Sentidos Físicos e Órgãos Motores Versus Órgãos e Faculdades Espirituais

“Pelos sentidos físicos e órgãos motores, tomamos contato com o mundo corpóreo e sobre ele agimos. Pelos órgãos e faculdades espirituais, mantemos contato constante com o mundo espiritual, sobre o qual também atuamos.” (OLIVEIRA, Therezinha. Mediunidade.)

Therezinha Oliveira resume a nossa complexa interação com os dois planos da existência.

Vamos desmembrar essa ideia, explorando a relação entre nossos sentidos físicos e espirituais à luz da Doutrina Espírita.

Nossa Natureza Dual: Espírito e Matéria

A Doutrina Espírita nos ensina que somos seres essencialmente espirituais, revestidos temporariamente de um corpo material. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na questão 94, nos define como “Espírito encarnado para trabalhar na sua perfeição”. Essa dualidade é fundamental para entendermos a distinção e a interligação entre os sentidos físicos e espirituais.

  • O Corpo Físico: Instrumento de Ação no Mundo Material: Nossos cinco sentidos físicos (visão, audição, olfato, paladar e tato) e nossos órgãos motores (músculos, ossos, etc.) são as ferramentas que o Espírito utiliza para interagir com o mundo físico. Através deles, percebemos o ambiente ao nosso redor, aprendemos, nos movimentamos e expressamos nossas necessidades e desejos no plano material. Como um instrumento bem afinado, nosso corpo permite a manifestação da nossa vontade no mundo concreto.

  • O Perispírito: Elo Entre o Espírito e a Matéria: Para que o Espírito, de natureza sutil, possa atuar sobre a matéria grosseira do corpo físico, existe um intermediário: o perispírito. Kardec o descreve em O Livro dos Médiuns como “um dos produtos mais importantes do fluido cósmico; é uma espécie de atmosfera sutil que envolve o Espírito”. O perispírito é o elo plástico que molda o corpo físico e transmite as sensações do corpo ao Espírito e as ordens do Espírito ao corpo.

Os Sentidos e Órgãos Espirituais: A Percepção Além da Matéria

Assim como possuímos órgãos para interagir com o mundo físico, também dispomos de faculdades inerentes ao nosso Espírito que nos permitem manter contato com o mundo espiritual. Thesezinha Oliveira sabiamente aponta para essa realidade.

  • A Percepção Extrafísica: Nossos “sentidos espirituais” não são órgãos localizados no corpo físico, mas sim faculdades da alma que se manifestam através do perispírito. A mediunidade, em suas diversas formas, é uma das maneiras pelas quais essas faculdades se expressam de forma mais evidente.

  • A Intuição: A Voz do Espírito: A intuição, muitas vezes descrita como um pressentimento ou uma ideia súbita, é uma forma sutil de contato com o plano espiritual. É a voz do nosso próprio Espírito, ou mesmo a influência de Espíritos mais evoluídos, nos guiando e oferecendo insights que a razão pura nem sempre alcança. Em O Livro dos Espíritos, questão 621, Kardec aborda a intuição como uma forma de conhecimento.

  • A Mediunidade: A Ponte Entre os Mundos: A mediunidade, conforme detalhado em O Livro dos Médiuns, é a faculdade que algumas pessoas possuem de servir de intermediários entre os Espíritos e o mundo físico. Essa faculdade pode se manifestar de diversas maneiras: psicografia (escrita mediúnica), psicofonia (comunicação oral), vidência (visão espiritual), audiência (audição espiritual), etc. Em todos esses casos, o perispírito do médium desempenha um papel crucial na transmissão dos pensamentos e das energias dos Espíritos.

A Influência dos Fluidos na Interação

Os fluidos espirituais, também denominados fluido cósmico universal em diferentes graus de sutileza, permeiam todo o Universo e são o meio pelo qual os Espíritos atuam uns sobre os outros e sobre a matéria.

  • O Fluido Perispiritual: O perispírito é formado por uma condensação do fluido cósmico universal, possuindo propriedades que o tornam sensível às vibrações do pensamento e da vontade. É através do perispírito que os Espíritos comunicam seus pensamentos e exercem influência sobre os médiuns e sobre o mundo material.

  • A Ação dos Fluidos na Mediunidade: Durante a prática mediúnica, ocorre uma combinação dos fluidos do médium e do Espírito comunicante. A qualidade e a natureza desses fluidos influenciam a clareza e a fidelidade da comunicação. Um médium com fluidos mais purificados e equilibrados tende a transmitir mensagens mais claras e elevadas.

Em Resumo:

A afirmação de Therezinha Oliveira nos convida a uma visão holística do ser humano. Não somos apenas corpos físicos interagindo com um mundo material tangível. Somos também seres espirituais em constante interação com o plano espiritual, utilizando faculdades sutis que transcendem os limites da matéria.

Nossos sentidos físicos e órgãos motores nos conectam ao mundo corpóreo, permitindo-nos aprender e evoluir através das experiências terrenas. Nossos órgãos e faculdades espirituais, por sua vez, nos abrem as portas para um universo mais vasto, povoado por outras consciências e regido por leis que a ciência material ainda não compreende totalmente.

A mediunidade é uma das manifestações mais evidentes dessa nossa capacidade de interagir com o mundo espiritual, sendo o perispírito o elo fundamental nessa comunicação, mediado pelos fluidos espirituais. Compreender essa intrincada relação entre corpo, perispírito e Espírito é essencial para a nossa jornada de autoconhecimento e para o nosso progresso espiritual, conforme nos ensina a Doutrina Espírita.

Referências Bibliográficas:

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
  • OLIVEIRA, Therezinha. Mediunidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima