Transmigrações Progressivas no Pentateuco Espírita e na Bíblia à Luz do Espiritismo

É importante notar que o “Pentateuco Espírita” não existe como um livro único. O Espiritismo se fundamenta principalmente nas obras de Allan Kardec, especialmente “O Livro dos Espíritos“, “O Livro dos Médiuns“, “O Evangelho Segundo o Espiritismo“, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese“. É nessas obras que encontramos a base da doutrina espírita, incluindo a transmigração progressiva.

Na Bíblia, a interpretação da transmigração progressiva à luz do Espiritismo envolve analisar algumas passagens que, para os espíritas, sugerem ou não contradizem a ideia de múltiplas existências.

Passagens do Pentateuco Espírita (Obras de Allan Kardec):

As obras de Kardec dedicam vários capítulos e questões à explicação da reencarnação e da transmigração progressiva. Algumas passagens chave incluem:

* “O Livro dos Espíritos”, Questões 189 a 196 (Capítulo IV – Pluralidade das Existências – Transmigrações Progressivas):

* Questão 189: “Desde o princípio de sua formação, o Espírito goza da plenitude de suas faculdades? – Não; porque o Espírito, como o homem, tem também a sua infância. Em sua origem, os Espíritos não têm mais do que uma existência instintiva, possuindo apenas a consciência de si mesmo e de seus atos. Só pouco a pouco a inteligência se desenvolve.”

* Explicação Espírita: Kardec aqui estabelece que a evolução do espírito é gradual, começando de um estado simples e ignorante, necessitando de experiências para desenvolver suas faculdades. Isso implica a necessidade de múltiplas existências.

* Questão 190: “Qual é o estado da alma em sua primeira encarnação? – O estado da infância na vida corpórea. Sua inteligência apenas desabrocha: ela ensaia para a vida.”

* Explicação Espírita: A primeira encarnação é comparada à infância, um período de aprendizado elementar, reforçando a ideia de um longo processo evolutivo através de várias vidas.

* Questão 192: “As almas que se desligam do corpo, ao morrer, voltam imediatamente a animar outro corpo? – Nem sempre; ficam algumas vezes no estado de erraticidade, durante um tempo mais ou menos longo.”

* Explicação Espírita: Esta questão introduz o estado inter vidas (erraticidade), mostrando que a reencarnação não é imediata, mas um processo que ocorre quando necessário para o progresso do espírito.

* Comentário de Kardec após a questão 196: “A marcha dos Espíritos é progressiva e jamais retrógrada; eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem do grau que já alcançaram. Em suas diferentes existências corpóreas, podem descer como homens, mas não como Espíritos.”

* Explicação Espírita: Esta passagem é crucial para entender a transmigração progressiva. O espírito não retrocede em sua evolução essencial, embora possa encarnar em condições mais difíceis para aprender e expiar. A progressão é a lei.

* “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Capítulo III – Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai:

* Este capítulo, baseado em João 14:1-3, é interpretado pelo Espiritismo como uma referência à pluralidade dos mundos habitados, onde os espíritos encarnam em diferentes estágios de evolução. As “muitas moradas” seriam os diversos planetas que oferecem diferentes níveis de aprendizado.

Passagens da Bíblia Interpretadas à Luz do Espiritismo:

Os espíritas encontram algumas passagens bíblicas que, em sua interpretação, não contradizem ou até mesmo sugerem a ideia de reencarnação, embora a doutrina não seja explicitamente detalhada como no Espiritismo:

* João 3:3-7 (O diálogo de Jesus com Nicodemos sobre “nascer de novo”):

* “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.”

* Interpretação Espírita: Os espíritas interpretam o “nascer de novo” não como um renascimento carnal literal, mas como uma nova existência, uma reencarnação, necessária para a evolução espiritual e para entrar no “reino de Deus” (um estado de maior pureza e evolução).

* Mateus 17:10-13 (A pergunta sobre Elias e a resposta de Jesus sobre João Batista):

* “E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é necessário que Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram; antes, fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem padecerá nas mãos deles. Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.”

* Interpretação Espírita: Muitos espíritas veem nesta passagem uma indicação de que João Batista era o espírito de Elias reencarnado, cumprindo uma profecia. A dificuldade reside no fato de que, segundo a Bíblia (2 Reis 2:11), Elias não morreu da forma convencional, mas foi levado ao céu em um redemoinho. A interpretação espírita pode considerar que o “espírito e poder de Elias” (Lucas 1:17) se manifestaram em João, ou que houve um processo de reencarnação que não é detalhado nas Escrituras.

* João 9:1-3 (A cura do cego de nascença):

* “E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.”

* Interpretação Espírita: A pergunta dos discípulos (“quem pecou, este ou seus pais?”) sugere uma crença preexistente na possibilidade de o indivíduo ter pecado antes do nascimento. Embora Jesus não confirme essa ideia diretamente, sua resposta não a nega explicitamente e oferece outra explicação para a condição do cego. Alguns espíritas veem nessa pergunta um eco da crença na preexistência da alma e suas responsabilidades.

Considerações Finais:

É crucial entender que a interpretação espírita dessas passagens bíblicas difere das interpretações tradicionais de muitas correntes cristãs. O Espiritismo utiliza a razão, a lógica e as comunicações mediúnicas como ferramentas para compreender as escrituras e a natureza da alma.

A transmigração progressiva, conforme ensinada no Espiritismo através das obras de Kardec, oferece uma visão de evolução espiritual contínua e gradual, através de múltiplas existências em diferentes mundos, com o objetivo final de alcançar a perfeição relativa.

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