eficaz sobre esse fluido, produzindo fenômenos que nos parecem extraordinários.
É importante ressaltar que, para o Espiritismo, a ação de Jesus não era uma quebra das leis naturais, mas sim uma demonstração de um conhecimento e domínio dessas leis que estavam além da compreensão da maioria das pessoas da época. Ele agia em sintonia com as leis divinas, utilizando recursos e energias que ainda não são totalmente desvendados pela ciência.
Ao invés de diminuir a figura de Jesus, essa perspectiva espírita a engrandece ainda mais, mostrando-o não apenas como um ser bondoso e um mestre moral, mas também como um Espírito evoluído com um profundo conhecimento das leis que regem o universo e uma capacidade mediúnica ímpar. Seus “milagres” se tornam, então, exemplos práticos do potencial que reside em todos nós, como espíritos imortais e cocriadores, à medida que evoluímos moral e espiritualmente. Ele nos revela, através de suas ações, a nossa própria natureza espiritual e as possibilidades infinitas que se abrem diante de nós no caminho da evolução.
A Revivificação do Corpo Físico de Jesus
A “revivificação do corpo físico de Jesus” mencionada anteriormente não deve ser entendida como um fenômeno de materialização no sentido estrito que o Espiritismo geralmente atribui a esse termo, nem como uma simples aparição. Para compreender a diferença, vamos analisar cada um desses conceitos à luz da Doutrina Espírita:
Aparição:
- Natureza: A aparição é um fenômeno mediúnico de vidência, no qual o Espírito se torna visível para uma ou algumas pessoas dotadas dessa faculdade. O Espírito utiliza seu perispírito, que é o seu corpo fluídico, para se apresentar com a forma que possuía em vida ou com outra forma simbólica.
- Tangibilidade: As aparições geralmente não são tangíveis, ou seja, não se pode tocar o Espírito. São como imagens fluídicas que se manifestam aos olhos do vidente.
- Objetividade: É um fenômeno mais subjetivo, pois depende da capacidade mediúnica do vidente para ocorrer e ser percebido. Outras pessoas presentes no mesmo local podem não ver a aparição.
- Propósito: As aparições podem ter diversos propósitos, como consolar, advertir, provar a sobrevivência da alma, ou mesmo para estudos e observações mediúnicas.
Materialização:
- Natureza: A materialização é um fenômeno mais complexo e raro, no qual o Espírito consegue tornar seu perispírito tangível e, por vezes, até mesmo adquirir algumas propriedades da matéria densa. Isso ocorre através da combinação do fluido universal com o ectoplasma, um fluido vitalizado exteriorizado pelo médium.
- Tangibilidade: A principal característica da materialização é a sua tangibilidade. As formas materializadas podem ser tocadas, e em alguns casos, até mesmo exercer força física.
- Objetividade: É um fenômeno mais objetivo, pois a forma materializada pode ser percebida por várias pessoas presentes, mesmo aquelas sem vidência desenvolvida.
- Propósito: As materializações geralmente visam comprovar de forma mais evidente a existência e a individualidade dos Espíritos, permitir interações mais diretas (como curas ou comunicações táteis) e, em alguns casos, realizar estudos científicos sobre o mundo espiritual.
A “Revivificação” do Corpo de Jesus:
À luz da Doutrina Espírita, as aparições de Jesus após a crucificação não se enquadram perfeitamente nem na categoria de aparição comum, nem na de materialização como geralmente entendemos. Alguns pontos importantes a considerar:
- Natureza Excepcional de Jesus: Como um Espírito de elevadíssima ordem, Jesus possuía um domínio sobre o perispírito e sobre as energias sutis muito superior ao dos médiuns comuns.
- Corpo Glorificado: A tradição cristã fala de um corpo “glorificado” após a ressurreição, com propriedades diferentes do corpo físico terreno. O Espiritismo pode interpretar isso como um perispírito altamente sutilizado e com grande capacidade de modificação e atuação no plano físico.
- Aparições Seletivas: As aparições de Jesus nem sempre eram visíveis a todos os presentes, sugerindo um componente de percepção mediúnica por parte de alguns discípulos.
- Tangibilidade Variável: Há relatos de que Jesus foi tocado em algumas ocasiões, mas suas aparições também cessavam de forma abrupta, indicando uma natureza fluídica.
Considerando esses aspectos, a “revivificação” do corpo de Jesus pode ser entendida como uma manifestação especial de seu perispírito, com um grau de tangibilidade temporária e seletiva, possibilitada por seu elevado grau evolutivo e poder espiritual. Não seria uma materialização no sentido de uma reconstituição completa e permanente de seu corpo físico terreno, que havia passado pela morte e decomposição. Em vez disso, seria uma forma perispiritual densificada o suficiente para ser vista e, em alguns momentos, tocada, com o objetivo de provar sua sobrevivência e transmitir seus ensinamentos finais aos discípulos.
Em resumo, a “revivificação” do corpo de Jesus se situa em um ponto intermediário entre uma aparição comum e uma materialização plena, sendo um fenômeno único e específico da sua natureza espiritual excepcional.